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Crítica

Olívia de Amores

: "Não É Doce"

Ano: 2020

Selo: Independente

Gênero: Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Sammliz, Aíla e Jennifer Souza

Ouça: Post-It, La Cancionera e Sankyo

7.8
7.8

Olívia de Amores: “Não É Doce”

Ano: 2020

Selo: Independente

Gênero: Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Sammliz, Aíla e Jennifer Souza

Ouça: Post-It, La Cancionera e Sankyo

/ Por: Cleber Facchi 06/04/2020

A vida não é doce, mas tem seus momentos menos amargos. É partindo dessa linha de pensamento, que a cantora e compositora amazonense Olívia de Amores entrega ao público o primeiro álbum em carreira solo, Não É Doce (2020, Independente). Concebido a partir de desilusões amorosas, memórias afetivas e instantes de profunda entrega sentimental, o registro produzido em parceria com Bruno Prestes, encontra na delicadeza dos versos um contraponto à visceralidade dos arranjos. Canções que partem de vivências reais como forma de dialogar com o ouvinte, convidado a se perder pelo território particular da artista manauara.

Obra de sentimentos, Não É Doce diz a que veio logo no primeiros minutos, em La Cancionera. “Pra me ver te buscar a qualquer custo / Não, não era justo, não / Agora você vai e faz o que quiser / Com outra mulher“, canta enquanto guitarras fortes se espalham em meio a ambientações latinas e flertes com o rock dos anos 1970. Um misto de passado e presente, estrutura que orienta a experiência do público até a faixa de encerramento, a extensa Brado Apocalíptico. São pouco mais de sete minutos em que a cantora preserva o lirismo confessional do restante do álbum, porém, se entrega ao uso de temas psicodélicos, lembrando as paisagens instrumentais de nomes como Queens of The Stone Age. Incontáveis blocos de ruídos que se entrelaçam em uma medida própria de tempo, sem pressa, como se a artista saboreasse cada nota compartilhada com o ouvinte.

É justamente essa ausência de pressa que torna a experiência de ouvir o trabalho tão satisfatória. São músicas que se espalham em um intervalo de cinco ou seis minutos, revelando delicadas camadas instrumentais, texturas e vozes. Exemplo disso está em Post-It, segunda faixa do álbum. Mesmo entre guitarras que parecem extraídas de algum disco dos Strokes, Olívia entrega ao público uma canção que encolhe e cresce de forma sempre detalhista, jogando com a interpretação do ouvinte. Um lento desvendar de ideias e possibilidades, proposta que se reflete em outros momentos ao longo da obra, como em Janela Remota.

Embora marcado pela turbulência dos arranjos, conceito reforçado em algumas das principais faixas do disco, Não É Doce em nenhum momento se distancia de músicas menores, por vezes regidas pela leveza dos arranjos e vozes cuidadosamente trabalhadas pela cantora. É o caso da semi-acústica Segunda-Feira, canção que desacelera em relação ao restante da obra, porém, mantém firme o preciosismo dos elementos. O mesmo direcionamento contido acaba se refletindo mais à frente, em Sankyu. São guitarras firmes que se espalham em meio a instantes de doce calmaria, estrutura que dialoga diretamente com a letra da canção, uma homenagem da artista à própria avó.

Se por um lado essa propositada ruptura estabelece uma série de respiros necessários para o desenvolvimento da obra, por outro, fortalece o surgimento de faixas que parecem deslocadas do restante do disco. É o caso de Plano Baixo, música que reflete o esmero da guitarrista manauara, porém, pouco se relaciona com o material entregue Não É Doce. São guitarras slide que apontam para o cancioneiro norte-americano, como uma fuga do rock denso que define os momentos de maior acerto do álbum. A própria Mana, com seus sintetizadores destacados, perverte parte da consistência do trabalho, fazendo do uso pontual das guitarras um componente de regresso.

Canções talvez deslocadas, incapazes de dialogar musicalmente, porém, sempre detalhistas, efeito direto do evidente esmero de Olívia de Amores durante toda a execução da obra. Um exercício minucioso que parte do encontro entre a cantora amazonense e o produtor Bruno Prestes, passa pela masterização do norte-americano Steve Fallone (The Strokes, Kacey Musgraves), e segue em cada componente relacionado à obra, como a fantasiosa imagem de capa disco, assinada por David Martins, e toda a série de vídeos, jogo para celular e curta-metragem que serve de complemento ao trabalho.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.