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Crítica

Shabazz Palaces

: "The Don of Diamond Dreams"

Ano: 2020

Selo: Sub Pop

Gênero: Hip-Hop, Experimental, Rap

Para quem gosta de: Flying Lotus, Teebs e Gonjasufi

Ouça: Fest Learner, Bad Bitch Walking e Money Yoga

7.8
7.8

Shabazz Palaces: “The Don of Diamond Dreams”

Ano: 2020

Selo: Sub Pop

Gênero: Hip-Hop, Experimental, Rap

Para quem gosta de: Flying Lotus, Teebs e Gonjasufi

Ouça: Fest Learner, Bad Bitch Walking e Money Yoga

/ Por: Cleber Facchi 08/05/2020

Talvez o Shabazz Palaces tenha perdido parte do ineditismo que marca os introdutórios Black Up (2011) e Lese Majesty (2014), entretanto, difícil não se deixar guiar pela produção detalhista e lirismo lisérgico que embala as criações de Ishmael Butler em sua fase mais recente. Três anos após o lançamento da ambiciosa dobradinha composta por Quazarz: Born on a Gangster Star (2017) e Quazarz vs. The Jealous Machines (2017), o produtor norte-americano continua a se aventurar na composição de batidas e versos marcados pela forte psicodelia, conceito que ganha ainda mais destaque nas canções do delirante The Don of Diamond Dreams (2020, Sub Pop).

Primeiro registro de inéditas do também integrante do Digable Planets sem a presença de Tendai Maraire, parceiro desde Black Up, The Don of Diamond Dreams se revela ao público como uma obra contida, mas não menos detalhista. São sintetizadores cósmicos, vozes e batidas empoeiradas que se entrelaçam uma medida própria de tempo, sem pressa, como se Butler mergulhasse na composição de esboços instrumentais e poéticos concebidos após a última sequência de obras. Uma obra que encanta pelo direcionamento minucioso de cada componente estético, como se pensada para ser desvendada pelo ouvinte.

Como forma de suprir a ausência de Maraire, Butler decide estreitar a relação com um time seleto de colaboradores e vozes durante toda a execução da obra. Exemplo disso está na jazzística Money Yoga, canção adornada pelo uso de metais e versos complementares do cantor/rapper Darrius, parceiro de estúdio desde o trabalho em Quazarz: Born on a Gangster Star. São pouco mais de cinco minutos em que o ouvinte é convidado a mergulhar em um cenário de formas inexatas e elementos que vão do neo-soul ao R&B atmosférico, conceito que acaba se refletindo mais à frente, na derradeira Reg Walks By the Looking Glass, bem-sucedido encontro com Carlos Overall.

Nada que se compare ao material apresentado na curiosa Bad Bitch Walking. Faixa que mais se distancia do restante da obra, a canção completa pela presença de Stas THEE Boss, ex-integrante do Thee Satisfaction, mostra o esforço de Butler em dialogar com uma sonoridade cada vez mais pop, como uma propositada fuga do experimentalismo testado nos antigos trabalhos do Shabazz Palaces. Proposta que em nenhum momento prejudica a inserção de músicas como Fast Learner, delirante colaboração com Purple Tape Nate que evoca Prince e a produção dos anos 1980, porém, de forma sempre inexata, torta.

De fato, parte expressiva do som produzido por Butler ao longo da obra sobrevive da criativa desconstrução dos elementos e ambientações pouco usuais. É o caso de Chocolate Souffle, música que costura três ou mais décadas de referências de forma propositadamente instável, como uma interpretação futurística do material entregue pelo artista no Digable Planets. Do uso remodelado das vozes, passando pela formação dos sintetizadores e guitarras minimalistas, perceba como incontáveis camadas instrumentais surgem e desaparecem durante toda a execução da obra, tornando a experiência de ouvir o disco sempre imprevisível.

Trabalho mais curioso do Shabazz Palaces desde a viagem sensorial proposta em Lese Majesty, The Don of Diamond Dreams segue como um projeto de essência aventureira, capaz de jogar com as possibilidades durante toda a execução do obra. Princípio de uma nova fase na carreira de Butler, o álbum alterna entre faixas que preservam a essência dos antigos registros do produtor, como Ad Ventures e Wet, e músicas que evidenciam a busca do artista por novas possibilidades, marca das já citadas Money Yoga e Bad Bitch Walking. Instantes de evidente desconstrução criativa e pequenos resgates conceituais, riqueza que se reflete até o último instante do disco.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.