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Crítica

Soledad

: "Revoada"

Ano: 2019

Selo: Índigo Azul

Gênero: Indie, Rock, MPB

Para quem gosta de: Cidadão Instigado e Céu

Ouça: Dança na Chuva e Por Amor

7.8
7.8

“Revoada”, Soledad

Ano: 2019

Selo: Índigo Azul

Gênero: Indie, Rock, MPB

Para quem gosta de: Cidadão Instigado e Céu

Ouça: Dança na Chuva e Por Amor

/ Por: Cleber Facchi 27/05/2019

A delicada seleção de ritmos, variações poéticas e fórmulas instrumentais talvez seja a principal marca do segundo álbum de estúdio da cantora e compositora cearense Soledad. Em Revoada (2019, Índigo Azul), a artista preserva a essência letárgica do autointitulado registro de estreia, porém, sutilmente mergulha em busca por novas possibilidades e confissões românticas, estrutura que serve de sustento ao disco e funciona como um precioso elemento de conexão entre a obra e o próprio ouvinte. Um misto de dor e acolhimento que orienta a poesia agridoce do trabalho até o último instante.

Falta um lugar em que a chuva é pra dançar / E eu vou te dar / Quando te encontrar mais bicho / E tiver no chão um falso sorriso / Ou serei calmo demais?“, canta em Dança na Chuva, música originalmente composta por Giovani Cidreira e um delicado exercício de profunda confissão romântica, desejo e busca por um novo amor. Versos que se espalham em meio a paisagens descritivas, transformando o próprio eu lírico em um elemento da natureza. Instantes de profundo delírio e comoção, conceito que se completa pelos arranjos de Fernando Catatau (Cidadão Instigado), parceiro de longa data da artista e convidado a assinar a produção do disco.

É dentro dessa mesma atmosfera ora dramática e dolorosa, ora serena e acolhedora que Soledad busca confortar o ouvinte. São melodias empoeiradas que apontam para o rock psicodélico dos anos 1970 e 1980, efeito direto do precioso cruzamento entre as guitarras e sintetizadores compartilhados pelos músicos Allen Alencar e Davi Serrano. Um lento desvendar de ideias e experiências, como se do universo detalhado pela artista durante o lançamento do álbum anterior, o público fosse convidado a ir além, se perdendo em meio a instantes de profunda desilusão.

Se eu não te beijo é como astrologia sem céu / Eu posso até criar asas, mas eu não voo / Eu posso até criar asas, mas eu não saio do chão / Sexo sem beijo é solidão“, desaba em Céu, música que conta com a assinatura de Luis Capucho e sintetiza parte das frustrações e temas sentimentais detalhados pela artista durante toda a execução da obra. Exemplo disso está em Por Amor, música composta por Catatau e um doloroso passeio pela mente atormentada do protagonista. “Por amor eu tive que partir/ E cheio de razão me arrependi / Com medo de ser feliz / Por favor, me diz o que é que eu fiz / Em frente a você eu me perdi / No espelho eu sei de mim“, canta.

Interessante notar que mesmo partindo de uma mesma base lírica, Revoada se espalha e cresce em meio a versos assinados por um time seleto de letristas. São nomes como Chico Sá e Alessandra Leão, no romantismo detalhista de Pássaros, Mulheres e Peixes; Alzira Espíndola e Arruda, na atmosférica faixa de abertura do disco, Próximos ao Máximo; Jonas Sá, Negro Leo e Santiago Botero Rodriguez, responsáveis pela poesia descritiva de 2013, música que sussurra versos de amor em meio a cenas caóticas da agitação política que marcou o ano destacado no título da faixa.

Completo pelo samba eletrônico de Amigos Bons, colaboração entre Junio Barreto, Otto e Bactéria, Revoada mostra a capacidade de Soledad e seus parceiros de estúdio em avançar criativamente, porém, preservando a essência do material apresentado há dois anos. Trata-se de uma obra deliciosamente contida, como uma fuga declarada de possíveis excessos e versos emergenciais, estrutura que naturalmente distancia o ouvinte mais apressado, mas que acaba premiando justamente aqueles que se entregam ao romantismo triste que embala o trabalho.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.