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Crítica

Tagua Tagua

: "Inteiro Metade"

Ano: 2020

Selo: Independente

Gênero: Pop Rock, Rock Nacional

Para quem gosta de: Maglore, Boogarins e O Terno

Ouça: Inteiro Metade, 4AM e Bolha

7.8
7.8

Tagua Tagua: “Inteiro Metade”

Ano: 2020

Selo: Independente

Gênero: Pop Rock, Rock Nacional

Para quem gosta de: Maglore, Boogarins e O Terno

Ouça: Inteiro Metade, 4AM e Bolha

/ Por: Cleber Facchi 26/11/2020

Mais do que um complemento estético, a colorida sobreposição de formas que estampa a imagem de capa de Inteiro Metade (2020, Independente), primeiro álbum de estúdio do Tagua Tagua, funciona como um indicativo claro do som produzido por Felipe Puperi. E isso pode ser percebido logo nos primeiros minutos do trabalho, na introdutória Mesmo Lugar. Entre guitarras ensolaradas que atravessam o rock dos anos 1970, uma linha de baixo suculenta e metais delicadamente ampliam os limites da obra produzida, composta e gravada pelo ex-integrante da Wannabe Jalva e colaborador de nomes importantes como Filipe Catto e Johnny Hooker.

O mesmo resultado acaba se refletindo na segunda faixa do álbum, Só Pra Ver. São pouco menos de quatro minutos em que o músico gaúcho evoca Arctic Monkeys e Maglore no refinamento dos arranjos, contudo, sustenta no lirismo intimista um precioso traço autoral. “Eu vou até o fundo só pra ver / Que eu ando e só acabo em você / Eu vou até bem longe só pra ver / Que eu ando e só acabo em você“, confessa. Interessante perceber na canção seguinte, 4AM, o mesmo romantismo agridoce, porém, partindo de uma nova abordagem criativa. São batidas eletrônicas e sintetizadores que se espalham em meio a camadas de ruídos, como um complemento às vozes detalhadas ao longo da canção. “Conto as horas pra ter voltar / Saio, ensaio minha vida em você / Deixo o vento arder no peito e me queimar / Pra ascender“, canta.

Com a chegada de 2016, Puperi traz de volta o rock nostálgico que embala os minutos iniciais da obra. São guitarras deliciosamente psicodélicas, vozes em coro e sintetizadores trabalhados de forma atmosférica, cobrindo toda a superfície da canção. É como se o músico transportasse para dentro de estúdio tudo aquilo que tem sido explorado desde os primeiros registros em carreira solo, Tombamento Inevitável (2017) e Pedaço Vivo (2018), entretanto, de forma ainda mais sensível e detalhista, tratamento se reflete com naturalidade até a música seguinte, Bolha, com seus falsetes e melodias delirantes que lembram Tame Impala.

Em Até Cair, sexta faixa do disco, a passagem para o lado mais sombrio e, curiosamente, inventivo da obra. Do tratamento dado às guitarras ao uso instrumental das vozes, sempre quebradas, Puperi parece brincar com as possibilidades dentro de estúdio, como uma fuga do pop rock acessível que embala a primeira metade do trabalho. A própria faixa-título do álbum, embora íntima do som incorporado em Mesmo Lugar e Só Pra Ver, segue uma trilha particular, desacelerando de forma a valorizar cada fragmento instrumental e sentimento compartilhado pelo artista. “Feito ferro no sal / Eu sou inteiro e metade / Risco de verso final / Vou deslizando em saudade“, se entrega em meio a guitarras espaçadas e batidas sempre certeiras.

Passado o breve experimentalismo de Sopro, composição marcada pelo jogo das batidas e melodias tortas, Puperi encaminha o disco para o fechamento com a entristecida Do Mundo. São guitarras vagarosas, ruídos e texturas atmosféricas que fazem lembrar de Rodrigo Amarante em carreira solo, porém, preservando os timbres que parecem tão característicos de Tagua Tagua. Instantes em que o músico gaúcho alterna entre a melancolia e necessidade de um novo começo. “Vem, me abraça, me envolve nos teus sinais / Que agora eu sou o mundo / Que agora eu sou do mundo“, pontua.

Com base nessa estrutura, Puperi garante ao público um registro que transita por diferentes abordagens criativas, propostas e referências de forma sempre atrativa, produto do completo amadurecimento e segurança do artista, há mais de uma década ativo em diversos projetos da cena brasileira. Não se trata de uma obra revolucionária ou minimamente transgressora, mas de um exercício cuidadoso, como se o músico gaúcho soubesse exatamente que direção seguir dentro de estúdio, detalhando questões existencialistas, romances e desilusões de forma sempre sensível e particular.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.