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Crítica

Racionais MC’s

: "Cores e Valores"

Ano: 2014

Selo: Cosa Nostra

Gênero: Hip-Hop, Rap, R&B

Para quem gosta de: Facção Central e Black Alien

Ouça: A Praça, Preto Zica e Quanto Vale o Show

9.0
9.0

Racionais MC’s: “Cores e Valores”

Ano: 2014

Selo: Cosa Nostra

Gênero: Hip-Hop, Rap, R&B

Para quem gosta de: Facção Central e Black Alien

Ouça: A Praça, Preto Zica e Quanto Vale o Show

/ Por: Cleber Facchi 13/03/2020

Primeiro trabalho de inéditas dos Racionais MC’s em mais de uma década de espera, Cores e Valores (2014) mostra o esforço do grupo formado por Mano Brown, Edi Rock, Ice Blue e KL Jay em se reinventar dentro de estúdio. Na contramão da poesia descritiva e atmosfera densa detalhada em algumas das principais obras do quarteto, como Sobrevivendo no Inferno (1997) e Nada Como Um Dia após o Outro Dia (2002), sobrevive na curta duração das faixas e maior urgência no tratamento das batidas o princípio de um novo direcionamento estético. Canções que vão do trap (Preto Zica) ao neo-soul (Eu Te Proponho) em uma linguagem marcada pelo completo frescor dos elementos. Um evidente exercício de renovação, fuga criativa e busca por novas possibilidades, mas que em nenhum momento perverte o que há de mais importante na obra do coletivo paulistano: os versos.

Corpo negro semi-nu encontrado no lixão em São Paulo / A última a abolir a escravidão / Dezembro sangrento, SP, mundo cão promete / Nuvens e valas, chuvas de balas em 87 / Quanto vale?”, questiona Brown na autobiográfica Quanto Vale o Show?. Pouco menos de três minutos em que o rapper utiliza de memórias da adolescência para colorir um retrato tão nostálgico quanto atual da capital paulista. Um misto de passado e presente, medo e indignação, estrutura reforçada com naturalidade em músicas como A Escolha Que eu Fiz, Somos o Que Somos e A Praça, essa última, canção que discute a ação truculenta da polícia durante uma apresentação do grupo na Virada Cultural de 2007. Instantes de breve celebração que se entrelaçam em meio a versos marcados pela evidente sobriedade do discurso, indicativo do completo domínio e força criativa que orienta a experiência do ouvinte durante toda a execução da obra.



Este texto faz parte da nossa lista com Os 100 Melhores Discos Brasileiros dos Anos 2010 que será publicada ao longo das próximas semanas. São revisões mais curtas ou críticas reescritas de alguns dos trabalhos apresentados ao público na última década. Leia a publicação original.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.