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Crítica

Rochelle Jordan

: "Play With The Changes"

Ano: 2021

Selo: Young Art

Gênero: R&B, UK Garage, Pop

Para quem gosta de: Kelela, FKA Twigs e Shygirl

Ouça: All Along, Love You Good e Broken Steel

7.7
7.7

Rochelle Jordan: “Play With The Changes”

Ano: 2021

Selo: Young Art

Gênero: R&B, UK Garage, Pop

Para quem gosta de: Kelela, FKA Twigs e Shygirl

Ouça: All Along, Love You Good e Broken Steel

/ Por: Cleber Facchi 12/05/2021

Mesmo criada em Toronto, no Canadá, Rochelle Jordan sempre manteve uma forte relação de proximidade com a música produzida em sua terra natal, Londres, na Inglaterra. E isso pode ser percebido em toda a sequência de obras apresentadas pela artista ao longo da última década, como Origins (2011), Pressure (2012) e 1021 (2014). Trabalhos que incorporam o estilo do R&B norte-americano, mas que a todo momento apontam para a produção além-mar. Canções regidas pelos sintetizadores e batidas metálicas típicas do UK Garage, conceito que ganha ainda mais destaque com a chegada de Play With The Changes (2021, Young Art), álbum perfumado pela produção inglesa, tratamento que embala a experiência do ouvinte até a música de encerramento do registro, Situation.

Perfeita representação desse direcionamento estético acaba se refletindo logo nos primeiros minutos da obra, em Love You Good. Do ritmo frenético impresso nas batidas, típicas da produção eletrônica dos anos 1990, passando pelo uso atmosférico dos sintetizadores, cada elemento da canção parece conduzir a experiência do ouvinte para um território diferente. Instantes em que Jordan vai de encontro ao drum n bass/jungle de veteranos como Goldie e Luke Vibert, porém, estreitando a relação com uma série de nomes recentes, como Kelela, vide a forte similaridade com o material lançado pela artista em Hallucinogen EP (2015). Um precioso cruzamento de informações que tinge com nostalgia e necessário toque de renovação cada mínimo fragmento que compõe o trabalho.

Parte desse tratamento dado ao disco vem justamente da escolha da artista em colaborar com um time seleto produtores declaradamente inspirados pela produção britânica. É o caso de Travis Stewart, o Machinedrum. Conhecido pelas criações como parceiro de Azealia Banks, Theophilus London e outros nomes importantes da indústria, o produtor não apenas assina as batidas em parte expressiva das faixas, como assume a mixagem do álbum, garantindo maior homogeneidade ao trabalho. O resultado desse processo está na entrega de uma seleção de músicas que transitam por diferentes abordagens criativas, porém, sempre imersas no ambiente temático proposto por Jordan, conceito que se reflete mesmo no completo recolhimento de canções como Dancing Elephants.

Exemplo claro dessa consistência que envolve o disco acaba se refletindo justamente nos momentos em que a cantora mais se distancia dos temas eletrônicos e aponta para a música pop. É o caso da pegajosa Next 2 You, composição que vai de encontro ao mesmo R&B de Tinashe e Kehlani, porém, sustenta no cruzamento das batidas, melodias sintéticas e vozes um importante componente de transformação e busca pela própria identidade. O mesmo direcionamento criativo acaba se refletindo minutos às frente, em Already, faixa que conta com produção de KLSH, outro importante parceiro de estúdio, mas que chama a atenção pela forma como Jordan brinca com as rimas em uma abordagem que muito se aproxima da boa fase vivida por Janet Jackson, no final dos anos 1990.

Nesse espaço aberto às possibilidades, ainda que conceitualmente restrito, Jordan aproveita para estreitar a relação com outros colaboradores. É o caso de Broken Steel, música que poderia facilmente esbarrar no mesmo território criativo de Take Me Apart (2017), porém, cresce na interferência direta da rapper Farrah Fawx. Com produção de Jimmy Edgar (Vince Staples, SOPHIE), Nothing Left é outra que parece pensada para bagunçar os rumos da obra. Embora preserve parte da essência temática do restante do álbum, a canção vai de encontro aos temas experimentais que apresentaram FKA Twigs no início da década passada. São batidas densas e texturas eletrônicas que parecem envolver o ouvinte, porém, sempre imersas em momentos de maior instabilidade.

Tamanha colisão de ideias e referências que apontam para diferentes campos da música fazem de Play With The Changes um estudo conceitual nas mãos de Jordan e seus parceiros. São canções que passeiam por algumas das principais influências da cantora, como Kelis e Aaliyah, porém, substituem a parcial falta de identidade por versos sempre marcados pela força dos sentimentos e experiências vividas pela artista inglesa. Instantes em que somos confrontados por tormentos emocionais, romances fracassados e momentos de maior vulnerabilidade, proposta que naturalmente aponta para os antigos trabalhos da compositora, mas que estabelecem na maquiagem eletrônica de KLSH, Machinedrum e outros colaboradores um importante elemento de transformação.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.