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Crítica

Maria Luiza Jobim

: "Casa Branca"

Ano: 2019

Selo: Independente

Gênero: Indie Pop, Synthpop, MPB

Para quem gosta de: Mahmundi, Silva e Pratagy

Ouça: Fotossíntese e Casa Branca

7.5
7.5

Maria Luiza Jobim: “Casa Branca”

Ano: 2019

Selo: Independente

Gênero: Indie Pop, Synthpop, MPB

Para quem gosta de: Mahmundi, Silva e Pratagy

Ouça: Fotossíntese e Casa Branca

/ Por: Cleber Facchi 13/11/2019

Ouvir as canções de Casa Branca (2019, Independente), primeiro álbum de Maria Luiza Jobim em carreira solo, é como se transportar para dentro de um universo particular. Concebido a partir de memórias da infância, cenas e acontecimentos mundanos, o registro de oito músicas utiliza dessa leveza como um delicado componente de diálogo com o ouvinte. Frações instrumentais e poéticas que se espalham em meio cenas puramente descritivas, estrutura que orienta a experiência do ouvinte até a faixa de encerramento do disco, Antonia, composição inspirada pelo nascimento da primeira filha da cantora e compositora carioca.

Tudo que lembro dos meus sonhos / O corredor / A sala de estar / Todas as tarde de Nintendo / Os filmes que fizemos“, canta logo nos primeiros minutos do disco, na autointitulada faixa de abertura da obra. São versos consumidos pela forte nostalgia, conceito que naturalmente preserva a identidade criativa da cantora, porém, estimula os sentimentos e a memória de qualquer jovem adulto. Um misto de passado e presente, proposta que tem sido aprimorada pela artista desde as primeiras canções no extinto Opala, projeto comandado em parceria com o músico Lucas de Paiva (Mahmundi, Séculos Apaixonados).

Parte dessa leveza vem justamente da escolha da cantora em trabalhar ao lado do experiente Kassin (Los Hermanos, Clarice Falcão) na produção do disco. São melodias eletrônicas que ora apontam para o pop empoeirado dos anos 1980, ora dialogam com o universo onírico detalhado pelo próprio músico em Sonhando Devagar (2011). Um lento desvendar de ideias e experiências sentimentais, conceito reforçado com naturalidade na mágica Fotossíntese. Composta em parceria com Lucas Vasconcellos, a canção se espalha em meio a sintetizadores, guitarras eletrônicas e a linha de baixo sempre destacada, como um complemento aos versos doces lançados pela artista.

O mesmo esmero na composição dos arranjos e versos acaba se refletindo na minimalista Sonhos, terceira faixa do disco. São delicadas camadas instrumentais que mais ocultam do que parecem revelar, como um reforço ao direcionamento econômico dado ao disco. “Mais um dia vai terminar / Logo a gente vai se perder / Nesse sonho, livro, filme, nem sei / Eu acordo do seu lado / Outra vez“, cresce a voz de Jobim, sempre alternando entre a melancolia e a profunda entrega sentimental, direcionamento também explícito em Incêndios e, principalmente, Corpo e Calor, canção que parece saída de algum disco de Mahmundi.

Dos poucos momentos em que perverte a base eletrônica do disco, Jobim e seus parceiros de estúdio se permitem provar de novas possibilidades. É o caso de Meditation, sexta faixa do álbum. Originalmente composta por Tom Jobim, pai da cantora, e o músico Newton Mendonça, a canção se espalha em meio a camadas de um piano cristalino e vozes ecoadas, como uma interpretação etérea de clássicos da bossa nova. Mesmo a já citada Antonia, no encerramento do registro, parte de um direcionamento acústico, como uma propositada fuga do restante da obra.

Marcado pela leveza dos arranjos, melodias e vozes, Casa Branca funciona como um delicado exercício de apresentação por parte de Maria Luiza Jobim. Da composição das versos às histórias sutilmente narradas pela artista, do romantismo triste ao doce território nostálgico desbravado durante toda a execução da obra, tudo soa como um avanço claro em relação ao material entregue pela cantora no pop eletrônico do Opala. Canções marcadas pela profunda entrega sentimental da artista, porém, naturalmente íntimas do ouvinte, efeito do lirismo honesto que se reflete até o último instante do trabalho.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.