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Crítica

Sandro Perri

: "Soft Landing"

Ano: 2019

Selo: Constellation

Gênero: Folk, Indie, Art Rock

Para quem gosta de: Arthur Russell, Bill Callahan e Helado Negro

Ouça: Time (You Got Me) e Back On Love

8.2
8.2

“Soft Landing”, Sandro Perri

Ano: 2019

Selo: Constellation

Gênero: Folk, Indie, Art Rock

Para quem gosta de: Arthur Russell, Bill Callahan e Helado Negro

Ouça: Time (You Got Me) e Back On Love

/ Por: Cleber Facchi 12/09/2019

Sete anos, esse foi o tempo necessário por Sandro Perri para finalizar o sucessor do elogiado Impossible Spaces (2011). Entregue ao público no último ano, In Another Life (2018) mostra o esforço do cantor, compositor e produtor canadense em transitar por entre gêneros de forma sempre climática, estrutura que se reflete no uso contido da voz, delicadas paisagens instrumentais e guitarras que se revelam ao público em pequenas doses, como uma fuga do experimentalismo acústico detalhado em parte expressiva do material entregue anos antes, vide faixas como Wolfman e Love & Light.

Entretanto, o que ninguém esperava era que, poucos meses após o lançamento de In Another Life, Perri estaria de volta com mais um novo registro de inéditas. Intitulado Soft Landing (2019, Constellation), o trabalho segue exatamente de onde o músico norte-americano parou no último ano, transitando em meio a melodias atmosféricas, vozes tratadas como instrumentos e instantes de profunda leveza, cuidado que orienta a experiência do ouvinte até a autointitulada faixa de encerramento.

A principal diferença em relação ao material entregue no último ano está na forma como Perri trata do álbum como uma obra marcada pela ambientação dos temas, cercando e confortando em meio a variações essencialmente detalhistas. Não por acaso, o guitarrista canadense escolheu a extensa Time (You Got Me) como faixa de abertura do disco. São pouco mais de 16 minutos em que o ouvinte é convidado a flutuar em uma nuvem de sons atmosféricos, entalhes percussivos e versos que discutem a passagem do tempo dentro de um relacionamento. Um verdadeiro labirinto sentimental e melódico, como um avanço claro em relação a também extensa faixa-título do álbum anterior.

É partindo justamente desse minucioso exercício de abertura que Perri aponta a direção seguida no restante da obra. São variações instrumentais que vão do art rock de Robert Wyatt ao uso de abstrações jazzísticas e improváveis diálogos com o soft rock dos anos 1970 e 1980. O resultado dessa criativa colagem de ideias está na produção de músicas como a serena Floriana. São pouco mais de cinco minutos em que o guitarrista canadense brinca com as ideias em uma medida própria de tempo, abrindo passagem para a inserção de metais e outros componentes antes ocultos na base eletrônica de In Another Life.

Interessante notar que mesmo consumido pela leveza dos elementos, conceito reforçado logo no título da obra — do português, “pouso suave” —, Soft Landing está longe de parecer um trabalho arrastado ou difícil de ser absorvido pelo ouvinte. Pelo contrário: poucas vezes antes um registro entregue por Perri pareceu tão atrativo, íntimo do ouvinte. Seja no romantismo doloroso que invade os versos de Back on Love, ou na nostalgia de Wrong About The Rain, música que parece flertar com clássicos o AOR, tudo se projeta de forma a capturar a atenção do ouvinte.

Trabalho mais acessível de Perri, Soft Landing reflete a capacidade do músico canadense em dialogar com uma nova parcela do público, porém, preservando o mesmo detalhamento estético que tem sido refinado pelo artista desde os antigos trabalhos com a Polmo Polpo, sua primeira banda. Trata-se de uma obra de imersão, como tudo aquilo que o artista vem produzindo desde a estreia em carreira solo, minúcia que se reflete tão logo o disco tem início, em Time (You Got Me), e encanta a cada novo movimento do músico dentro de estúdio.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.