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Crítica

Hand Habits

: "Placeholder"

Ano: 2019

Selo: Saddle Creek

Gênero: Indie, Indie Folk

Para quem gosta de: Lucy Dacus e Angel Olsen

Ouça: What Lovers Do e Placeholder

7.6
7.6

“Placeholder”, Hand Habits

Ano: 2019

Selo: Saddle Creek

Gênero: Indie, Indie Folk

Para quem gosta de: Lucy Dacus e Angel Olsen

Ouça: What Lovers Do e Placeholder

/ Por: Cleber Facchi 06/03/2019

A última vez que ouvi sua voz / Palavras que eu não pude compreender / Como milhares de anos de respostas / Gritando na minha cabeça“. Os versos tristes lançados por Meg Duffy logo nos primeiros minutos de Placeholder (2019, Saddle Creek) sintetizam com naturalidade o percurso melancólico que há tempos vem sendo explorado pela cantora e compositora norte-americana. São poemas consumidos pela saudade, isolamento e medo, como uma sequência dolorosa ao material entregue pela artista durante a produção do antecessor Wildly Idle (Humble Before The Void) (2017).

Libertador e amargo na mesma medida, o registro que conta com co-produção de Brad Cook (The Mountain Goats, Waxahatchee) faz dos sentimentos despejados por Duffy a base para um trabalho que rapidamente dialoga com o ouvinte. Canções marcadas pelo lento distanciamento entre os indivíduos e a clara tentativa da guitarrista em exorcizar antigos demônios, tristeza que orienta a experiência do ouvinte até o verso final da derradeira The Book on How to Change Part II.

Um grande aspecto das minhas composições e a maneira como me movimento pelo mundo depende do meu relacionamento com as pessoas. Estas são todas histórias reais. Eu quase não faço ficção“, respondeu no texto de apresentação da obra. De fato, basta um rápido passeio pelo álbum para perceber a riqueza dos detalhes e memórias vivas que embalam a formação de músicas como Jessica (“Quebrada, eu vi o que o amor pode fazer … Jessica, eu esqueço / Você quebrou minha realidade“) e Can’t Calm Down (“São apenas rostos de uma fantasia e eu / Eu não posso ver através dos olhos deles? / Embora eu tente“).

É como se Duffy transformasse em música grande parte das desilusões acumuladas desde o lançamento de Wildly Idle (Humble Before The Void). Da abertura do disco, na dolorosa faixa-título, passado pela produção de faixas como What’s The Use e Are You Serious?, cada verso lançado pela artista norte-americana encontra em um aspecto triste dos próprios tormentos e experiências pessoais a passagem para uma obra de essência particular, dolorosamente intimista.

A principal diferença entre o material apresentado em Wildly Idle (Humble Before The Void) e as canções Placeholder está na forma como Duffy trabalha os próprios sentimentos em paralelo ao uso minucioso dos arranjos e formas instrumentais. Exemplo disso está em What Lovers Do. Enquanto os versos refletem a profunda melancolia do eu lírico – “Eu estou sem palavras, em uma calçada enquanto o óleo mancha a estrada / Então me disseram um segredo, mas o segredo era uma mentira / Você disse que eu não te entendo, eu disse que você nem tenta” –, guitarras à la Wilco correm ao fundo da canção, ampliando a carga dramática da faixa.

Tamanha melancolia e profunda entrega sentimental faz de Placeholder uma obra que dificilmente pode ser absorvida logo em uma primeira audição. É necessário tempo até que o ouvinte seja prontamente arrastado para dentro do registro, convidado a reviver parte das memórias e tormentos intimistas de Duffy, proposta que muito se assemelha ao material entregue por Lucy Dacus, em Historian (2018), ou mesmo Angel Olsen, no também confessional My Woman (2016).


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.