Image
Crítica

Sleater-Kinney

: "Path of Wellness"

Ano: 2021

Selo: Mom + Pop

Gênero: Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: The Julie Ruin e St. Vincent

Ouça: High In The Grass e Worry With You

6.0
6.0

Sleater-Kinney: “Path of Wellness”

Ano: 2021

Selo: Mom + Pop

Gênero: Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: The Julie Ruin e St. Vincent

Ouça: High In The Grass e Worry With You

/ Por: Cleber Facchi 18/06/2021

Poucos regressos ao longo da última década foram tão impactantes quanto a volta do Sleater-Kinney com No Cities to Love (2015). Primeiro trabalho de estúdio de Carrie Brownstein, Corin Tucker e Janet Weiss desde o hiato iniciado após o lançamento de The Woods (2005), o registro que revelou músicas como Bury Our Friends e Surface Envy apresentou ao público uma banda tão intensa e dinâmica quanto na sequência composta pelos cultuados Dig Me Out (1997), The Hot Rock (1999) e All Hands on the Bad One (2000). E isso ficou ainda mais evidente em Live In Paris (2017), documento ao vivo em que o grupo de Olympia, Washington, parecia testar os próprios limites em cima do palco, entrega que vai da bateria explosiva à construção das guitarras e vozes sempre destacadas, fortes.

Pena que essa mesma força não durou tanto tempo. Em uma tentativa clara de se reinventar dentro de estúdio, o grupo lançou há dois anos o transitório The Center Won’t Hold (2019), disco que chama a atenção pelo diálogo com a música eletrônica e a produção de St. Vincent, mas que parece longe de reproduzir a mesma crueza e entrega evidente nos álbuns anteriores do trio estadunidense. Parcialmente esquecido em um ano que revelou obras como Titanic Rising (2019), de Weyes Blood, e Norman Fucking Rockwell (2019), de Lana Del Rey, o registro ainda foi responsável por causar uma série de atritos internos e divergências criativas que resultaram na saída de Weiss, forçando Brownstein e Tucker a rever o calendário de apresentações e estratégia de divulgação do trabalho.

Passado esse período de maior turbulência, a dupla busca se restabelecer com a chegada de Path of Wellness (2021, Mom + Pop), obra que preserva parte da sonoridade acessível incorporada ao disco anterior, porém, mantém firme a relação com as guitarras e parcial urgência que define as criações do grupo desde a segunda metade dos anos 1990. Vem justamente dessa tentativa de amarrar esses dois extremos um dos componentes de maior desequilíbrio e frustração em relação ao álbum. É como se Brownstein e Tucker fossem incapazes de decidir exatamente que direção seguir em estúdio. Canções que a todo momento buscam emular o peso consolidado em registros como The Woods e No Cities to Love, mas que tropeçam na base melódica expressa em The Center Won’t Hold.

E isso fica bastante evidente logo na introdutória faixa-título. Enquanto os versos aportam em um território marcado pela repetição e simplificação dos elementos – “Você nunca poderá me amar o suficiente / Estou no caminho do bem-estar” –, a ausência de peso orienta em essência a sonoridade incorporada pela dupla. São guitarras que miram os anos 1980, passam pela bateria anêmica de Vince Lirocchi e desmancham em um jogo de sintetizadores que mais parecem emular o som produzido em Masseduction (2017), de St. Vincent. Esse mesmo direcionamento acaba se refletindo em diversos momentos ao longo da obra. Canções como Method e Shadow Townn em que Brownstein e Tucker vão de um canto a outro sem necessariamente se aprofundar em um conceito específico.

Claro que isso não interfere na produção de faixas marcadas pela habitual ferocidade do Sleater-Kinney. E isso fica bastante evidente na já conhecida High In The Grass, música dotada de um evidente refinamento melódico, mas que em nenhum momento perde a crueza típica da banda de Olympia. A mesma intensidade acaba se refletindo em Tomorrow’s Grave, composição reforçada pela bateria de Angie Boylan, com quem a dupla tem excursionado desde o último ano, e uma fuga do pop reducionista testado em The Center Won’t Hold. O problema é que, mesmo nesses pontos de maior acerto, tudo soa como uma verão simplificada do material entregue em No Cities to Love. Canções que sobrevivem como uma tentativa da dupla em emular conceitualmente o próprio passado.

Dos poucos momentos em que perverte essa estrutura, Brownstein e Tucker garantem ao público algumas das melhores composições do disco. É o caso de Complex Female Characters, música que desacelera, porém, cresce na brilhante discussão sobre machismo – “Eu gosto dessas personagens femininas complexas / Mas eu quero que minhas mulheres caiam facilmente” –, e uso destacado das guitarras, transportando o álbum para um novo território. Surgem ainda músicas como a curtinha No Knives, canção que mostra a capacidade da banda em lidar com o reducionismo dos elementos de forma sensível. Instantes em que o Sleater-Kinney, sem se valer de fórmulas prontas ou propostas deslocadas, mostra por que se transformou em um dos grupos mais influentes da cena estadunidense.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.