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Crítica

Little Simz

: "Sometimes I Might Be Introvert"

Ano: 2021

Selo: Age 101 / AWAL

Gênero: Hip-Hop, Rap, Neo-Soul

Para quem gosta de: Noname e Slowthai

Ouça: Introvert e Woman

8.0
8.0

Little Simz: “Sometimes I Might Be Introvert”

Ano: 2021

Selo: Age 101 / AWAL

Gênero: Hip-Hop, Rap, Neo-Soul

Para quem gosta de: Noname e Slowthai

Ouça: Introvert e Woman

/ Por: Cleber Facchi 13/09/2021

Sometimes I Might Be Introvert (2021, Age 101 / AWAL) é a passagem para um universo particular de Little Simz. Retroacrônimo do verdadeiro nome da compositora inglesa, Simbi, o registro de essência grandiosa nasce como um acumulo natural de tudo aquilo que a artista descendente de nigerianos vem produzido em mais de uma década de carreira. São composições que resgatam parte expressiva dos sentimentos, medos e inquietações vividas pela rapper, porém, partindo de uma abordagem que não apenas referencia o próprio trabalho, como dialoga de maneira expressiva com as criações de nomes importantes que a influenciaram, caso de Busta Rhymes, Nas e Ms. Lauryn Hill.

As pessoas pensam que sou rude, anti-social ou estranha porque não sou tagarela. Sou uma pessoa introvertida, que tem todos esses pensamentos malucos, ideias e teorias na minha cabeça, e nem sempre sinto que sou capaz de expressá-los se não for por meio da minha arte“, comentou em entrevista ao The Guardian. Vem justamente desse desejo em explorar os próprios pensamentos e conflitos internos o estímulo para grande parte das composições que embalam o presente álbum. São fragmentos sentimentais, autobiográficos e intimistas, porém, espalhados sem ordem aparente, rompendo com a forte homogeneidade explícita nas canções do antecessor Gray Area (2019).

E isso fica bastante evidente logo na sequência de abertura do trabalho, na trinca composta por Introvert, Woman e Two Worlds Apart. São pouco mais de dez minutos em que a rapper britânica reflete sobre o peso da fama e as próprias conquistas (“Projetando intenções direto de meus pulmões / Eu sou uma mulher negra e tenho orgulho“), celebras as mulheres que tanto a influenciaram (“Senhoras do Brooklyn, saibam que você se esforçam diariamente / Inovando assim como Donna Summer nos anos 80“) e rima sobre o amor de forma sempre provocativa (“Quem diria que o amor seria tão tóxico?“), apontando a pluralidade de elementos seguida até a derradeira Miss Understood.

O que aproxima todas essas ideias, assim como no material apresentado em Gray Area, é a produção minuciosa de Inflo. Parceiro de longa data da artista, o produtor que já trabalhou com nomes como Sault e Michael Kiwanuka, estabelece no uso de temas orquestrais, coros de vozes e fragmentos empoeirados de músicas dos anos 1950 e 1960, a base para grande parte das canções. Exemplo disso acontece na já conhecida I Love You, I Hate You, música que parte de uma base marcada pela riqueza dos arranjos e melodias para mergulhar em uma letra marcada pelo forte caráter existencialista, como uma síntese natural de tudo aquilo que a rapper busca desenvolver ao longo do trabalho.

O problema é que com a chegada de The Rapper That Came to Tea, na segunda metade do trabalho, Simz e Inflo rompem parcialmente com essa estrutura. Longe do refinamento instrumental e minuciosa seleção dos samples, a dupla transita por entre ritmos de forma totalmente irregular, torta. Instantes em que a artista vai da rima crua de Rollin Stone, em que relembra a passagem pela cidade de São Paulo, ao pop nostálgico de Protect My Energy, tornando confusa a experiência do ouvinte. Surgem ainda músicas como Fear No Man, em que se entrega aos ritmos nigerianos, como uma possível sobra de estúdio do último álbum do Sault, Nine (2020), do qual foi colaboradora.

Entretanto, como indicado pela rapper durante toda a execução do trabalho, Sometimes I Might Be Introvert funciona justamente como um incessante fluxo de ideias e quebras conceituais. Do momento em que tem início, em Introvert, até alcançar a música de encerramento, Miss Understood, cada mínimo fragmento da obra estabelece na permanente sobreposição dos elementos um precioso componente de estímulo e fortalecimento para o registro. É como se Simz buscasse conter parte dessas emoções na porção inicial do disco, preparando o ouvinte para a enxurrada de informações que transitam de forma imprevisível, ainda que totalmente hipnótica, na metade seguinte.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.