Image
Crítica

Nana Yamato

: "Before Sunrise"

Ano: 2021

Selo: Dull Tools

Gênero: Indie Pop, Bedroom Pop, Indie Rock

Para quem gosta de: SASAMI, Jay Som e Soccer Mommy

Ouça: Burning Desire e Do You Wanna

7.5
7.5

Nana Yamato: “Before Sunrise”

Ano: 2021

Selo: Dull Tools

Gênero: Indie Pop, Bedroom Pop, Indie Rock

Para quem gosta de: SASAMI, Jay Som e Soccer Mommy

Ouça: Burning Desire e Do You Wanna

/ Por: Cleber Facchi 11/02/2021

Sempre movimentadas, durante os primeiros meses da pandemia de Covid-19, as ruas de Tóquio, capital do Japão, foram completamente esvaziadas. Uma vez imersa nesse cenário desolador, a cantora e compositora Nana Yamato encontrou a base criativa para o primeiro álbum em carreira solo, Before Sunrise (2021, Dull Tools). Produzido e gravado pela artista durante o período de isolamento social, o trabalho que teve todos os instrumentos tocados pela jovem musicista serve de passagem para um território dominado pela força dos sentimentos e constante sensação de abandono do eu lírico, conceito que se reflete durante toda a execução da registro.

E isso se reflete logo nos primeiros minutos do disco, em Do You Wanna. Enquanto camadas de sintetizadores, ruídos e batidas se revelam ao público em pequenas doses, Yamato questiona: “Você quer ficar sozinho? / Você quer ser alguém?“, indicando a atmosfera melancólica que serve de sustento ao disco. São versos sempre existencialistas e instantes em que artista japonesa utiliza das próprias inquietações como componente de dialogo com o ouvinte, elemento que embala com naturalidade a experiência do público até a música de encerramento do álbum, a ruidosa The Day Song.

Com letras ora cantadas em inglês, ora cantadas em japonês, Yamato estabelece as bases para um território que parece desvendado em essência por ela mesma. A própria imagem de capa, com a artista acompanhada de personagens que parecem amigos imaginários, contribui para esse direcionamento temático. O resultado de todo esse processo está na entrega de faixas sempre diminutas, caso da já conhecida If, além de outras preciosidades como Under The Cherry Moon, Gaito e todo um fino repertório marcado pela poesia vulnerável e evidente entrega da compositora.

Entretanto, o grande acerto da obra está na capacidade da artista em transitar por momentos de maior melancolia e faixas deliciosamente ensolaradas. Exemplo disso pode ser percebido logo nos primeiros minutos do disco, em Burning Desire. Longe do minimalismo imposto às primeiras composições, Yamato investe em uma faixa que parece maior a cada nova audição. São camadas de guitarras, batidas e sintetizadores que emulam naipes de metais, proposta que aponta para o trabalho de contemporâneas como Jay Som, SASAMI, Soccer Mommy e outros nomes do bedroom pop.

O mesmo tratamento acaba se refletindo em outros momentos ao longo da obra. São canções como Fantasy e Voyage at Merci em que Yamato rompe co qualquer traço de morosidade, transportando o disco para um novo território criativo. Até a melancólica faixa-título, com suas melodias delicadas, revela ao público um universo de pequenos detalhes. São ambientações dominadas pelo uso das guitarras e camadas de distorção que parecem apontar para as criações de veteranos como Cocteau Twins, The Sundays e demais artistas que se destacaram no início dos anos 1990.

Embora completo pela produção e mixagem de Jonathan Schenke (Parquet Courts, Liars), Before Sunrise cresce como um exercício particular de Yamato. Da construção dos arranjos aos temas explorados pela cantora, tudo funciona como uma representação da alma, medos e experiências solitárias vividas pela artista nos últimos meses. Canções que partem sempre de uma mesma base reducionista, produto das limitações e escolhas da compositora japonesa, mas que acabam crescendo na forma como os sentimentos e conflitos vividos ao longo da obra se conectam com as histórias de qualquer ouvinte.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.