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Crítica

Loma

: "Don’t Shy Away"

Ano: 2020

Selo: Sub Pop

Gênero: Indie Rock, Dream Pop, Art Rock

Para quem gosta de: Yo La Tengo, Low e The Antlers

Ouça: Ocotillo e Half Silences

7.8
7.8

Loma: “Don’t Shy Away”

Ano: 2020

Selo: Sub Pop

Gênero: Indie Rock, Dream Pop, Art Rock

Para quem gosta de: Yo La Tengo, Low e The Antlers

Ouça: Ocotillo e Half Silences

/ Por: Cleber Facchi 20/11/2020

Em 2018, quando os integrantes do Loma deram vida ao primeiro trabalho de estúdio da banda, Emily Cross e seus parceiros, o multi-instrumentista e engenheiro de som Dan Duszynski e Jonathan Meiburg, também integrante do Shearwater, fizeram dos próprios sentimentos a base para cada uma das composições que recheiam o homônimo registro. São desilusões amorosas, relacionamentos fracassados e instantes de profunda vulnerabilidade, proposta que tem início na atmosférica Who Is Speaking?, com suas guitarras espaçadas e vozes etéreas, mas que acaba se refletindo de forma melancólica até a faixa de encerramento do álbum, Black Willow.

Dois anos após a entrega do registro que ainda revelou faixas como Joy e Relay Runner, o grupo segue de onde parou com o também delicado Don’t Shy Away (2020, Sub Pop). Naturalmente íntimo do mesmo som atmosférico que apresentou o trabalho do Loma, o álbum que conta com co-produção de Brian Eno preserva a essência do disco que o antecede, porém, se permite avançar criativamente, provando de novas possibilidades dentro de estúdio. São incontáveis camadas instrumentais e texturas de guitarras que se conectam diretamente aos versos detalhados dentro de cada canção.

Não por acaso, o trio inaugura o disco com a dobradinha composta por I Fix My Gaze e Ocotillo. Enquanto a música de abertura resgata a atmosfera detalhada no álbum anterior, com a faixa seguinte, Cross e seus parceiros apontam a direção seguida em Don’t Shy Away. Da construção das guitarras ao uso das batidas e vozes, cada elemento reflete o esforço do grupo em se reinventar criativamente. Um labirinto sensorial que se completa pelos pianos de Jenn Wasner, do Wye Oak, e toda uma frente de músicos que recheiam a canção com instrumentos de sopros e pequenos acréscimos.

A mesma riqueza de detalhes acaba se refletindo em outros momentos ao longo da obra. São músicas como Elliptical Days e Breaking Waves Like a Stone em que o grupo utiliza da colisão de ideias como estímulo para composição das faixas. Instantes em que a voz enevoada de Cross evoca as canções do Cocteau Twins, porém, percorre o mesmo território sombrio de veteranos como Low e Yo La Tengo, efeito direto das guitarras acinzentadas que ganham forma em uma medida própria de tempo. Composições que revelam algumas das principais referências do trio, porém, preservando a própria identidade.

Em se tratando dos versos, Don’t Shy Away é um trabalho ainda mais abrangente do que o registro que o antecede. Durante toda a execução da obra, Cross se aprofunda em questões existencialistas, medos e conflitos pessoais, rompendo com o romantismo agridoce que parecia orientar o álbum anterior. “Quando eu me retiro / Da foto / Quando eu me reduzo / Eu te vejo o mesmo / E eu não consegui encontrar meu caminho / Fora desse sentimento“, canta em Half Silences, canção que sintetiza parte desse lirismo melancólico que embala a experiência do ouvinte até o último segundo do disco.

Mesmo pontuado por instantes de evidente acerto, Don’t Shy Away é uma obra que exige tempo e dedicação até se revelar por completo. De fato, são poucos os momentos em que o grupo organiza suas ideias de forma direta, o que talvez desagrade ao ouvinte mais apressado. Com excessão de músicas como Elliptical Days e Ocotillo, tudo parece seguir em uma medida própria de tempo. Entretanto, uma vez imerso nesse cenário consumido por guitarras atmosféricas, melodias e vozes etéreas, difícil não se deixar conduzir pelo andamento particular que sutilmente define as criações da banda.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.