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Crítica

Matt Berninger

: "Serpentine Prison"

Ano: 2020

Selo: Book Records

Gênero: Rock, Rock Alternativo, Soul

Para quem gosta de: The National e Bon Iver

Ouça: Serpentine Prison e One More Second

7.6
7.6

Matt Berninger: “Serpentine Prison”

Ano: 2020

Selo: Book Records

Gênero: Rock, Rock Alternativo, Soul

Para quem gosta de: The National e Bon Iver

Ouça: Serpentine Prison e One More Second

/ Por: Cleber Facchi 29/10/2020

Durante mais de duas décadas, Matt Berninger foi a figura responsável por interpretar os sentimentos, dores e desilusões amorosas vividas por cada um dos integrantes do The National. Dono de uma voz única, o cantor e compositor norte-americano mergulhou de cabeça em um oceano de doce melancolia, estímulo para a composição de registros como os cultuados Sad Songs for Dirty Lovers (2003), High Violet (2010) e o mais devastador deles, Trouble Will Find Me (2013). Uma seleção de obras regidas pela completa angústia dos versos, tratamento que volta a se repetir no primeiro álbum do artista em carreira solo, Serpentine Prison (2020, Book Records).

De essência confessional, como tudo aquilo que Berninger tem produzido desde os primeiros registros com o The National, o trabalho de atmosfera cinza ganha forma aos poucos, como se o artista revelasse cada elemento de maneira sempre detalhista e sensível. “Quando eu te vejo, algo triste vai desaparecendo / Eu paro de chorar, deito e ouço / Eu ouço sua voz e meu coração cai junto / Por favor volte, me faça sentir melhor“, clama na introdutória My Eyes Are T-Shirts, composição que sintetiza parte dos temas incorporados pelo artista até a chegada da derradeira faixa-título da obra.

São canções em que Berninger se aprofunda na própria melancolia, resgatando uma série de elementos, temas e experiências originalmente testados em Trouble Will Find Me. Exemplo disso acontece na já conhecida Distant Axis. Uma das primeiras composições do álbum a serem reveladas ao público, a faixa ganha forma em meio a orquestrações sublimes, movimentos calculados do violão, ruídos e texturas atmosféricas. São fragmentos instrumentais que parecem pensados para alavancar os versos delicadamente encaixados pelo artista. “Se apenas você, se apenas você viesse / Em torno do eixo distante / Eu faria o que você quisesse“, canta.

O mesmo tratamento acaba se refletindo em outros momentos ao longo da obra. São faixas como Oh Dearie e All For Nothing, em que o cantor não apenas preserva, como amplia tudo aquilo que o The National tem produzido desde o início da carreira. Composições que partem de uma base econômica, crescem de forma a acompanhar os versos detalhados pelo artista e morrem de forma melancólica. Uma estrutura que naturalmente deve agradar aos antigos seguidores do músico, mas que acaba se revelando o principal defeito do álbum, sempre previsível e monotemática, como se Berninger fosse incapaz de ir além de velhos conceitos.

Entretanto, isso não quer dizer que Berninger seja incapaz de garantir ao público momentos de maior transformação e ruptura criativa. É o caso da soturna Silver Springs, música que parece saída da trilha sonora de Twin Peaks, efeito direto da presença de Gail Ann Dorsey, dona da voz que invade a canção. A própria One More Second, apresentada ao público há poucos meses, evidencia o flerte do artista com o soul, gênero que volta a reverberar em outros momentos ao longo da obra, resultado da produção de Booker T. Jones, veterano da cena norte-americana que já trabalhou ao lado de nomes importantes como Otis Redding e Neil Young. 

Obra de sentimentos, como tudo aquilo que o cantor tem produzido há mais de duas décadas, Serpentine Prison se divide entre a sutil busca por novas possibilidades criativas e o reforço ao lirismo melancólico de Berninger. É como se o músico resgatasse uma série de elementos que fizeram dele conhecido ao longo dos anos, porém, detalhando movimentos sutis que incorporam diferentes temáticas, sonoridades e direções. Um exercício que tende ao conforto na maior parte do tempo, mas que em nenhum momento deixa de emocionar o ouvinte, efeito direto da poesia confessional que tradicionalmente define as criações do artista.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.