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Crítica

Sebastian Maschat / Erlend Øye

: "Quarantine at El Ganzo"

Ano: 2020

Selo: Bubbles Rec

Gênero: Indie, Indie Pop, Pop Rock

Para quem gosta de: Kings of Convenience e The Whitest Boy Alive

Ouça: Price e Within a Dream

7.5
7.5

Sebastian Maschat & Erlend Øye: “Quarantine at El Ganzo”

Ano: 2020

Selo: Bubbles Rec

Gênero: Indie, Indie Pop, Pop Rock

Para quem gosta de: Kings of Convenience e The Whitest Boy Alive

Ouça: Price e Within a Dream

/ Por: Cleber Facchi 14/08/2020

Com apresentações agendadas e até músicas inéditas sendo apresentadas ao público, caso da ótima Serious, tudo parecia indicar que, após 11 anos, um novo disco do The Whitest Boy Alive seria lançado. Entretanto, com a pandemia de Covid-19, o cancelamento de shows e o desencontro causado pelas passagens aéreas do grupo, apenas Erlend Øye e o baterista Sebastian Maschat compareceram às sessões agendadas no Hotel El Ganzo, em San Jose del Cabo, no México, onde a banda iria se apresentar em um festival. O resultado desse processo está nas canções de Quarantine at El Ganzo (2020, Bubble Rec.), inesperada e bem-sucedida colaboração entre os dois artistas.

Típico exercício criativo de Øye, também conhecido pelo trabalho em carreira solo e como uma das metades do Kings of Convenience, o registro de 14 faixas estabelece no reducionismo dos arranjos, batidas e vozes um importante componente criativo para o fortalecimento da obra. São faixas concebidas em uma medida própria de tempo, proposta que naturalmente dialoga com o desafio da dupla em produzir e gravar o álbum de maneira solitária. Um lento desvendar de ideias, melodias e sentimentos, conceito que embala a experiência do ouvinte até a faixa de encerramento do álbum.

São composições que partem de uma base eletroacústica, como um diálogo curioso com o soft rock produzido na década de 1970, ambientações contidas à la Belle and Sebastian e melodias que preservam a essência do The Whitest Boy Alive. A própria música de abertura do trabalho, Wipeout, funciona como um precioso indicativo desse mesmo direcionamento estético. Pouco menos de quatro minutos em que a guitarra nostálgica de Øye passeia de forma espaçada pelo interior da faixa, sempre acompanhada pela bateria de Maschat, com quem divide parte expressiva dos versos.

Entretanto, importante notar que mesmo regido pela economia dos arranjos, Quarantine at El Ganzo está longe de parecer uma obra minimalista. Trata-se apenas de um registro guiado pela completa precisão dos elementos, como se cada fragmento de voz, melodia ou batida fosse cuidadosamente encaixada dentro de estúdio. Exemplo disso está no pop ensolarado de Whitin a Dream. Marcada pela percussão tropical de Maschat, guitarras e pianos complementares, a faixa rapidamente transporta o ouvinte para um cenário à beira-mar, fazendo de cada novo acréscimo um precioso elemento de transformação.

Com base nessa estrutura, a dupla garante ao público uma obra capaz de capturar a atenção do ouvinte logo na primeira audição. São faixas que evocam uma constante sensação de familiaridade, como se os dois artistas transportassem para dentro de estúdio algumas de suas principais referências criativas, porém, dentro de uma linguagem autoral. É o caso de Prince, delicada criação que parece saída de algum disco do Kings of Convenience, ou mesmo no sambinha de Butterflies, música que confessa o completo fascínio de Øye pela música brasileira, principalmente a bossa nova de João Gilberto.

Concebido e lançado durante o período de pandemia, Quarantine at El Ganzo nasce como um refúgio necessário em momentos de caos. Da construção dos arranjos à formação dos versos, do tratamento dado aos vocais à escolha dos temas, sempre inspirados por amores passageiros, respiros aliviados e temas cotidianos, tudo parece pensado para confortar o ouvinte. São canções como Within a Dream e Magic Used To Happen que passeiam de forma nostálgica por diferentes décadas, fórmulas e tendências, transportando o ouvinte para dentro desse território mágico.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.