Curioso pensar que mesmo na ausência de palavras, os curitibanos do ruído/mm sejam capaz de dizer tanto quanto nas canções que embalam o instrumental Rasura (2014). Vindo de uma sequência de grandes obras produzidas pela banda, caso de A Praia (2008) e o atmosférico Introdução à cortina do Sótão (2011), o registro de apenas oito faixas e pouco menos de 50 minutos de duração sutilmente transporta o ouvinte para diferentes campos criativos, efeito direto do movimento fluido das guitarras, texturas e incontáveis camadas instrumentais que vão de temas atmosféricos (Transibéria) à completa crueza dos arranjos (Cromaqui). De fato, do momento em que tem início, na densa Brandon, até alcançar a derradeira Penhascos, Desfiladeiros e Outros Sonhos de Fuga, cada elemento do álbum funciona como uma importante síntese conceitual de tudo aquilo que o grupo vinha experimentando desde o início da carreira.

Entretanto, para além da previsível reciclagem de tendências, sobrevive em cada uma das canções apresentadas em Rasura um importante componente de ruptura estética. Exemplo disso está na extensa Requiem For a Western Manga. São pouco mais de dez minutos em que o grupo curitibano passeia em meio a paisagens atmosféricas que ora apontam para a trilha sonora de clássicos do faroeste macarrônico, ora mergulham no pós-rock da década de 1990. Canções que encolhem e crescem a todo instante, revelando ao público incontáveis camadas melódicas, orquestrações turbulentas e a bateria sempre destacada, estrutura que mantém a atenção do ouvinte em alta mesmo nos momentos mais contidos da obra.

Este texto faz parte da nossa lista com Os 100 Melhores Discos Brasileiros dos Anos 2010 que será publicada ao longo das próximas semanas. São revisões mais curtas ou críticas reescritas de alguns dos trabalhos apresentados ao público na última década. Leia a publicação original.