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Crítica

Rosa Neon

: "Rosa Neon"

Ano: 2019

Selo: Independente

Gênero: Pop, Indie Pop, MPB

Para quem gosta de: Duda Beat e Jaloo

Ouça: Pirraça, Picolé e Vai Devagar

7.7
7.7

“Rosa Neon”, Rosa Neon

Ano: 2019

Selo: Independente

Gênero: Pop, Indie Pop, MPB

Para quem gosta de: Duda Beat e Jaloo

Ouça: Pirraça, Picolé e Vai Devagar

/ Por: Cleber Facchi 09/09/2019

Sem pressa, os integrantes da Rosa Neon passaram último ano preparando o terreno para o primeiro álbum de estúdio da carreira. A cada mês, uma nova composição, um clipe inédito e a colorida sobreposição de ideias que vai do pop à música brega, do R&B ao reggae em uma estrutura marcada pela leveza dos temas, melodias e vozes. Uma fuga romântica para um universo dominado por reverberações tropicais, amores não resolvidos e instantes de doce provocação, estrutura que ganha ainda mais destaque no aguardado debute do grupo mineiro formado por Luiz Gabriel Lopes, Mariana Cavanellas, Marcelo Tofani e Marina Sena.

Vai devagar / Que eu tenho muito tempo pra gastar aqui / Vai devagar / Que eu não tenho pressa pra me despedir“, cresce o jogo de vozes em Vai Devagar, música que sintetiza parte das experiências incorporadas pelo grupo no decorrer do álbum e, ao mesmo tempo, serve de aviso aos ouvintes mais apressados. Como indicado no lento processo de montagem do registro, a estreia da Rosa Neon é uma obra feita para ser absorvida aos poucos, em pequenas doses. São melodias e versos trabalhados em uma medida própria de tempo, proposta que orienta a experiência do ouvinte até a derradeira Cê não tem dó de mim.

Uma vez imerso nesse conceito, o trabalho se espalha em meio a versos deliciosamente românticos, lirismo que vai da saudade ao mais completo desejo e busca por um novo amor. “Desde janeiro, eu não vejo você / Meu coração é um picolé e pode derreter / Meu amor é de açúcar / E num beijo bem molhado a gente pode se entender“, canta Cavanellas enquanto guitarras e batidas atmosféricas pintam um delicado pano de fundo instrumental em Picolé. Ideias e experiências particulares que ganham ainda mais destaque em músicas como a tropical Ombrim ou no reggae de Estrela do Mar, canção que brinca com o uso das vozes e lenta inserção de cada componente.

Nada que se compare ao cuidado da banda em Pirraça. Consumida por memórias de um passado ainda recente, a canção vai do sertanejo romântico dos anos 1990 ao trap, estrutura que naturalmente aponta para o trabalho de Duda Beat, Luísa e os Alquimistas e demais artistas que tem revisitado a música brega brasileira. “A gente teve boa intenção / Não adianta mais fazer pirraça / Tipo programa de televisão / Você assiste, mas não acha graça“, canta Tofani enquanto reflete sobre o desgaste de um relacionamento. São versos sempre intimistas, confessionais, mas que parecem pensados para dialogar com todo e qualquer ouvinte.

Por vezes monotemático, efeito direto da poesia sentimental que serve de sustento ao álbum, a estreia do quarteto mineiro utiliza de faixas como a política Embalagem para garantir novo direcionamento ao trabalho. “Teve uns que não quiseram escutar / Teve uns que vieram fortalecer / Um caminho é o que pode te levar / Do outro lado cê pode se perder“, provoca Lopes. A própria faixa-título do álbum, mesmo menos imediata em relação ao material entregue no restante do disco, mostra o esforço do quarteto em se reinventar dentro de estúdio.

Com imagem de capa inspirada pelo clássico Doces Bárbaros (1976), obra que marca o encontro entre Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil e Maria Bethânia, e completo pela presença do rapper Djonga, padrinho da banda, em Vai Devagar, a estreia do Rosa Neon cresce como um minucioso exercício de apresentação do quarteto mineiro. Pensado para além dos limites de estúdio, efeito da série de vídeos produzidos pela dupla Vito Soares e Belle de Melo, o registro encolhe e cresce a todo instante, como um esforço claro da banda em brincar com as possibilidades, porém, preservando a própria identidade.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.