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Crítica

Soccer Mommy

: "Color Theory"

Ano: 2020

Selo: Loma Vista

Gênero: Indie Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Snail Mail, Lucy Dacus e Girlpool

Ouça: Circle The Drain e Night Swimming

8.3
8.3

Soccer Mommy: “Color Theory”

Ano: 2020

Selo: Loma Vista

Gênero: Indie Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Snail Mail, Lucy Dacus e Girlpool

Ouça: Circle The Drain e Night Swimming

/ Por: Cleber Facchi 02/03/2020

A grande beleza da obra de Soccer Mommy sempre esteve na capacidade de Sophie Allison em utilizar de uma instrumentação diminuta como contraponto à força dos sentimentos detalhados em cada verso. Um doloroso exercício criativo que passeia por memórias da infância, relacionamentos fracassados e a constante sensação de isolamento do eu lírico, estrutura que se reflete em algumas das principais faixas apresentadas pela artista durante o lançamento de Clean (2018), caso de Your Dog, Cool e todo o fino repertório que encontra em vivências da musicista um estímulo para a formação das letras.

Interessante perceber em Color Theory (2020, Loma Vista), segundo álbum de estúdio da guitarrista estadunidense, um delicado ponto de ruptura criativa. Produzido em parceria com o experiente Gabe Wax, produtor que já trabalhou ao lado de nomes como The War On Drugs e Beirut, o registro de dez faixas preserva a essência confessional detalhada no trabalho que o antecede, porém, se permite avançar criativamente, provando de novas sonoridades, melodias atmosféricas e diferentes formas de fazer música.

Não por acaso, Allison fez de Yellow Is the Color of Her Eyes uma das primeiras faixas do disco a serem apresentadas ao público. Composição mais extensa já produzida pela guitarrista norte-americana, a canção se espalha em um intervalo de mais de sete minutos de melodias sempre detalhistas, ambientações e vozes sobrepostas, estrutura que naturalmente perverte o habitual badroom pop da artista em prol de uma exercício grandioso. “Estou pensando nela de cima do oceano / Veja seu rosto nas ondas, seu corpo está flutuando / E olhos dela, como clementinas, eu sei que ela está desaparecendo“, canta em uma delicada reflexão sobre a passagem do tempo e o distanciamento da própria mãe.

A própria sequência de abertura do disco, formada por Bloodstream e Circle The Drain, reflete o profundo amadurecimento de Allison. Canções que se revelam ao público em pequenas doses, sem pressa, ocultando e revelando incontáveis camadas instrumentais, como uma extensão natural de tudo aquilo que a artista havia testado álbum anterior. “Ei, eu tenho desmoronado esses dias / Dividida, vendo meu coração partir / Rodando e rodando, voltas e voltas / Circulando pelo ralo, eu vou descer“, desaba. São criações marcadas pela profunda entrega sentimental, proposta que naturalmente aproxima a arista estadunidense de algumas de suas principais referências criativas, como Taylor Swift e Mitski.

Entretanto, assim como em Clean, sobrevive nos momentos de maior reducionismo da obra a real beleza de Color Theory. É o caso de Night Swimming, composição marcada pela economia dos arranjos, ruídos ocasionais e uso atmosférico da voz, estímulo para uma das letras mais sensíveis já compostas por Allison. “Você me viu afundar na água como uma pedra / Mais uma vez, deixe ir / Vim tomar fôlego e descobri que estava sozinha / Eu deveria saber“, canta. O mesmo refinamento acaba se refletindo em outros momentos ao longo do álbum, como na crescente Royal Screw Up, canção que lembra a boa fase de Elliott Smith, ou mesmo a derradeira Gray Light, com sua bateria eletrônica e vozes semi-declamadas.

Pontuado por instantes de maior exaltação, como em Crawling in My Skin e Lucy, música em que canta sobre a necessidade de enfrentar os próprios demônios interiores, Color Theory alcança um ponto de equilíbrio entre o reducionismo que marca os primeiros trabalhos de Soccer Mommy e a busca por novas possibilidades iniciada em Clean. Canções que partem de experiências pessoais, desilusões e conflitos vividos pela própria artista, porém, sempre trabalhados de forma acessível, estrutura que orienta a experiência do ouvinte tão logo o álbum tem início, em Bloodstream, e segue até a derradeira Gray Light.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.