Image
Crítica

Låpsley

: "Through Water"

Ano: 2020

Selo: XL Recordings

Gênero: R&B, Pop, Eletrônica

Para quem gosta de: London Grammar e James Blake

Ouça: Ligne 3, My Love Was Like Rain e Womxn

7.5
7.5

Låpsley: “Through Water”

Ano: 2020

Selo: XL Recordings

Gênero: R&B, Pop, Eletrônica

Para quem gosta de: London Grammar e James Blake

Ouça: Ligne 3, My Love Was Like Rain e Womxn

/ Por: Cleber Facchi 09/04/2020

Quando deu vida aos primeiros registros autorais, ainda na década passada, Holly Lapsley Fletcher, a Låpsley, parecia simplesmente seguir a trilha melancólica de outros nomes recentes do R&B britânico. Canções pontuadas pelo uso de temas eletrônicos, melodias sintéticas e ruídos ocasionais, estímulo para o trabalho de conterrâneos como James Blake e Jessie Ware, mas que ganhou novo significado no misto de soul e pop minimalista da artista de Southport, conceito reforçado durante a entrega do confessional Long Way Home (2016).

Quatro anos após o lançamento do álbum que revelou músicas como Hurt Me e Love Is Blind, a cantora faz de Through Water (2020, XL Recordings), segundo e mais recente registro de inéditas, uma natural continuação do material entregue no disco anterior. São canções sempre regidas pela força dos sentimentos e versos sempre intimistas, postura reforçada tão logo o disco tem início, no experimentalismo da faixa-título, e segue até a derradeira Speaking Of The End, uma das criações mais sensíveis da artista inglesa.

Todas as cartas que escrevi / Todas as fotos que tirei / Cada ingresso … Não é fácil deixar ir, não é tão simples / Alguém que você ama“, desaba em Ligne 3, quarta faixa do disco e um indicativo claro do sufocamento sentimental que orienta as experiências do ouvinte até o último verso do trabalho. São memórias ainda recentes de relacionamentos fracassados, instantes de profundo isolamento e a permanente busca do eu lírico por um novo amor, como uma extensão natural do repertório entregue em Long Way Home.

Não por acaso, Låpsley fez de My Love Was Like The Rain uma das primeiras músicas do disco a serem apresentadas ao público. Do tratamento dado às batidas e sintetizadores, sempre econômicos, passando pela força dos versos, tudo parece pensado para cercar e confortar o ouvinte, convidado a mergulhar nas vivências e temas sentimentais compartilhados pela cantora britânica. “Lembra quando você disse / Meu amor era como uma rosa / Não é a flor doce / Mas a dor que arranha sua mão“, canta em meio a versos metafóricos, sempre detalhistas, estrutura que se reflete em outros momentos ao longo da obra.

São canções como Womxn, Sadness In a Shade of Blue e Bonfire que preservam parte da identidade criativa detalhada no disco anterior, porém, se permitem avançar criativamente, provando de versos sempre acessíveis e temas instrumentais que parecem dialogar com uma parcela ainda maior do público. Nada que prejudique a capacidade de Låpsley em utilizar de melodias quebradas e inserções atmosféricas que seguem uma estrutura pouco convencional, vide o uso curioso da voz, em First, e a ja citada colagem de ideias que embala a música de abertura.

Com base nessa estrutura, a Låpsley entrega ao público um álbum que preserva a essência dos antigos registros autorais, porém, encontra na profunda entrega dos versos um importante componente de transformação criativa. Canções que transitam em meio a ambientações detalhistas (Our Love Is a Garden), vozes tratadas como um instrumento (First) e batidas tortas (Womxn), sempre irregulares, como se a artista inglesa fizesse da incerteza que embala os próprios sentimentos um estímulo para a composição da obra.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.