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Crítica

Ólafur Arnalds

: "Some Kind of Peace"

Ano: 2020

Selo: Mercury

Gênero: Música Ambiente, Instrumental

Para quem gosta de: Nils Frahm e Sigur Rós

Ouça: Loom, Back To The Sky e The Bottom Line

8.0
8.0

Ólafur Arnalds: “Some Kind of Peace”

Ano: 2020

Selo: Mercury

Gênero: Música Ambiente, Instrumental

Para quem gosta de: Nils Frahm e Sigur Rós

Ouça: Loom, Back To The Sky e The Bottom Line

/ Por: Cleber Facchi 25/11/2020

Sempre detalhista, Ólafur Arnalds fez de cada novo trabalho de estúdio um exercício de profunda entrega e minúcia na composição dos arranjos. De encontros com nomes importantes, como os conterrâneos do Sigur Rós e Rhye, passando pela série de obras autorais que se acumulam desde a segunda metade dos anos 2000, cada novo registros entregue pelo multi-instrumentista, compositor e produtor de 34 anos parece pensado para envolver o ouvinte. São canções adornadas pelo uso de temas orquestrais, mas que, vez ou outra, se permitem provar de pequenas experimentações eletrônicas.

E é exatamente isso que Arnalds busca desenvolver em Some Kind of Peace (2020, Mercury). Primeiro trabalho de estúdio desde o material entregue em re:member (2018), obra que ganhou maior atenção da mídia especializada e apresentou as criações do músico islandês a uma nova parcela do público, o registro de dez faixas segue de onde o artista parou há dois anos. São canções de essência atmosférica, conceito que se reflete não apenas nas texturas e ambientação eletrônica que sutilmente envolvem o disco, mas, principalmente, na forma como o compositor administra cada mínimo fragmento instrumental.

Exemplo disso acontece na sensível We Contain Multitudes. Uma das primeiras composições do disco a serem entregues ao público, a faixa inaugurada em meio a diálogos abafados cresce à medida que Arnalds detalha incontáveis camadas de pianos e ruídos gerados a partir do movimento das teclas. É como se tudo fosse transformado em música nas mãos do artista, conceito que se reflete até a derradeira Undone. São canções que partem de uma arquitetura minimalista, porém, revelam ao público um universo de pequenos detalhes e formas instrumentais sempre mutáveis.

Claro que isso está longe de parecer uma surpresa para quem há tempos acompanha as criações de Arnalds. Da mesma forma que Nils Frahm, um de seus principais parceiros de criação, o músico islandês estabelece no reducionismo dos arranjos a passagem para um trabalho que exige ser desvendado pelo ouvinte. É como se diferentes obras fossem condensadas dentro de um único registro, porém, despidas de possíveis excessos. Perfeita representação desse resultado pode ser percebida em faixas como New Grass e Woven Song. Instantes em que o artista utiliza de delicadas camadas instrumentais como estímulo para o fortalecimento do álbum.

A principal diferença em relação aos antigos trabalhos do músico, como o antecessor re:member, está na forma como o compositor se permite dialogar com um seleto time de colaboradores ao longo da obra. Logo na abertura do trabalho, é o britânico Simon Green, o Bonobo, que chama a atenção com seus ruídos e ambientações sintéticas, ampliando tudo aquilo que o próprio Arnalds vem produzindo no paralelo Kiasmos, parceria com Janus Rasmussen. Mais à frente, em Back To The Sky, são as vozes da conterrânea Jófríður Ákadóttir, a JFDR, que chamam a atenção, servindo de passagem para o repertório aprimorado na posterior The Bottom Line, bem-sucedido encontro com a cantora e compositora germânica Josin.

Nesse sentido, Some Kind of Peace não apenas se revela como o trabalho mais completo já produzido por Arnalds, como deixa o caminho aberto para os futuros lançamentos do músico islandês. Sem necessariamente perverter a essência minimalista que embala os antigos registros, perceba como o compositor se permite trilhar caminhos pouco convencionais. Do uso destacado das vozes ao maior refinamento nas ambientações e temas eletrônicos, poucas vezes antes o som produzido pelo artista pareceu tão amplo e ainda íntimo de tudo aquilo que tem sido incorporado desde a estreia com o também sofisticado Eulogy for Evolution (2007).


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.