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Crítica

OHMME

: "Fantasize Your Ghost"

Ano: 2020

Selo: Joyful Noise Recordings

Gênero: Indie Rock, Indie Pop, Art Rock

Para quem gosta de: St. Vincent e Tune-Yards

Ouça: 3 2 4 3, Ghost e Selling Candy

7.7
7.7

OHMME: “Fantasize Your Ghost”

Ano: 2020

Selo: Joyful Noise Recordings

Gênero: Indie Rock, Indie Pop, Art Rock

Para quem gosta de: St. Vincent e Tune-Yards

Ouça: 3 2 4 3, Ghost e Selling Candy

/ Por: Cleber Facchi 11/06/2020

Vozes incorporadas como instrumentos, guitarras carregadas de efeitos e a bateria sempre complementar, precisa, posicionada exatamente onde deveria estar. Em Fantasize Your Ghost (2020, Joyful Noise Recordings), segundo e mais recente álbum de estúdio do OHMME, cada elemento entregue por Sima Cunningham e Macie Stewart parece cuidadosamente tratado pela dupla de Chicago dentro de estúdio. Canções que preservam e ao mesmo tempo pervertem parte da identidade criativa detalhado no antecessor Parts (2018), como um precioso mosaico de ideias tortas e experiências sentimentais que se revelam ao público em pequenas doses, sem pressa.

Claramente pensado para as apresentações ao vivo da banda, Fantasize Your Ghost, assim como o registro que o antecede, é uma obra concebida em camadas. São sobreposições de guitarras, ruídos controlados e pequenas ambientações que servem de alicerce para a inserção das vozes. Canções que partem de uma estrutura econômica, mas que estranhamente parecem maiores a cada nova audição, efeito direto do tratamento dado a cada elemento de maneira sempre destacada, como holofotes sensoriais que mudam de direção a todo instante, conduzindo a experiência do ouvinte dentro da obra.

Exemplo disso ecoa com naturalidade em Ghost, terceira faixa do disco. Da inserção dos arranjos, passando pelo encaixe minucioso das batidas e camadas de distorção, todos os elementos são trabalhados de forma fracionada, como partes de um processo que converge para o coro de vozes nos momentos finais da canção. O mesmo direcionamento acaba se refletindo em outros momentos ao longo do álbum, como nas orquestrações de Spell It Out ou no rock torto de Flood Your Gut. Difícil não lembrar do tratamento dado ao também econômico Masseduction (2017), registro pensado para ser reproduzido apenas por St. Vincent, uma guitarra e uma bateria eletrônica nas apresentações ao vivo da cantora.

Claro que essa estrutura pré-definida não interfere na produção de faixas marcadas pelo experimentalismo dos arranjos. Perfeita representação desse resultado ecoa com naturalidade em Some Kind of Calm. Música mais extensa do disco, a canção ganha forma em meio a camadas de ruídos, delírios e improvisos deliciosamente estranhos, como uma permanente fuga do restante da obra. Mesmo 3 2 4 3, com sua letra acessível, segue uma estrutura bastante particular quando comparada ao bloco inicial do álbum. São guitarras incertas que se espalham em meio a orquestrações e vozes caóticas, jogando com a interpretação do público.

É justamente esse ponto de equilíbrio entre a minúcia dos elementos e a propositada ruptura de ideias que torna a experiência de ouvir Fantasize Your Ghost tão satisfatória. Instantes em que a dupla norte-americana parte de uma base pré-definida, talvez segura, porém, se permite mergulhar em um universo de novas possibilidades. Dessa forma, mesmo músicas como a tímida After All, composição que transporta o registro para o pop dos anos 1960, ganha novo significado quando próxima de músicas experimentais como Sturgeon Moon e a já citada Some Kind of Calm.

Feito para ser revisitado, Fantasize Your Ghost é o típico caso de um registro que cresce a cada nova audição. Mesmo que a primeira metade do trabalho pareça estruturalmente confortável em uma seleção de músicas bastante similares, produto do molde temático adotado pelas duas guitarristas, à medida em que o álbum avança, e diferentes estruturas são apresentadas, o resultado passa a ser outro. Um misto de acolhimento e doce agitação criativa, como se do universo conceitual desbravado durante o lançamento de Parts, Cunningham e Stewart se permitissem ir além, ampliando os limites da própria obra.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.