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Crítica

Muzz

: "Muzz"

Ano: 2020

Selo: Matador

Gênero: Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: The National e Interpol

Ouça: Red Western Sky e Broken Tambourine

7.5
7.5

Muzz: “Muzz”

Ano: 2020

Selo: Matador

Gênero: Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: The National e Interpol

Ouça: Red Western Sky e Broken Tambourine

/ Por: Cleber Facchi 10/06/2020

Longe do Interpol, Paul Banks tem feito do encontro com diferentes instrumentistas e compositores a passagem para um universo de novas possibilidades. São registros como Anything But Words (2016), inusitada colaboração com o rapper RZA, do Wu-Tang Clan, ou mesmo os paralelos Julian Plenti is… Skyscraper (2009) e Banks (2012), trabalhos em que contou com a interferência direta de um seleto time de músicos da cena nova-iorquina. Nada que se compare ao material entregue no homônimo disco de estreia do Muzz, projeto em que divide os créditos com os músicos e parceiros de longa data Matt Barrick (The Walkmen, Fleet Foxes) e Josh Kaufman (The National, Bonny Light Horseman).

Primeiro álbum de estúdio de Banks desde o bom Marauder (2018), sexto registro de inéditas do Interpol, o trabalho preserva parte da essência soturna do grupo que apresentou o músico britânico, porém, se permite avançar criativamente, provando de novas possibilidades e ritmos. Exemplo disso está na própria música de abertura do disco, Bad Feeling. São versos tristes que se espalham em uma cama arranjos econômicos, conceito que acaba se refletindo em outros momentos ao longo da obra. “Nós somos muito antigos, é isso que todo o silêncio significa / A velocidade percorre toda a geração, tormento de facilidade / Tanto tempo, tanto tempo, sentimento ruim“, canta enquanto metais e um coro de vozes assumido por Annie Nero e Cassandra Jenkins ganha forma ao fundo da composição.

O mesmo tratamento acaba se refletindo mais à frente, na delicada Broken Tambourine. Faixa mais extensa do disco, a canção ganha forma em meio a orquestrações sublimes, guitarras trabalhadas de forma atmosférica e vozes complementares. Instantes em que Banks e seus parceiros de banda regressam ao mesmo território criativo de obras como Turn on the Bright Lights (2002), porém, em uma estrutura menos urbana, quase bucólica. O próprio canto de pássaros que ocasionalmente surge ao longo da canção parece reforçar esse mesmo direcionamento estético. Uma lenta manipulação das experiências que tem início na formação dos arranjos e segue em cada fragmento poético detalhado pelo artista.

Entretanto, para além de uma estrutura linear, a estreia do Muzz encanta justamente pela forma como o trio administra pequenas cargas de ruídos e faixas menos comedidas. É o caso de Knuckleduster. Marcada pela urgência das batidas e guitarras, a música não apenas perverte a estrutura contida que orienta o restante da obra, como transporta o ouvinte para um território marcado pela força dos arranjos e vozes destacadas de Banks. Mesmo Red Western Sky, com suas melodias sofisticadas, metais e pianos, em nenhum momento parece pensada para confortar o ouvinte, jogando com as possibilidades a cada novo movimento da bateria de Barrick.

Claro que tamanho detalhismo e entrega na formação dos versos não interfere na produção de músicas esquecíveis, principalmente na segunda metade do disco. São canções como Chubby Checker, Summer Love e Trinidad em que o trio investe na composição de um som cada vez mais formatado e acústico, rompendo com a variedade de estilos e minúcia que caracteriza o bloco inicial do registro. De fato, a estreia do Muzz segue como uma obra livre de grandes surpresas, visto que todas as principais faixas do álbum, como Red Western Sky, Broken Tambourine e Knuckleduster, foram previamente apresentadas pelo grupo nos últimos meses.

Mesmo pontuado por momentos de evidente desequilíbrio, o homônimo debute do Muzz segue como o registro mais interessante de Paul Banks desde Our Love to Admire (2007). Da formação dos arranjos aos temas narrados dentro de cada composição, difícil não se deixar guiar pela força dos sentimentos, melodias e versos derramados pelo trio de colaboradores. São canções marcadas pelo isolamento, conflitos intimistas e profunda entrega de cada realizador, como se Banks, Barrick e Kaufman transportasse para dentro de estúdio o que há de melhor em seus respectivos projetos paralelos.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.