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Crítica

Sea Oleena

: "Weaving a Basket"

Ano: 2020

Selo: Independente

Gênero: Indie, Dream Pop, Ambient Pop

Para quem gosta de: Grouper e Julianna Barwick

Ouça: Lost Song, Carrying e Gardens

8.0
8.0

Sea Oleena: “Weaving a Basket”

Ano: 2020

Selo: Independente

Gênero: Indie, Dream Pop, Ambient Pop

Para quem gosta de: Grouper e Julianna Barwick

Ouça: Lost Song, Carrying e Gardens

/ Por: Cleber Facchi 08/01/2021

Cantora, compositora e multi-instrumentista, Charlotte Oleena passou grande parte da última década mergulhada na composição de temas atmosféricos onde sonho e a realidade se confundem a todo momento. Composições adornadas pelo uso de vozes etéreas, ruídos orquestrados e instantes de profunda entrega sentimental, proposta que naturalmente aponta para o trabalho de outros nomes importantes do gênero, como Grouper e Julianna Barwick, mas que a todo momento se entrega ao desenvolvimento de regras próprias da artista de origem canadense.

Exemplo disso pode ser percebido nas canções de Weaving a Basket (2020, Independente). Quarto e mais recente álbum de estúdio da musicista de Toronto, o registro sustenta no uso das vozes e ambientações acústicas a base para grande parte da obra, como uma fuga dos sintetizadores que tradicionalmente embalam registros de identidade similar. Perfeita representação desse resultado pode ser percebido na crescente Carrying. São movimentos espaçados que se completam pela ruidosa captação de campo, estrutura que ganha ainda mais destaque no lirismo vulnerável da artista. “Apesar de tudo que você me fez passar / Eu não consigo me lembrar / De você sendo arrancado de mim“, confessa em tom melancólico.

É justamente esse maior refinamento na composição dos versos que torna a experiência de ouvir o trabalho tão satisfatório. São canções consumidas por memórias de um passado ainda recente, desilusões amorosas e conflitos existencialistas, conceito reforçado durante o lançamento do álbum anterior, o também delicado Shallow (2014), mas que ganha ainda mais destaque dentro do presente disco. A própria faixa de abertura, Will I Know, mesmo reducionista, parece indicar parte dos temas e da solidão detalhada pela artista até o fim da obra. “Tarde da noite / Caminhando para casa / A lua está brilhante / Eu estou sozinha“, canta.

Uma vez imersa nesse cenário consumido pelas emoções, Oleena faz de cada fragmento do disco um delicado exercício de exposição sentimental. Do desejo explícito na derradeira Horses (“Eu quero mergulhar em uma piscina / De água profunda e fria / E quando eu subir no ar / Quero ver você ai“), passando pela melancólica despedida de Lost Song (“Por favor não seja tão gentil / Eu só vim para fechar as cortinas“), tudo gira em torno das experiências e conflitos vividos pela própria artista. Frações poéticas que utilizam desse lirismo honesto como forma de dialogar com o ouvinte.

Interessante notar que mesmo capaz de abraçar uma parcela ainda maior do público, Weaving a Basket em nenhum momento se distancia do caráter experimental que tradicionalmente embala as criações da musicista. Perceba como Oleena, durante toda a execução da obra, se concentra na manipulação das texturas e temas instrumentais, tratamento talvez destacado em Calvisius, única composição do álbum que se distancia do uso das vozes, mas que acaba se refletindo em outros momentos ao longo da obra. Canções como Gardens e a extensa Horses, com mais de 11 minutos de duração, em que a artista brinca com a formação de temas labirínticos.

Tamanho esmero no processo de composição da obra fez de Weaving a Basket o registro mais completo de Oleena. Enquanto navega por um oceano de formas etéreas e possibilidades cósmicas, versos consumidos pela força dos sentimentos funcionam como um importante componente de equilíbrio e conexão. São canções marcadas pela permanente sensação de acolhimento, como se emoções e experiências vividas pela artista fossem trabalhadas em uma linguagem universal, proposta que estabelece no desenho torto das melodias um importante elemento de transformação.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.