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Crítica

Mannequin Pussy

: "Patience"

Ano: 2019

Selo: Epitaph Records

Gênero: Indie Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Sheer Mag, Snail Mail e Priests

Ouça: Drunk II e Who You Are

8.0
8.0

“Patience”, Mannequin Pussy

Ano: 2019

Selo: Epitaph Records

Gênero: Indie Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Sheer Mag, Snail Mail e Priests

Ouça: Drunk II e Who You Are

/ Por: Cleber Facchi 11/07/2019

A urgência talvez seja a principal marca do som produzido pelo Mannequin Pussy. Da aceleração explícita no movimento das guitarras, passando pela voz berrada de Marisa Dabice à curta duração de parte expressiva das faixas, evidente é o esforço do grupo de Filadélfia, Pensilvânia, em produzir um registro de essência dinâmica, feito para ser absorvido em uma rápida audição. Interessante perceber nas canções de Patience (2019, Epitaph Records), terceiro e mais recente álbum de estúdio da banda norte-americana, uma obra que preserva esse direcionamento, porém, se permite inovar, avançando criativamente.

Concebido em meio a guitarras rápidas que dialogam com toda a sequência de obras entregues pelo grupo nos últimos anos, como Gypsy Pervert (2014) e Romantic (2016), o trabalho completo pela presença dos músicos Colins Regisford, Kaleen Reading e Athanasios Paul, cresce no evidente esmero explícito na composição dos arranjos e busca declarada do quarteto por um material de essência melódica. Canções que apontam para a rica produção dos anos 1990, vide a forte similaridade com o clássico Exile In Guyville (1993), obra-prima de Liz Phair.

Eu tenho saído quase todas as noites / Eu tenho bebido tudo que posso colocar em minhas mãos / Eu finjo que me divirto … Eu ainda te amo, seu idiota / Mas você não olha para mim, você não fala comigo“, desaba emocionalmente em Drunk II, música que não apenas reflete parte do lirismo agridoce que embala o disco, como o refinamento na composição dos arranjos. São camadas de guitarras e pequenas sobreposições ruidosas que ocupam toda a superfície do registro, estrutura que, inevitavelmente, faz lembrar o trabalho de J Mascis em parte expressiva da recente obra do Dinosaur Jr.

O mesmo refinamento e evidente entrega emocional acaba se refletindo em outros momentos no decorrer da obra. É o caso de High Horse. São pouco menos de três minutos em que guitarras climáticas servem de alicerce para a poesia triste despejada por Dabice. “E se as palavras que eu escrevi tiverem desmoronado / É insegurança, a violência começa a chegar ao meu coração / Como um filme que você não viu / Você está brincando, e eu não concordo“, canta. Um misto de angústia e libertação, estrutura que acaba se refletindo em outros momentos do álbum, como Who You Are e a sorridente In Love Again.

Tamanho cuidado na formação dos arranjos e busca por novas possibilidades não interfere na produção de músicas essencialmente caóticas, por vezes íntimas do material entregue nos dois primeiros álbuns da banda. Exemplo disso ecoa com naturalidade em Cream, música que faz lembrar os últimos trabalhos de grupos como Perfect Pussy e White Lungs. Nada que se compare ao som denso de F.U.C.A.W., nona composição do disco. “O que você disse para mim, garoto? / Venha e cuspa na minha cara“, provoca enquanto guitarras e batidas fortes correm ao fundo da canção.

Trabalho mais completo já produzido pela banda, Patience resgata uma série de conceitos originalmente testados em Gypsy Pervert e Romantic, porém, dentro de uma estrutura renovada, capaz de dialogar com uma parcela maior do público. Parte desse resultado vem da forte interferência do experiente Will Yip, artista que nos últimos anos esteve envolvido em registros como Good Nature (2017), do Turnover, e uma série de outros trabalhos marcados pelo evidente esmero na composição dos arranjos, melodias e harmonias de vozes. Um evidente exercício de refinamento estético que serve de contraste ao som cru originalmente testado pelo Mannequin Pussy.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.