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Críticas

Sharon Van Etten

: "Remind Me Tomorrow"

Ano: 2019

Selo: Jagjaguwar

Gênero: Rock, Rock Alternativo, Folk Rock

Para quem gosta de: Angel Olsen e Cat Power

Ouça: Seventeen, Comeback Kid e Jupiter 4

8.8
8.8

Crítica: “Remind Me Tomorrow”, Sharon Van Etten

Ano: 2019

Selo: Jagjaguwar

Gênero: Rock, Rock Alternativo, Folk Rock

Para quem gosta de: Angel Olsen e Cat Power

Ouça: Seventeen, Comeback Kid e Jupiter 4

/ Por: Cleber Facchi 21/01/2019

Sharon Van Etten sempre encarou o próprio público como confidente. Da estreia, com Because I Was in Love (2009), ao amadurecer sentimental e poético que embala as canções de Are We There (2014), cada fragmento sussurrado ou dolorosamente exposto pela cantora e compositora norte-americana fez da profunda honestidade detalhada nos versos um elemento de forte conexão com o ouvinte. Composições marcadas por decepções amorosas, tormentos pessoais e desilusões, componentes fundamentais para a consolidação de um dos repertórios mais sensíveis da música recente.

Primeiro álbum de estúdio da cantora em cinco anos, Remind Me Tomorrow (2019, Jagjaguwar) é um registro inteiramente montado a partir dessas pequenas confissões e retalhos sentimentais. Do momento em que tem início, em I Told You Everything (“Sentada no bar, eu te contei tudo / Você disse: ‘Puta merda, você quase morreu’ / Compartilhando uma bebida, você segurou minha mão“), até alcançar a derradeira Stay (“Não quero te machucar / Não quero fugir de mim mesma / Quer que a sua estrela brilhe“), delicada homenagem à própria filha, são memórias de um passado ainda recente que embalam a poesia contemplativa, sempre precisa, de Etten, como um delicado resgate das experiências e recordações vividas pela artista.

Exemplo disso está em Comeback Kid, composição que traduz musicalmente a nostálgica sensação da cantora ao visitar a casa dos pais, onde cresceu, e ser transportada para o passado. “Criança, no topo da nossa rua / Eu era um pouco como ele / Eu era alguém“, recorda enquanto sintetizadores e guitarras se entrelaçam de forma complementar. A mesma poesia empoeirada se faz evidente em No One’s Easy To Love, faixa em que resgata uma série de temas românticos originalmente testados em Are We There — “Muita coisa mudou, não posso deixar você entrar à noite / Desejo meu amor, saia ao amanhecer“.



Nada que se compare a força sentimental expressa pela cantora em Seventeen. “Abaixo das cinzas e das pedras / Claro que eu vivi e conheci / Eu vejo você tão desconfortavelmente sozinha / Eu queria poder mostrar a você o quanto você cresceu … Eu tinha dezessete anos“, canta em um melancólico resgate poético sobre a solidão da adolescência e a transição para a vida adulta. Pouco mais de quatro minutos em que Etten amplia os limites da própria obra, dialogando com o lirismo e sonoridade de veteranos como Lucinda Williams e Bruce Springsteen, duas de suas principais referências para o novo álbum. Versos que passeiam pelo centro de Nova York, mas que acabam se relacionando com todo e qualquer ouvinte.

O mesmo refinamento poético se faz evidente na amarga You Shadow, No One’s Easy To Love e a já conhecida Jupiter 4, música que destaca a inserção de temas eletrônicos que distanciam Etten da atmosfera acústica dos antigos trabalhos. “Eu estive procurando por você / Eu quero estar apaixonado … Eu estive esperando minha vida inteira / Por alguém como você“, confessa enquanto sintetizadores cósmicos se espalham ao fundo da composição, elemento que volta a se repetir de forma ainda mais perceptível em Hands e na já citada Stay.

Produzido em parceria com o experiente John Congleton (St. Vincent, Angel Olsen), Remind Me Tomorrow é um avanço claro em relação aos últimos trabalhos de Sharon Van Etten. Quem esperava por uma possível continuação do material entregue há cinco anos, em Are We There, vai encontrar em músicas como Jupiter 4, Seventeen e Hands uma completa desconstrução de tudo aquilo que a cantora vinha experimentando dentro de estúdio. Do inusitado uso de referências eletrônicas aos versos que agora apontam para novas direções, cada elemento do trabalho reflete a atuação de uma artista madura, em pleno domínio da própria obra.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.