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Crítica

Lightning Bug

: "A Color of The Sky"

Ano: 2021

Selo: Fat Possum

Gênero: Indie, Dream Pop, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Beach House e Cocteau Twins

Ouça: The Right Thing Is Hard To Do e The Return

7.8
7.8

Lightning Bug: “A Color of The Sky”

Ano: 2021

Selo: Fat Possum

Gênero: Indie, Dream Pop, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Beach House e Cocteau Twins

Ouça: The Right Thing Is Hard To Do e The Return

/ Por: Cleber Facchi 15/07/2021

Você já teve a sensação de flutuar ouvindo um disco? Mesmo que o contato com a realidade permaneça estável durante toda a execução A Color of The Sky (2021, Fat Possum), difícil não se deixar conduzir pelas vozes etéreas e ambientações oníricas que embalam o terceiro e mais recente álbum de estúdio do grupo nova-iorquino Lightning Bug. Sequência ao material entregue no também delicado October Song (2019), o registro de dez faixas alcança um ponto de equilíbrio entre a poesia melancólica da cantora e compositora Audrey Kang e os arranjos cuidadosamente detalhados pelos músicos Kevin Copeland, Logan Miley, Dane Hagen e Vincent Puleo. Canções que oscilam entre a fuga da realidade e a completa imersão em temas dolorosos como abandono, distanciamento e solidão.

Então os anos se passaram e eu / Encontrei diferentes maneiras de me esconder / Eu aprendi a mentir / E manter as coisas que senti por dentro“, canta Kang, em The Right Thing Is Hard To Do, uma das primeiras composições do disco a serem apresentadas ao público e uma clara representação de tudo aquilo que a artista norte-americana busca desenvolver ao longo da obra. São fragmentos sentimentais que costuram passado e presente de forma essencialmente honesta, como se a compositora em nenhum momento poupasse o ouvinte dos mínimos detalhes. Um precioso exercício criativo que potencializa o mesmo lirismo confessional que tem sido incorporado pela artista desde o introdutório Floaters (2015), primeiro registro de estúdio produzido pelo Lightning Bug.

A principal diferença em relação aos antigos trabalhos da banda, principalmente October Song, está na forma como o grupo busca garantir maior homogeneidade e refinamento ao disco. Como indicado logo nos primeiros minutos da obra, em The Return, cada componente do material se entrelaça em uma nuvem de sons e melodias borbulhantes que parecem envolver o ouvinte. São incontáveis camadas instrumentais, batidas e vozes submersas que evocam as criações de veteranos como Galaxie 500 e Cocteau Twins, porém, partindo de uma linguagem própria do grupo nova-iorquino. Um lento desvendar de ideias, experiências sentimentais e sensações, proposta que vai da força dos instrumentos ao uso dos versos e temas sutilmente incorporados por Kang ao longo do registro.

O resultado desse processo está na entrega de músicas que se revelam ao público em uma medida própria de tempo, sem pressa, valorizando cada fragmento instrumental e poético compartilhado pela banda. É o caso de Wings of Desire. Enquanto Kang mergulha em questões existencialistas – “Meu coração é feito de água / Meu coração é feito de chamas / Se é minha própria mão que me caça / Então quem sou eu para culpar?” –, camadas de guitarras e texturas ocasionais garantem maior profundidade ao material. São estruturas labirínticas, como se pensadas para a completa imersão do ouvinte, convidado a explorar todas as nuances desse cenário mágico. Um exercício meticuloso que se reflete com naturalidade até a música de encerramento do disco, The Flash.

Interessante notar que mesmo dotado de um caráter atmosférico, A Color of The Sky em nenhum momento soa como uma obra arrastada. E isso fica bastante evidente não apenas na distribuição das faixas ao longo do disco, como na formação de músicas turbulentas que surgem em momentos estratégicos da obra. Exemplo disso acontece em Song Of The Bell, composição que preserva o caráter etéreo do restante do álbum, porém, amplia o uso das batidas e guitarras carregadas de efeitos, como um aceno para as criações de veteranos como Slowdive. A própria I Lie Awake, minutos à frente, utiliza de uma abordagem bastante similar, convidando o ouvinte a mergulhar em um oceano de distorções e ruídos orquestrados que refletem o completo domínio do quinteto.

Mesmo pontuado por momentos de maior euforia e ruptura criativa, A Color of The Sky em nenhum momento ultrapassa o que parece ser um limite pré-definido pela banda. É como se o quinteto pudesse ampliar a força e impacto da própria obra, conceito bastante explícito em músicas como a já citada Song Of The Bell, porém, dentro de um estado de aparente conforto. Nesse sentido, o trabalho de essência confessional avança em relação aos dois primeiros registros do quinteto, mas ainda parece incapaz de alcançar o mesmo refinamento estético e potência explícita em outros exemplares em que o grupo busca inspiração. Composições que se espalham em meio a melodias enevoadas e formas flutuantes, preparando o terreno para voos talvez maiores e mais complexos.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.