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Crítica

Lost Horizons

: "In Quiet Moments"

Ano: 2021

Selo: Bella Union

Gênero: Indie, Rock Alternativo, Dream Pop

Para quem gosta de: Cocteau Twins, Loma e Beach House

Ouça: One For Regret e Every Beat That Passed

7.3
7.3

Lost Horizons: “In Quiet Moments”

Ano: 2021

Selo: Bella Union

Gênero: Indie, Rock Alternativo, Dream Pop

Para quem gosta de: Cocteau Twins, Loma e Beach House

Ouça: One For Regret e Every Beat That Passed

/ Por: Cleber Facchi 23/03/2021

In Quiet Moments (2021, Bella Union) é um disco feito para ser absorvido aos poucos, sem pressa. Produto da parceria entre o multi-instrumentista e produtor Simon Raymonde, fundador do selo Bella Union e ex-integrante do Cocteau Twins, e o parceiro Richie Thomas, que já colaborou com nomes importantes como The Jesus and Mary Chain, o segundo álbum do Lost Horizons ganha forma em uma medida própria de tempo. São canções que se espalham em um intervalo de mais de 70 minutos de duração, valorizando cada inserção instrumental ou mínimo fragmento de vozes que se completa pela chegada de um time seleto de artistas vindos dos mais variados campos da música.

Sequência ao material entregue em Olajá (2017), obra que revelou músicas como Score The SkyFrenzy, Fear e I Saw The Days Go By, In Quiet Moments encanta justamente por romper com o caráter homogêneo do material entregue há quatro anos. É como se cada composição explorada pela dupla britânica ao longo do disco incorporasse uma abordagem criativa diferente. São canções que preservam a relação de Raymonde com o mesmo dream pop que apresentou o Cocteau Twins no início dos anos 1980, porém, mergulhando em uma série de novas possibilidades. Um lento desvendar de ideias e experiências sentimentais que tingem com parcial ineditismo cada novo movimento do álbum.

Exemplo disso acontece na trinca composta por I Woke Up With an Open Heart, Grey Tower e Linger, logo na abertura do disco. São pouco mais de 14 minutos em que o ouvinte passeia em meio a reverberações nostálgicas que vão do reggae ao pós-punk, do rock alternativo ao uso de temas atmosféricos, estrutura que se completa pelos arranjos e vozes do coletivo The Hempolics, o ex-integrante do Midlake, o cantor Tim Smith, e a novata Gemma Dunleavy. Instantes em que Raymonde e Thomas vão de um canto a outro da música de forma deliciosamente inexata, conceito que embala a experiência do ouvinte até a derradeira This Is the Weather, colaboração com Karen Peris.

Mesmo regido pela busca por novas possibilidades, In Quiet Moments em nenhum momento se distancia da base etérea incorporada pela dupla no disco anterior. Perfeita representação desse resultado acontece em Every Beat That Passed. Completa pela participação da cantora e compositora sueca Julia Ringdahl, do Kavi Kwai, a faixa ganha forma em meio a camadas de guitarras e vozes tratadas como instrumentos, conceito que naturalmente aponta para obras como Heaven or Las Vegas (1990), do próprio Cocteau Twins. A própria Heart Of A Hummingbird, minutos à frente, utiliza da mesma abordagem, crescendo em meio a camadas de sintetizadores e harmonias enevoadas.

Entretanto, é justamente quando alcança um ponto de equilíbrio entre o material apresentado em Olajá e a busca por novas possibilidades de In Quiet Moments que o álbum evidencia seus melhores momentos. Síntese desse resultado pode ser percebido em em One For Regret. Bem-sucedido encontro com Dana Margolin, do Porridge Radio, a canção preserva a essência delirante do Lost Horizons, porém, estabelece na crueza da artista norte-americana a passagem para um novo território criativo. Do uso das guitarras à imposição da voz, tudo soa como uma extensão do material entregue em Every Bad (2020). Esse mesmo direcionamento nostálgico, porém, partindo de uma abordagem transformadora, acaba se refletindo na própria faixa-título do álbum, canção que vai do pós-rock ao soul, efeito direto da participação de Ural Thomas.

Se por um lado essa busca por novas possibilidades garante ao ouvinte uma obra essencialmente ampla, por outro, o excesso de composições torna a experiência de ouvir o trabalho bastante arrastada. É necessário tempo e uma boa dose de esforço até que o álbum seja totalmente absorvido. Entretanto, uma vez imerso no interior do registro e ignorados os pequenos excessos de In Quiet Moments, difícil não se deixar conduzir pelo material entregue pelos. dois artistas. Canções que partem do completo refinamento instrumental de Raymonde e Thomas, porém, estabelecem no permanente diálogo diferentes colaboradores a passagem para um disco que muda de direção a cada novo movimento da dupla.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.