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Crítica

Marrakesh

: "Knots"

Ano: 2021

Selo: Tmwrk Records

Gênero: Dream Pop, Indie, Pop Psicodélico

Para quem gosta de: Terno Rei, Boogarins e Glue Trip

Ouça: To Comprehend e Trippin'

7.5
7.5

Marrakesh: “Knots”

Ano: 2021

Selo: Tmwrk Records

Gênero: Dream Pop, Indie, Pop Psicodélico

Para quem gosta de: Terno Rei, Boogarins e Glue Trip

Ouça: To Comprehend e Trippin'

/ Por: Cleber Facchi 19/01/2021

Os sintetizadores nostálgicos que tomam conta de To Comprehend, faixa de abertura em Knots EP (2021, Tmwrk Records), são mais do que suficientes para que o ouvinte seja transportado para dentro do novo trabalho da Marrakesh. Camadas instrumentais que surgem e desaparecem durante toda a execução da faixa, estrutura que se completa pelo uso fragmentado das vozes, melodias e guitarras tortas, proposta que preserva parte do material entregue pelo grupo curitibano no primeiro álbum de estúdio, Cold as a Kitchen Floor (2018), porém, partindo de um novo e necessário direcionamento criativo.

Queríamos ter uma abordagem mais objetiva em relação à estética. Como se prezássemos a espontaneidade acima de qualquer tipo de planejamento prévio”, resume o texto de apresentação do EP, registro que conta com produção dividida entre Pedro Soares e os próprios membros da banda, Bruno Tubino (voz e guitarra), Lucas Cavallin (voz e guitarra), Daniel Tupy (voz e baixo), Thomas Berti (voz, guitarra e sintetizadores) e Matheus Castella (voz e bateria). Exemplo claro dessa fluidez está na música seguinte, Anymore. São retalhos conceituais que vão do pop psicodélico ao trap, jogando com a interpretação do ouvinte do primeiro ao último instante do registro. A própria letra da canção, centrada em diferentes relações pessoais, parece contribuir para esse conceito amplo adotado pelo quinteto.

É como se diferentes obras, referências e conceitos fossem condensados dentro de cada composição, tornando a experiência de revisitar o álbum sempre satisfatória. Síntese desse criativo processo de transformação pode ser percebido em Trippin’, terceira faixa do disco. Inaugurada em meio a guitarras psicodélicas e melodias espaçadas, a canção rapidamente assume novos rumos. Um misto de canto e rima que se completa pelo uso destacado dos sintetizadores e batidas eletrônicas, proposta que ameniza nos momentos finais, porém, mantém firme o som detalhista e versatilidade que há tempos embala as criações da banda.

Interessante perceber na canção seguinte, Euthanasia, uma parcial fuga do restante da obra. Enquanto a base instrumental segue uma estrutura linear, instantes de doce melancolia orientam a formação dos versos do primeiro ao último instante da composição, como se os sentimentos aflorassem de maneira considerável. “Eu não preciso de nenhum tempo sozinho / Me perdoe, me perdoe, volte para mim, me ligue de volta“, implora a voz que alterna entre momentos de maior limpidez e captações deliciosamente submersas, como um reforço natural ao lirismo angustiado que move a faixa.

É partindo justamente desse tom melancólico que o quinteto abre passagem para a faixa de encerramento do disco, Evil Eye. Do tratamento dado aos sintetizadores e vozes, passando pelo caráter confessional dos versos, tudo parece pensado para envolver o ouvinte. “Eu tenho vinte mil demônios / Sussurrando alto em meus ouvidos / Cada pedaço de mim está vagando descontroladamente / E acho que nunca serei verdadeiramente livre“, cresce a letra da canção. É como se o grupo resgatasse o que há de mais sensível em algumas das principais composições de Cold as a Kitchen Floor, como Carry You e Late Blue, porém, preservando a identidade torta do presente EP.

Nesse sentido, Knots funciona como um precioso ponto de transição para o quinteto. Enquanto preserva parte da essência melódica detalhada nas canções de Cold as a Kitchen Floor, camadas de sintetizadores, texturas e batidas inexatas apontam a direção para os futuros lançamentos da banda. Instantes em que o grupo tende ao experimentalismo e se permite brincar com as possibilidades dentro de estúdio, porém, carrega nos versos um precioso componente de diálogo com o ouvinte, convidado a reviver as experiências sentimentais e conflitos vividos pelos próprios integrantes.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.