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Crítica

Bat For Lashes

: "Lost Girls"

Ano: 2019

Selo: AWAL

Gênero: Indie, Dream Pop, Synthpop

Para quem gosta de: M83, Lykke Li e Anna Calvi

Ouça: Kids In The Dark e Feel For You

7.0
7.0

“Lost Girls”, Bat For Lashes

Ano: 2019

Selo: AWAL

Gênero: Indie, Dream Pop, Synthpop

Para quem gosta de: M83, Lykke Li e Anna Calvi

Ouça: Kids In The Dark e Feel For You

/ Por: Cleber Facchi 10/09/2019

Estranho pensar em Lost Girls (2019, AWAL) como um registro declaradamente inspirado pela música e a cultura dos anos 1980. Afinal, não é isso que Natasha Khan tem produzido desde o início da carreira no Bat For Lashes? Seja no amadurecimento artístico explícito em Two Suns (2009), ou na atmosfera densa de The Haunted Man (2012), cada novo fragmento criativo que embala o trabalho da cantora e compositora britânica parece revisitar a obra de veteranas como Kate Bush e Stevie Nicks de forma particular. Um permanente olhar para o passado, mas que ganha ainda mais destaque nas canções do presente disco.

Sequência ao conceitual The Bride (2016), obra em que narra a melancolia de uma noiva ao perder o homem amado horas antes da cerimônia de casamento, Lost Girls parte de uma mesma base temática como estímulo para a composição dos versos. Trata-se de um disco inspirado pela década de 1980 e cidade de Los Angeles, onde Khan gravou parte expressiva da obra. Um registro para “dirigir no escuro; de mãos dadas ao pôr do sol; pulando de pontes com vampiros; andando de bicicleta pela lua“, escreveu no texto de apresentação do trabalho, indicando parte da atmosfera que rege o álbum.

Não por acaso, Khan escolheu Kids In The Dark como música de abertura do trabalho. Concebida em meio a sintetizadores e temas atmosféricos que contam com co-produção de Charles Scott IV, a faixa se revela aos poucos, cercando e transportando o ouvinte para dentro da obra. “Andando pelos pinheiros / Vejo você na luz vermelha / E tudo está pegando fogo … Vamos nos jogar / Onde começa o amor / Onde somos apenas crianças no escuro“, canta em um misto de confissão romântica e versos que passeiam em meio a paisagens descritivas, típicas da cidade que serve de inspiração ao disco.

Observado de forma atenta, Lost Girls é uma obra inteira sobre isso: ambientação. Seja na composição dos versos, sempre embriagados pela nostalgia e memórias de um passado distante, ou na formação dos arranjos, tudo parece trabalhado de forma atmosférica. Exemplo disso ecoa com naturalidade em The Hunger. Do uso dos sintetizadores à lenta inserção das batidas e vozes, perceba como Khan parece trabalhar em uma medida própria de tempo, arrastando o ouvinte para dentro do núcleo climático da obra. São paisagens instrumentais e instantes de doce melancolia que voltam a se repetir em músicas como Jasmine e a derradeira Mountains, faixa que parece saída do disco anterior.

Dos poucos momentos em que parece romper com essa estrutura, Khan naturalmente convida o ouvinte a dançar. São faixas como Feel For You, com sua poesia cíclica e sintetizadores pegajosos, lembrando o The Knife no início da carreira. Em Safe Tonight, oitava composição do disco, melodias e vozes que se revelam aos poucos, porém, dialogam com as pistas de maneira sutil, proposta que faz lembrar de Mr. Twin Sister, TOPS e outros coletivos recentes que tem revisitado a música empoeirada dos anos 1970 e 1980.

Por vezes exaustivo, efeito da forte similaridade na composição dos arranjos e uso caricatural dos sintetizadores, Lost Girls peca pelo excesso de nostalgia, porém, captura a atenção do ouvinte pela sensibilidade dos versos assinados por Khan. São canções de amor, instantes de doce contemplação e poemas intimistas que fazem da infância da artista britânica um elemento de imediato diálogo com o ouvinte. Um precioso exercício temático, como uma tentativa clara de Bat For Lashes em se reinventar mesmo dentro de um estilo há muito explorado por outros artistas.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.