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Crítica

Pearl Charles

: "Magic Mirror"

Ano: 2021

Selo: Kanine Records

Gênero: Rock, Pop Rock, Pop Psicodélico

Para quem gosta de: Jenny Lewis e Faye Webster

Ouça: Don't Feel Like Myself e Only For Tonight

7.7
7.7

Pearl Charles: “Magic Mirror”

Ano: 2021

Selo: Kanine Records

Gênero: Rock, Pop Rock, Pop Psicodélico

Para quem gosta de: Jenny Lewis e Faye Webster

Ouça: Don't Feel Like Myself e Only For Tonight

/ Por: Cleber Facchi 20/01/2021

Magic Mirror (2021, Kanine Records) é um desses trabalhos que capturam a atenção do ouvinte logo em uma primeira audição. Em não poderia ser diferente. Do momento em que tem início, nos teclados e guitarras quase caricaturais de Only For Tonight, música que parece saída de algum disco do ABBA, cada fragmento do segundo e mais recente álbum de estúdio de Pearl Charles funciona como uma viagem em direção ao passado. Da construção dos arranjos ao uso das vozes, tudo soa como uma criativa reciclagem de tendências, obras e referências resgatadas há mais de quatro décadas, conceito que embala a experiência do ouvinte até o último segundo.

E isso se reflete com naturalidade durante toda a sequência de abertura do álbum. São canções como What You Need e Imposter em que Charles parece replicar a essência de veteranos como Fleetwood Mac e The Carpenters de forma sempre detalhista. Um colorido catálogo de ideias que cresce no uso fragmentado das guitarras, pianos e percussão sempre discreta, como um complemento às vozes em coro que passeiam pelo interior do registro. Instantes em que a artista de Los Angeles confessa algumas de suas principais influências, porém, preservando a própria identidade criativa.

Exemplo disso pode ser percebido na melancólica Don’t Feel Like Myself, quarta faixa do disco. Mesmo que pareça dialogar com diferentes nomes do cancioneiro norte-americano, sobrevive no lirismo confessional o estímulo para um dos momentos de maior entrega de Charles, como se própria vulnerabilidade distanciasse a artista de possíveis comparações. “Para descobrir o que estava dentro de mim, tive que deixar minha mente viajar / Deixe-me entrar no sonho, dê um passeio / A resposta apareceu, o tempo todo ela estava lá“, reflete em meio a orquestrações sublimes e pianos sempre delicados.

A própria faixa título, com seus arranjos econômicos e vozes grandiosas, sustenta na força dos versos um dos momentos de maior acerto do álbum. “Espelho mágico, o que posso fazer? / Eu estive perdido dentro de você / Eu sou um ímã para o seu ponto de vista distorcido / Meus olhos são vermelhos, meu coração é azul“, canta. É como se Charles fizesse dos próprios conflitos um importante componente de diálogo com ouvinte, elemento talvez maior do que a própria base nostálgica que serve de sustento ao disco, conceito também explícito em Take Your Time e demais canções ao longo da obra.

De fato, sobrevive na segunda metade do álbum a passagem para o lado mais sensível de Magic Mirror. Para além da euforia que embala o bloco inicial do registro, Charles investe em uma seleção de faixas que trazem de volta o misto de country e pop psicodélico detalhado no introdutório Sleepless Dreamer (2018), estreia da artista californiana. São canções como Sweet Sunshine Wine e As Long As You’re Mine que preservam a essência nostálgica do restante da obra, porém, livres de possíveis associações, como se a cantora emulasse um período inteiro, e não um artista específico.

Dividido entre momentos de maior vulnerabilidade e explícito diálogo com o passado, Magic Mirror cresce como uma obra equilibrada. É como um convite a se perder pela mente da própria artista, conceito reforçado na delicada fotografia que estampa a imagem de capa, mas que ganha ainda mais destaque em cada mínimo fragmento poético que serve de sustento ao disco. Instantes em que Charles preserva tudo aquilo que foi apresentado em Sleepless Dreamer, porém, estabelece no caráter referencial dos arranjos uma forma de dialogar com uma parcela ainda maior do público.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.