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Crítica

Cuco

: "Para Mi"

Ano: 2019

Selo: Interscope

Gênero: Indie, Bedroom Pop, R&B

Para quem gosta de: Clairo, The Internet e Mac DeMarco

Ouça: Bossa No Sé e Hydrocodone

7.0
7.0

“Para Mi”, Cuco

Ano: 2019

Selo: Interscope

Gênero: Indie, Bedroom Pop, R&B

Para quem gosta de: Clairo, The Internet e Mac DeMarco

Ouça: Bossa No Sé e Hydrocodone

/ Por: Cleber Facchi 31/07/2019

Exageradamente romântico, Omar Banos passou os últimos anos transformando as próprias desilusões na principal matéria-prima para o trabalho como Cuco. O resultado dessa profunda entrega sentimental está na produção de obras como o confessional Songs4u (2017) e, mais recentemente, Chiquito (2017), registro de apenas seis faixas que reflete a completa entrega emocional do jovem músico. São versos de amor, instantes de profunda desilusão e a incerteza que move cada novo relacionamento, estrutura que ganha ainda mais destaque no primeiro álbum de estúdio do cantor e compositor norte-americano, Para Mi (2019, Interscope).

Como indicado no título da obra, parte expressiva do trabalho gira em torno de memórias e experiências recentes do próprio artista. Um misto de dor e aceitação, estrutura que orienta a experiência do ouvinte até o último instante da obra, em Do Better. “Não brinque comigo / Você quebrou meu coração / Mas também sou obcecado por você / Não sei se te amo / Eu não sei se te odeio“, canta em Bossa No Sé, colaboração com Jean Carter em que sintetiza parte do lirismo agridoce refinado no decorrer do álbum.

É a verdade / Eu tenho que encontrar o meu caminho de volta para casa / Eu vou procurar por você / O dia em que estiver sozinho“, reflete em Feelings, outro fino retrato da poesia sentimental que embala o disco. São versos curtos, cíclicos, estrutura que naturalmente aponta para o trabalho de conterrâneos da cena californiana, como Steve Lacy e seus parceiros de banda no The Internet. Composições que se revelam ao público em pequenas doses, como na atmosférica Lovetripper. “Eu sei que é sempre difícil conseguir o que você quer / Outro dia, outra vida, preciso de alguém / Segure minha mão, não me deixe ir“, desaba enquanto sintetizadores e guitarras se espalham aos poucos, sem pressa.

Exemplo disso ecoa com naturalidade em Hydrocodone. Do lento desvendar das batidas ao minucioso jogo de guitarras que correm ao fundo da composição, cada elemento parece trabalhado de forma a alavancar os versos lançados por Cuco. “Estou sentado em meu quarto / Estou sozinha agora / Sentindo sua falta todos os dias / Eu gostaria que você dissesse / Amor eu te amo / Até eu morrer“, canta em um exercício dolorosamente confessional, como se do universo criativo detalhado nas canções de Songs4u, o músico californiano fosse além, mergulhando o ouvinte em um oceano de doce melancolia.

Mesmo dentro desse universo consumido pela dor, Cuco estabelece pequenas brechas criativas em que se entrega ao romantismo sorridente dos versos. “Me diga que você me ama / Me diga que você precisa de mim / Eu me apaixonei novamente“, confessa. São versos acolhedores, leves, estrutura que naturalmente aponta para os últimos trabalhos de estúdio de Tyler, The Creator, caso de Flower Boy (2017) e, principalmente, o ainda recente IGOR (2019), obra que explora todos os espectros de um relacionamento.

Por vezes íntimo de outros exemplares recentes do bedroom pop, como Diary 001 (2018), de Clairo, e Rocket (2017), do cantor e compositor (Sandy) Alex G, Para Mi ganha notoriedade não apenas pela essência latina que orienta parte da atmosfera do disco, mas, principalmente, pela forma como Banos utiliza dos próprios sentimentos e desilusões amorosas para dialogar com o ouvinte. Canções que refletem o romantismo triste de qualquer jovem adulto, como uma extensão natural de tudo aquilo que o músico vinha experimentando nos primeiros registros como Cuco.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.