Image
Crítica

Squid

: "Bright Green Field"

Ano: 2021

Selo: Warp

Gênero: Art Rock, Pós-Punk, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Black Midi, Black Country, New Road e Iceage

Ouça: Narrator, Pamphlets e Paddling

8.0
8.0

Squid: “Bright Green Field”

Ano: 2021

Selo: Warp

Gênero: Art Rock, Pós-Punk, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Black Midi, Black Country, New Road e Iceage

Ouça: Narrator, Pamphlets e Paddling

/ Por: Cleber Facchi 21/05/2021

Mesmo em um cenário dominado por nomes cada vez mais inventivos dentro da cena inglesa, como Black Midi e o coletivo Black Country, New Road, os integrantes da Squid assumem uma posição de destaque. Hoje formado por Ollie Judge, Louis Borlase, Arthur Leadbetter, Laurie Nankivell e Anton Pearson, o quinteto de Brighton passou os últimos quatro anos testando os próprios limites dentro de estúdio. E isso fica bastante evidente no curto repertório montado pelo grupo ao longo dos anos, vide o material apresentado em Town Centre (2019), Natural Resources (2020) e toda uma sequência de músicas que preservam a essência de veteranos como This Heat, uma das referências da banda, mas que a todo momento se permitem provar de novas possibilidades e escolhas criativas.

E isso fica bastante evidente nas composições de Bright Green Field (2021, Warp), primeiro álbum de estúdio do quinteto britânico e uma obra entregue aos inventos, delírios e experimentos de seus realizadores. Naturalmente íntimo de tudo aquilo que Shame, Fontaines D.C. e outros nomes próximos têm produzido, o trabalho utiliza da herança da música inglesa dos anos 1970/1980, porém, encontra em outros territórios além-mar um precioso componente de renovação e busca pela própria identidade. Exemplo disso acontece na já conhecida Narrator, música que evoca conterrâneos como Gang of Four, mas que parece mais interessada em aportar nas criações de estrangeiros como Neu! e Sonic Youth, tratamento que vai da manipulação distorcida das guitarras à inserção dos vocais.

A principal diferença em relação a outros nomes recentes, como o Dry Cleaning, também guiado pelo mesmo direcionamento estético, está na forma como os membros do Squid dão tempo às faixas. São registros deliciosamente extensos. Canções que se espalham por mais de oito minutos de duração, possibilitando ao grupo a chance de colidir ideias e referências de forma sempre inexata. Fragmentos de vozes que se espalham em meio a camadas de sintetizadores e guitarras labirínticas, proposta que aponta para as criações de veteranos do krautrock, mas que em nenhum momento sufoca o caráter autoral do quinteto, conceito que ganha ainda mais destaque nos versos existencialistas, tormentos e conflitos pessoais que servem de sustentação ao material entregue pelos integrantes da banda.

Perfeita representação desse resultado acontece em Pamphlets, música de encerramento do disco. Enquanto a base instrumental da canção ganha forma em meio a guitarras sobrepostas e ruídos que parecem saídos do atrito de uma cuíca, Judge mergulha em uma canção marcada pela sensação de deslocamento do eu lírico. “Dentes pálidos e sorrisos brancos / Eles não se importam e eu não me importo / Tijolos claros e sorrisos largos / É por isso que eu não saio“, canta. A mesma sensação acaba se refletindo em outros momentos ao longo da obra. São canções como Boy Racers e a já citada Narrator em que o quinteto se reveza na construção de melodias tortas que dialogam de forma expressiva com a construção dos versos, sempre íntimos das experiências de qualquer ouvinte.

Curioso notar justamente nas canções menos extensas do disco, como G.S.K. e 2010, uma representação clara dos momentos de maior instabilidade da obra. São faixas que, embora coesas estruturalmente, parecem incapazes de alcançar o mesmo refinamento estético e caráter provocativo que marca o restante do álbum. E isso fica bastante evidente nos temas jazzísticos de Global Groove, composição que captura a atenção do ouvinte, porém, morre precocemente, evitando momentos de maior experimentação e desenhos rítmicos que parecem bem-resolvidos em canções como Boy Racers. Não por acaso, músicas como Paddling refletem o que há de melhor no som produzido pelo quinteto. Instantes em que o grupo parte de uma base minimalista, porém, cresce substancialmente.

Entretanto, por se tratar de um registro de estreia, nada mais justo que garantir ao quinteto a possibilidade de lidar com diferentes abordagens em estúdio. Na verdade, o grande adversário do grupo em Bright Green Field são seus próprios integrantes. Da explosão instrumental e lírica detalhada em Narrator até alcançar a derradeira Pamphlets, tudo é tratado de forma tão complexa que, aos esbarrar em momentos de maior instabilidade, a percepção de quebra é quase imediata. São canções que ganham forma e crescem em uma medida particular de tempo, mudando de direção e assumindo percursos pouco usuais, proposta que consolida a identidade e estética da banda inglesa, mas que a todo momento cria novas brechas e deixa o caminho aberto para os futuros trabalhos.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.