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Crítica

Mary Lattimore

: "Silver Ladders"

Ano: 2020

Selo: Ghostly International

Gênero: Instrumental, Música Ambiente, Art Pop

Para quem gosta de: Julianna Barwick e Grouper

Ouça: Sometimes He’s In My Dreams e Pine Trees

8.0
8.0

Mary Lattimore: “Silver Ladders”

Ano: 2020

Selo: Ghostly International

Gênero: Instrumental, Música Ambiente, Art Pop

Para quem gosta de: Julianna Barwick e Grouper

Ouça: Sometimes He’s In My Dreams e Pine Trees

/ Por: Cleber Facchi 23/10/2020

Mágico, assim pode ser resumido o material entregue por Mary Lattimore em Silver Ladders (2020, Ghostly International). Mais recente trabalho de estúdio da harpista e compositora norte-americana, o sucessor do também delicado Hundreds of Days (2018), mostra a capacidade da artista em jogar com a interpretação do público. São delicadas camadas instrumentais que se espalham em um labiríntico conjunto de sons e melodias etéreas. Canções que partem da base erudita de Lattimore, porém, sutilmente se permitem dialogar com diferentes campos da música, estrutura que torna a experiência de ouvir a obra sempre imprevisível.

Perfeita representação desse resultado ecoa com naturalidade logo nos primeiros minutos do disco, em Pine Trees. Partindo de um dedilhado limpo, Lattimore garante ao público uma faixa que é acrescida aos poucos de incontáveis camadas instrumentais, sintetizadores e ambientações sempre detalhistas. É como se cada novo movimento orquestrado pela musicista transportasse o ouvinte para um novo território criativo, estrutura que preserva a essência dos antigos trabalhos, porém, se permite avançar criativamente, mudando de direção a todo instante.

Parte desse desejo de renovação vem da escolha da própria Lattimore em trazer Neil Halstead como co-produtor do disco. Conhecido pelo trabalho como guitarrista do Slowdive, o músico britânico assume a função de ampliar conceitualmente a sonoridade da artista, convidando o ouvinte a mergulhar em camadas e mais camadas de distorção, melodias sintéticas e inserções pontuais que saltam aos ouvidos durante toda a execução da obra. Exemplo disso acontece na própria faixa-título do álbum, quando a música da harpista floresce em um colorido arranjo de pequenos detalhes.

De fato, são essas incontáveis texturas e efeitos que tornam a experiência de ouvir o trabalho tão satisfatória. São músicas como Thirty Tulips e Sometimes He’s In My Dreams em que Lattimore e Halstead parecem se desfiar dentro de estúdio, partindo de uma arquitetura minimalista para revelar ao público uma colisão de formas e ambientações quase turbulentas. “Neil realmente não me disse o que estava fazendo em detalhes, apenas tocou uma guitarra linda e irreal em algumas faixas, e acrescentou brilho extra quando descrevi o que estava ouvindo em minha mente – camadas super brilhantes e saturadas de harpa“, respondeu em entrevista ao Merry-Go-Round Magazine, detalhando parte do processo de composição do disco.

Mesmo a harpa de Lattimore, componente central em grande parte da discografia da musicista, corre em segundo plano em diversos momentos ao longo da obra, evidenciando a busca da artista em desconstruir antigos conceitos. É o que acontece em Chop on the Climbout, quinta música do disco. Marcada pelo uso de sintetizadores e abstrações etéreas, a faixa convida o ouvinte a se perder em um cenário totalmente novo dentro da extensa obra da norte-americana. São ambientações densas e fortes, porém, salpicadas por melodias cristalinas, contraste que se reflete em outros momentos ao longo da álbum, como na extensa Don’t Look e na já citada Thirty Tulips.

Evidente ponto de transformação dentro da obra de Lattimore, Silver Ladders nasce como o produto final de uma sequência colaborações recentes da musicista com outros compositores. É o caso do ainda recente New Rain Duets (2019), trabalho assinado em parceria com Mac McCaughan, do Superchunk, além de uma série de encontros que vão de Jónsi à Julianna Barwick. São diálogos e aproximações pontuais que não apenas ampliam os horizontes musicais da artista, como antecipam uma série de conceitos e pequenas experimentações que parecem melhor exploradas nas canções do presente álbum.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.