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Crítica

Spencer Zahn

: "Sunday Painter"

Ano: 2020

Selo: Cascine

Gênero: Jazz, Instrumental, Pós-Rock

Para quem gosta de: Tortoise e Seahawks

Ouça: Key Biscayne, Ten To One e The Mist

7.5
7.5

Spencer Zahn: “Sunday Painter”

Ano: 2020

Selo: Cascine

Gênero: Jazz, Instrumental, Pós-Rock

Para quem gosta de: Tortoise e Seahawks

Ouça: Key Biscayne, Ten To One e The Mist

/ Por: Cleber Facchi 22/09/2020

Colaborador frequente de nomes como Empress Of, Dawn Richard e Kimbra, Spencer Zahn passou os últimos dois anos investindo na produção de um repertório puramente caseiro e atmosférico. São obras como People of the Dawn (2018) e When We Were Brand New (2019) em que o artista norte-americano brinca com a fina sobreposição dos elementos, delicadas paisagens instrumentais e ruídos de forma sempre solitária. Estudos pessoais que passam por novo tratamento nas canções do recém-lançado Sunday Painter (2020, Cascine), principio de uma nova fase na carreira do multi-instrumentista atuante na região do Brooklyn, em Nova Iorque.

Diferente dos dois discos anteriores, centrados nas experiências pessoais do músico em um estúdio improvisado, o presente álbum chama a atenção pelo vasto número de colaboradores. São nomes como Jacob Bergson (pianos), Andy Highmore (pianos, órgão), Spencer Ludwig (trompete), Mike McGarril (saxofone), o brasileiro Mauro Refosco (percussão), Kenny Wollesen (bateria) e Dave Harrington (guitarras), esse último, parceiro de longa data do artista e conhecido pelas experimentações ao lado de Nicolas Jaar, no Darkside. “Eu queria reunir um grupo de pessoas que eu sabia que seriam sensíveis a tocar juntos em uma sala e usar desse espaço como um membro extra da banda“, comentou no texto de apresentação do registro.

Com base nessa estrutura, Zahn garante ao público uma obra que exige ser desvendada pelo ouvinte. São incontáveis camadas instrumentais, arranjos e inserções sempre detalhistas, como se cada elemento fosse apresentado em uma medida própria de tempo, sem pressa. Exemplo disso acontece em Ten To One. Música mais extensa do disco, a canção ganha forma em meio a movimentações calculadas de cada colaborador. São pianos, sopros, estruturas atmosféricas e a percussão sempre tratada de maneira complementar, indicativo do evidente domínio do artista e seus parceiros de estúdio durante toda a execução de Sunday Painter.

Parte desse esmero vem do esforço do próprio artista em analisar e replicar muitos dos conceitos incorporados em diferentes exemplares do jazz ao longo das décadas. São ecos de Miles Davis e Herbie Hancock, como em The Mist, porém, partindo de uma estrutura minimalista, como se Zahn em nenhum momento ultrapassasse um específico território criativo. Perfeita representação desse resultado acontece logo nos primeiros minutos do álbum, na já conhecida Key Biscayne. São pouco mais de cinco minutos em que o multi-instrumentista propõe uma delicada viagem instrumental, ocultando e revelando diferentes referências criativas sem qualquer traço de apego.

Se por um lado esse maior reducionismo na composição dos arranjos parece pensado para capturar a atenção do ouvinte, por outro, fica evidente o excesso de comodismo na segunda metade do trabalho. Passado o lançamento de Ten To One, com suas camadas e ambientações sinuosas, Zahn e seus parceiros parecem dar voltas em torno de um limitado conjunto de ideias, tornando a experiência do ouvinte arrastada. É como se o álbum fosse incapaz de alcançar um possível ponto de virada, reciclando ideias e conceitos previamente testados pelo músico, defeito que antecede a produção de Sunday Painter e que também se reflete em People of the DawnWhen We Were Brand New.

Entretanto, uma vez observado em comparação aos dois registros que o antecedem, difícil não pensar em Sunday Painter como um importante ponto de transformação na carreira de Zahn. Longe dos overdubs e limitado conjunto de elementos incorporados até o último ano, o artista norte-americano garanta ao público uma obra viva. São ambientações delicadas, improvisos e instantes onde diferentes holofotes apontam para cada colaborador da obra. Um registro talvez cômodo quando observamos o seleto time de instrumentistas que o integram, porém, sempre atrativo e musicalmente marcado pela riqueza de cada elemento.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.