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Crítica

SASAMI

: "SASAMI"

Ano: 2019

Selo: Domino

Gênero: Indie Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Mitski, Jay Som e Miya Folick

Ouça: Not The Time e Jealously

8.3
8.3

“SASAMI”, SASAMI

Ano: 2019

Selo: Domino

Gênero: Indie Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Mitski, Jay Som e Miya Folick

Ouça: Not The Time e Jealously

/ Por: Cleber Facchi 11/03/2019

Em um universo historicamente dominado pela presença masculina, Sasami Ashworth não apenas conquistou o próprio espaço, como vem se envolvendo na produção de algumas das obras mais significativas da presente cena alternativa dos Estados Unidos. São nomes como Wild Nothing, Cherry Glazers, Hand Habits e tantos outros projetos orquestrados pela força das guitarras, vozes e emoções da musicista californiana. Um permanente exercício de aprimoramento artístico que se reflete com naturalidade no recém-lançado primeiro álbum de estúdio da cantora.

Guiado pela força dos sentimentos e experiências compartilhadas pela guitarrista, o autointitulado registro rapidamente estreita a relação com o ouvinte, efeito direto da profunda entrega emocional de Ashworth. “Há uma sombra sobre algo que costumava ser luz / Eu era uma janela para algo que você não gostou / Então você me culpou / E você pensou que isso fez você livre / Mas não é assim que funciona, meu amor“, canta em I Was A Window, um precioso e melancólico ato de libertação feminina, temática que se reflete durante toda a execução da obra, cercando e confortando o ouvinte.

São composições montadas a partir de pequenas desilusões amorosas, versos corrompidos pela dor, isolamento e o permanente desejo de Ashworth em se reorganizar sentimentalmente. “Pensei que eu era a única / Acabou que eu era todo mundo / A ficar sozinha durante a noite“, reflete na derradeira Turned Out I Was Everyone, música que amplia a sensação de abandono presente durante toda a execução da obra. Um misto de angústia e aceitação, direcionamento que acaba se refletindo na própria base instrumental do disco, marcada em essência pela riqueza dos arranjos e permanente mudança de direção.

Uma dessas noites / Vou sentir seus braços novamente / Este não é o momento nem o lugar para nós“, canta enquanto guitarras carregadas de efeitos explodem em Not The Time. São pouco menos de três minutos em que SASAMI dialoga com o rock alternativo dos anos 1990, buscando referências na obra de veteranos como My Bloody Valentine e PJ Harvey. Um turbilhão instrumental e poético, direcionamento que se reflete em outros momentos específicos da obra, como em Morning Comes e nos instantes finais de Callous, música embriagada pela atmosfera da década de 1980.

Interessante perceber em faixas como Free uma completa fuga desse direcionamento enérgico que orienta parte expressiva da obra. Concebida em parceria com Devendra Banhart, a canção de versos tristes desacelera para valorizar as emoções detalhadas por Ashworth. “Você tem uma coisa linda em casa / Então, por que confundir quando você pode perder tudo? / Nós andamos o mais longe que pudemos ir“, canta de forma dolorosa enquanto guitarras acústicas e a percussão cíclica parece encapsular a melancolia da canção. Instantes de profundo recolhimento, estímulo para a formação de músicas como Pacify My Heart, At Hollywood e Adult Contemporary, essa última, assinada em parceria com a cantora e compositora francesa Soko.

Tamanha versatilidade na construção dos arranjos, versos e temas explorados em cada faixa faz da estreia de SASAMI uma obra maior e mais completa a cada nova audição. Entre flertes com a música pop, como na nostálgica Jealousy, e músicas em que se permite provar de novas possibilidades, vide Turned Out I Was Everyone, cada composição do disco parece transportar o ouvinte para um cenário completamente novo, mágico. Pouco mais de 40 minutos em que Ashworth não apenas se apresenta ao público, como resgata uma série de elementos originalmente testados em diferentes projetos em que esteve envolvida na última década.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.