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Crítica

Rhye

: "Home"

Ano: 2021

Selo: Loma Vista

Gênero: Indie, R&B, Soul

Para quem gosta de: Jessie Ware e James Blake

Ouça: Black Rain e Beautiful

7.3
7.3

Rhye: “Home”

Ano: 2021

Selo: Loma Vista

Gênero: Indie, R&B, Soul

Para quem gosta de: Jessie Ware e James Blake

Ouça: Black Rain e Beautiful

/ Por: Cleber Facchi 25/01/2021

Quando se é responsável por uma sonoridade tão característica, como é o caso do Rhye, buscar por novas possibilidades dentro de estúdio está longe de parecer uma tarefa simples. E esse tem sido o principal desafio enfrentado Mike Milosh desde o lançamento do cultuado Woman (2013). Afinal, que direção seguir quando o som produzido pela sua banda sustenta no reducionismo dos elementos a base para grande parte das canções? Mesmo que de forma contida, é exatamente isso que o cantor e compositor canadense busca desenvolver no recém-lançado Home (2021, Loma Vista).

Sequência ao material entregue no morno Blood (2018), álbum que revelou faixas como Count To Five e Song For You, o novo disco preserva a essência minimalista que tradicionalmente define as criações do músico de Toronto, porém, se permite provar de novas possibilidades, inserções pouco usuais e diferentes abordagens criativas. Composições que se espalham em meio a arranjos de cordas e delicadas paisagens instrumentais, porém, sempre acompanhadas pelo uso calculado das batidas, proposta que ora amplia o direcionamento imersivo do trabalho, ora convida o ouvinte a dançar.

E isso pode ser percebido com naturalidade na já conhecida Black Rain. Uma das primeiras canções do álbum a serem apresentadas ao público, a faixa de essência dançante funciona como uma fuga das amarras impostas por Milosh logo após a saída de Robin Hannibal, principal parceiro de composição e co-responsável pelo material entregue em Woman. São inserções minuciosas, orquestrações que invadem os ouvidos e batidas sempre calculadas, proposta que vai de veteranos da música disco, como Bee Gees, a nomes ainda ativos, caso de Matthew Herbert e Jessie Ware.

E isso se reflete durante toda a execução da obra. São canções marcadas pelo completo refinamento dos arranjos, melodias e vozes, porém, sempre acessíveis, como se Milosh fosse capaz de dialogar com uma parcela ainda maior do público. Canções como Come In Closer e Beautiful em que o músico canadense evoca nomes como Sade, mesmo preservando a própria identidade artística, conceito reforçado pelo caráter intimista e profunda sensibilidade explícita nos versos. “Seus olhos me dizem coisas que eu quero saber / Nós temos uma longa noite / Deixe tudo para trás“, canta.

São desilusões amorosas, romances secretos e momentos consumidos pela melancolia, como se Milosh fizesse das próprias experiências a base para grande parte da obra. Instantes em que o músico canadense se divide entre a doce provocação, como na sedutora Hold You Down (“Deita a cabeça, amor / Um crime suave / Faça respirações minúsculas / Dê pequenos passos“), e faixas em que se entrega sentimentalmente, marca de faixas como Need a Lover (“Quando você dança dentro de mim / É uma pequena vitória para mim / Não é difícil de ver“) e Fire (“Você pode sentir meu fogo crescendo alto?“).

Produto do completo amadurecimento de Milosh, Home preserva a essência dos antigos trabalhos do músico canadense, porém, a todo momento se permite avançar criativamente. São canções sempre delicadas, concebidas a partir de incontáveis camadas instrumentais e vozes sobrepostas, mas que sustentam na fluidez das batidas, guitarras e letras acessíveis o estimulo para um material que parece maior e mais interessante a cada nova audição. O bom e velho Rhye de sempre, porém, imerso em diferentes temáticas sentimentais e estruturas cada vez mais detalhistas.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.