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Crítica

LUMP

: "Animal"

Ano: 2021

Selo: Partisan / Chrysalis

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Bat For Lashes e Jenny Hval

Ouça: Animal e Gamma Ray

8.0
8.0

LUMP: “Animal”

Ano: 2021

Selo: Partisan / Chrysalis

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Bat For Lashes e Jenny Hval

Ouça: Animal e Gamma Ray

/ Por: Cleber Facchi 11/08/2021

Conhecida pelo trabalho marcado pelo reducionismo dos elementos e completa entrega sentimental, Laura Marling decidiu provar de novas possibilidades quando, há cinco anos, conheceu o multi-instrumentista Mike Lindsay e deu vida ao paralelo LUMP. O resultado dessa transformação criativa está nas sete composições que abastecem o homônimo registro de estreia da dupla britânica. São faixas como Curse of the Contemporary e Late To The Flight que se espalham em meio a momentos de maior experimentação e quebras conceituais, como uma soma das ideias e experiências vividas por cada colaborador, proposta que ganha ainda mais destaque com a chegada de Animal (2021, Partisan / Chrysalis), segundo e mais recente álbum de estúdio produzido pelos dois instrumentistas.

Conceitualmente pensado como uma obra homogênea, onde cada composição abre passagem para a música seguinte, Animal, diferente do registro que o antecede, reflete o completo equilíbrio da parceria entre Marling e Lindsay. Enquanto a cantora assume a construção dos versos, melodias e vozes, o multi-instrumentista e líder do coletivo Tunng busca potencializar a forte carga emocional e temas incorporados pela artista ao longo do álbum. Claro que isso não interfere no forte caráter exploratório do trabalho. Do momento em que tem início, em Bloom at Night, cada fragmento do disco oferece à dupla inglesa a possibilidade de testar os próprios limites dentro de estúdio.

E isso fica bastante evidente na música de encerramento do trabalho, Phantom Limb. Enquanto a letra da canção foi montada a partir de trechos de jornais e frases recortadas por Marling ao longo dos anos, camadas de guitarras, sintetizadores e efeitos encolhem e crescem a todo instante, como um reforço ao direcionamento torto dado aos versos. Próxima ao fechamento, a faixa ainda abre espaço para que a artista detalhe os créditos do disco, citando desde instrumentos utilizados no processo de criação aos colaboradores. “Lump é o produto / Lump é o produto“, repete em um misto de mantra e permanente desconstrução da própria obra, proposta que naturalmente evoca as criações de Laurie Anderson, vide a forte similaridade com o material apresentado em Big Science (1982).

Interessante notar que mesmo regido pelo forte caráter experimental, Animal concentra uma série de composições essencialmente acessíveis, como uma fuga do parcial hermetismo que parecia consumir o álbum anterior. Exemplo disso acontece na própria faixa-título do álbum. Da letra marcada pelo explícito desejo – “Cabelo no travesseiro / Sangue na camisa / Pedaços de amor / Vestígios de sujeira” –, passando pelo encaixe da bateria e uso dos sintetizadores, cada elemento da canção parece pensado para seduzir o ouvinte. Mesmo criações como a atmosférica Gamma Ray, logo na abertura do disco, refletem a capacidade de Marling e Lindsay em capturar a atenção do público, investindo na construção de versos cíclicos, harmonias de vozes e arranjos sempre atrativos.

Vem justamente desse equilíbrio entre o que há de mais acessível e torto no som produzido pela dupla o estímulo para algumas das principais composições do disco. É o caso de Paradise. São pouco mais de quatro minutos em que Marling e Lindsay parecem jogar com os instantes, investindo na construção de uma faixa que se divide em diferentes atos, quebras e momentos de curioso delírio. O mesmo direcionamento se reflete na já conhecida We Cannot Resist, música que parte de uma base nostálgica, íntima do pop dos anos 1980, porém, cresce em meio ambientações soturnas e vozes instrumentais, conceito que se reflete em diversos momentos ao longo do trabalho.

Concebido em um intervalo de poucos meses, Animal mostra a capacidade de cada colaborador em se reinventar criativamente, rompendo com parte do material entregue em suas carreiras paralelas. Enquanto Marling deu vida ao ainda recente Song For Our Daughter (2020), de onde vieram composições como Held Down e The End of The Affair, Lindsay esteve diretamente envolvido com o curioso Presents … Dead Club (2020). Entretanto, ao entrar em estúdio para a produção do presente disco, evidente é o esforço em testar os próprios limites. São canções marcadas pelo permanente cruzamento de informações, sobreposições estéticas e referências que passeiam pelos mais variados campos da música, como uma soma das vivências e sentimentos das duas metades do LUMP.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.