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Crítica

Maya Hawke

: "Blush"

Ano: 2020

Selo: Mom + Pop

Gênero: Folk, Pop Rock, Indie Folk

Para quem gosta de: Soccer Mommy e She & Him

Ouça: By Myself e Coverage

7.0
7.0

Maya Hawke: “Blush”

Ano: 2020

Selo: Mom + Pop

Gênero: Folk, Pop Rock, Indie Folk

Para quem gosta de: Soccer Mommy e She & Him

Ouça: By Myself e Coverage

/ Por: Cleber Facchi 28/08/2020

Canções de amor, conflitos intimistas e instantes de profunda entrega sentimental. Em Blush (2020, Mom + Pop), estreia da cantora, compositora e atriz Maya Hawke, cada fragmento do álbum gira em torno de experiências vividas pela artista norte-americana. São versos simples, porém, sempre sensíveis, como um acumulo de tudo aquilo que a filha de Uma Thurman e Ethan Hawke tem vivido nos últimos anos, conceito que embala formação do registro do momento em que tem início, na confessional Generous Heart, e segue até o último segundo da obra, no minimalismo acústico de Mirth.

Você está no meu corpo, na minha casa, eu posso / Arrastar você em direção ao meu coração generoso / Mas estou derramando em torno de você, eu preciso / Da sua ajuda, eu não posso tratar tudo como um frenesi“, se entrega logo nos primeiros minutos do trabalho. São fragmentos dotados de uma linguagem universal, como se Hawke, também atriz na série Stranger Things, fosse capaz de dialogar com diferentes faixas do público sem grandes dificuldades. Canções que vão da descoberta de um novo amor à completa solidão, proposta que reflete o completo domínio da artista em relação à própria obra.

Dentro desse cenário marcado pela força dos sentimentos, surgem faixas como a delicada Coverage, canção em que transforma as incertezas de um relacionamento em um precioso componente lírico. “Existem tons que você não pode substituir / com blush ou tristezas ou luzes ou graça / Aqui é onde eu coloco minha confiança“, confessa. São versos intimistas, sensíveis, estrutura que se completa pela fina composição dos arranjos, sempre marcados pelo reducionismo dos elementos e acréscimos pontuais. É como se tudo fosse pensado para valorizar cada verso compartilhado pela artista.

Exemplo disso acontece em By Myself, terceira faixa do disco. Do uso dos pianos, passando pelas camadas de guitarras e batidas, cada elemento da canção é apresentado ao público de forma sutil, como um complemento à poesia de Hawke, nunca em oposição à ela. O mesmo tratamento acaba se refletindo em outros momentos ao longo da obra. Canções como Bringing Me Down e Goodbye Rocketship, em que os arranjos jamais ultrapassam um limite pré-definido pela cantora e seu principal parceiro de estúdio, o produtor Jesse Harris, artista que já trabalhou com nomes como Bright Eyes e Norah Jones.

Entretanto, mesmo nesse universo reducionista que define a obra, Hawke garante ao público um limitado conjunto de faixas que pervertem parte dessa estrutura. É o caso de Animal Enough, música que valoriza o uso das guitarras e batidas fortes, conceito que se relaciona diretamente com a poesia densa da canção, como uma fuga do restante do disco. A própria Cricket, próxima ao encerramento do álbum, reflete a busca da artista por novas possibilidades. São coros de vozes e camadas de guitarras que rompem de forma expressiva com os temas acústicos que embalam a experiência do ouvinte.

O resultado desse processo está na entrega de um registro essencialmente seguro. É como Hawke soubesse exatamente que direção seguir dentro de estúdio, jogando de maneira sutil com as possibilidades. Composições que detalham algumas das principais referências criativas da cantora, vide a forte similaridade com os primeiros registros de Joni Mitchell, porém, estabelecem no lirismo agridoce um precioso componente de identidade. Instantes em que a cantora vai do conforto à busca por novos caminhos criativos, assumindo todos os riscos e certezas típicas de um álbum de estreia.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.