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Crítica

Lana Del Rey

: "Chemtrails Over The Country Club"

Ano: 2021

Selo: Interscope / Polydor

Gênero: Rock, Pop, Folk Rock

Para quem gosta de: Weyes Blood e Lykke Li

Ouça: White Dress e Let Me Love You Like a Woman

8.0
8.0

Lana Del Rey: “Chemtrails Over The Country Club”

Ano: 2021

Selo: Interscope / Polydor

Gênero: Rock, Pop, Folk Rock

Para quem gosta de: Weyes Blood e Lykke Li

Ouça: White Dress e Let Me Love You Like a Woman

/ Por: Cleber Facchi 25/03/2021

O tempo é um componente fundamental na obra de Lana Del Rey e Chemtrails Over The Country Club (2021, Interscope / Polydor) é um bom exemplo disso. Livre de qualquer traço de urgência, o sucessor de Norman Fucking Rockwell (2019), grande trabalho da artista norte-americana, transporta o ouvinte para um território marcado pela leveza dos arranjos, uso calculado das vozes e completa ausência de pressa. São ambientações minimalistas, captações etéreas, ruídos e instantes de evidente vulnerabilidade, conceito que incorpora parte da psicodelia empoeirada dos antecessores Ultraviolence (2014) e Honeymoon (2015), porém, partindo de uma nova e delicada abordagem criativa, conceito que embala a experiência do ouvinte durante toda a execução do material.

Mais uma vez acompanhada de Jack Antonoff (Lorde, Taylor Swift), com quem tem trabalhado desde o álbum anterior, a cantora estabelece no reducionismo dos arranjos o estímulo para o fortalecimento dos versos. “Quando eu era uma garçonete, trabalhando no turno da noite / Você era meu homem, senti que consegui isso … Se eu pudesse fazer tudo de novo / Porque me fez sentir como se eu fosse uma deusa“, confessa na introdutória White Dress, composição em que reflete de forma nostálgica sobre o próprio passado, antes da fama, e sintetiza parte do lirismo entristecido que serve de sustento ao trabalho. São memórias enevoadas, romances fracassados e instantes de doce melancolia, como um acumulo das experiências vividas pela artista nos últimos anos.

Uma vez imersa nesse cenário, Antonoff divide as criações da cantora em dois blocos específicos. No primeiro e mais expressivo deles, estão composições marcadas pelo uso de temas acústicos e melodias bucólicas que apontam diretamente para a produção dos anos 1970. São músicas como Let Me Love You Like A Woman, Not All Who Wander Are Lost e a própria faixa-título do disco. Instantes em que a artista incorpora parte do material entregue no álbum anterior, porém, partindo de uma base essencialmente econômica, doce, como um diálogo com a obra de veteranas como Karen Dalton e Joni Mitchell. Não por acaso, Lana decide regravar For Free, canção originalmente lançada por Mitchell como parte do cultuado Ladies of the Canyon (1970), mas que aqui se completa pelas vozes das convidadas Zella Day e Weyes Blood.

Vem justamente desse primeiro grupo de canções algumas da melhores e mais sensíveis faixas já apresentadas pela artista. Preciosidades como Wild at Heart e Breaking Up Slowly em que os sentimentos vividos pela cantora parecem transbordar, inundando o disco com a habitual melancolia que embala as criações da norte-americana desde a estreia com Born To Die (2012). Parte desse resultado vem justamente do esforço de Antonoff em explorar ao máximo o uso dos vocais, proposta que rompe com a linguagem arrastada dos primeiros trabalhos de estúdio. De fato, poucas vezes antes a voz assumiu uma posição destaque tão evidente dentro da obra de Lana, minúcia que se reflete tão logo o álbum tem início, em White Dress, e segue até a já citada releitura de For Free.

Já o bloco seguinte, representado pelo pop eletrônico de Tulsa Jesus Freak, diz respeito ao lado sintético, mas não menos expressivo da obra. São canções que alternam entre o trip hop e o R&B, fazendo da inserção calculada das batidas um complemento aos versos lançados pela cantora. Mesmo o uso do auto-tune ecoa de forma estratégica, como uma sutil perturbação da base etérea que serve de sustento ao disco. Nesse espaço marcado pelas possibilidades, surgem ainda faixas como Dance Till We Die, composição que perverte a essência do restante do álbum, mergulhando em camadas de guitarras, batidas e metais que não apenas potencializam tudo aquilo que foi apresentado em Norman Fucking Rockwell, como deixa o caminho aberto para os futuros lançamentos da artista.

Conceitualmente amplo, mesmo na forte aproximação entre as faixas, Chemtrails Over The Country Club é apenas um trabalho que exige tempo até se revelar por completo para o ouvinte. Sem necessariamente romper com o material explorado em Norman Fucking Rockwell, Lana Del Rey assume um percurso ainda mais intimista dentro da própria discografia, mergulhando na composição de faixas que parecem cercar e confortar o ouvinte lentamente. São delicadas camadas instrumentais que confessam algumas das principais referências criativas da artista, porém, estabelecem na força dos sentimentos, medos e histórias compartilhadas ao longo da obra uma extensão natural de tudo aquilo que a cantora tem produzido desde os primeiros registros autorais.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.