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Crítica

Psilosamples

: "Jornada Selvagem"

Ano: 2021

Selo: Voodoohop

Gênero: Eletrônica, IDM, Downtempo

Para quem gosta de: Four Set e Aphex Twin

Ouça: Canibal e Chão

8.5
8.5

Psilosamples: “Jornada Selvagem”

Ano: 2021

Selo: Voodoohop

Gênero: Eletrônica, IDM, Downtempo

Para quem gosta de: Four Set e Aphex Twin

Ouça: Canibal e Chão

/ Por: Cleber Facchi 25/08/2021

Em um cenário marcado pelo distanciamento social e isolamento dos indivíduos, a música produzida por Zé Rolê funciona como um importante componente de libertação sensorial. Em Jornada Selvagem (2021, Voodoohop), mais recente criação do produtor de Pouso Alegre, Minas Gerais, cada mínimo fragmento parece pensado de froma a transportar a mente do ouvinte para um território mágico. São ambientações minimalistas, ruídos sintéticos que florescem de maneira orgânica e momentos de maior experimentação que surpreendem a cada curva. Um lento desvendar de ideias e possibilidades que potencializam tudo aquilo que o artista tem desenvolvido sob o título de Psilosamples.

Inaugurado pelas batidas ritualísticos de EXU 2020, o trabalho de essência econômica se revela ao público em pequenas doses, sem pressa. São sobreposições eletroacústicas, quebras e pequenas variações rítmicas que tornam a experiência de ouvir o registro sempre imprevisível, conceito reforçado com a música seguinte, Velas Coloridas. Pouco mais de quatro minutos em que o produtor parece jogar com os instantes, fracionando elementos percussivos em meio a camadas de sintetizadores e momentos de maior contemplação. Um misto de imersão e libertação, proposta que orienta a experiência do ouvinte durante toda a execução dessa jornada fantástica e selvagem.

E isso fica ainda mais evidente na música seguinte, Tapete Voador. São elevações, efeitos e batidas minuciosas que encolhem e crescem a todo instante, como um labirinto de sensações que exige ser desvendado pelo ouvinte. Instantes em que Psilosamples traz de volta a mesma abordagem detalhista impressa nas canções de SP Trips (2017), porém, substituindo a atmosfera urbana do trabalho por um som misterioso e florestal. É como caminhar sem rumo pelas matas, tateando informações e elementos que mudam de direção a todo instante, conceito reforçado em Chão, com seus agudos de altíssima frequência, batidas tortas e momentos de maior experimentação.

Nada que prejudique a composição de faixas deliciosamente acessíveis. É o caso de Suprassumo. Mesmo partindo de uma estrutura bastante similar ao restante da obra, com seus delírios e quebras conceituais, a música sustenta no jogo das batidas a passagem para o lado mais dançante e convidativo do registro. É como se Psilosamples fosse de encontro ao mesmo território criativo de Four Tet, com suas inserções reducionistas, porém, preservando a própria identidade, conceito reforçado na canção seguinte, Purgatório. São entalhes percussivos que atravessam as pistas e ainda ampliam a essência ritualística incorporada pelo produtor nas já citadas EXU 2020 e Velas Coloridas.

Essa mesma força das batidas fica ainda mais destacada na sequência composta por Paraíso Perdido e Cabeça D’água. Pouco mais de oito minutos em que Zé Rolê investe na formação de um repertório marcado pela fragmentação dos elementos, encaixes pouco usuais e batidas que ora apontam para as criações de Aphex Twin, ora fazem lembrar dos momentos de maior urgência expressos pelo artista em Biohack Banana (2016), uma das grandes obras de Psilosamples. A própria Canibal, minutos à frente, parece seguir o mesmo direcionamento criativo, porém, de forma ainda mais intensa, brincando com a permanente sobreposição de ritmos, vozes e elementos sampleados.

Dentro desse cenário marcado pelas possibilidades e permanente cruzamento de informações, Morfo, composição de encerramento do disco, nasce como uma colorida colcha de retalhes que concentra tudo aquilo que Psilosamples busca desenvolver ao longo do álbum. Estão lá os momentos de maior introspecção, delicadas paisagens instrumentais e batidas sempre inexatas, tortas. Ideias, melodias e atravessamentos rítmicos que não apenas garantem ao registro o fechamento ideal, como trazem de volta a essência dos antigos lançamentos do produtor e convidam o ouvinte a revisitar o trabalho, garantindo ao repertório apresentado em Jornada Selvagem a interpretação de uma obra cíclica.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.