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Ano: 2020

Selo: QTV

Gênero: Experimental, Eletrônica, Industrial

Para quem gosta de: Negro Leo e Cadu Tenório

Ouça: Piorou, Jogação e A Hora do Brasil

8.5
8.5

Tantão e os Fita: “Piorou”

Ano: 2020

Selo: QTV

Gênero: Experimental, Eletrônica, Industrial

Para quem gosta de: Negro Leo e Cadu Tenório

Ouça: Piorou, Jogação e A Hora do Brasil

/ Por: Cleber Facchi 02/12/2020

Nada é tão ruim que não possa piorar. E Carlos Antônio Mattos, o Tantão, parece entender bem isso. Pouco mais de um ano após o lançamento do caótico Drama (2019), o artista carioca está de volta com Piorou (2020, QTV), terceiro registro da parceria com Abel Duarte e Cainã Bomilcar, os Fita, e um misto de sequência e fina desconstrução de tudo aquilo que tem sido produzido desde a estreia com Espectro (2017). São fragmentos de vozes, texturas e batidas trabalhadas de forma sempre inexata, torta, tratamento que se reflete tão logo o álbum tem início, em Introdução ao Pirou, e segue de maneira deliciosamente insana até a música de encerramento, Tênis.

Pensado para que o ouvinte se perca dentro dele, Piorou, assim como o registro que o antecede, parte de uma base reducionista, porém, cresce na criativa sobreposição de cada elemento apresentado ao longo da obra. São poemas curtos que se espalham em meio a vozes picotadas, glitches e sintetizadores, como uma turbulenta colisão de ideias que parece ganhar vida própria. Exemplo disso acontece logo nos nos momentos iniciais da obra, na faixa-título do álbum. Pouco mais de dois minutos em que o lirismo pessimista da canção parece retorcido pelo uso das batidas e bases labirínticas.

Piorou / Piorou / Piorou / Vai piorar“, reforça Tantão enquanto Duarte e Bomilcar apontam o caminho que será percorrido até o encerramento da obra. Esboços conceituais em que a dupla resgata o caráter industrial que tem sido incorporado desde a estreia com Espectro, porém, de forma cada vez mais imprevisível, jogando com a interpretação do público. É como se diferentes retalhos instrumentais fossem selecionados, triturados e remontados de forma irregular, fazendo desse permanente estado de desconforto um componente fundamental para o crescimento do álbum.

O mesmo direcionamento torto acaba se refletindo em outros momentos ao longo da obra. São composições como Pessoas Do Mal (“A censura / A força da censura / A sabotagem da cura / Tá mandado / Pessoas do mal“) e Bonito (“Escolha sua cores / Escolha sua bandeira / Escolha o seu lado / Faça sua escolha“), em que Tantão reforça o discurso político presente em Drama, porém, em uma estrutura cada vez mais atrelada ao movimento das batidas, melodias e samples. De fato, perto do repertório apresentado no disco anterior, Piorou posiciona a voz em segundo plano, valorizando cada mínimo componente assinado em conjunto pela duplas de produtores.

Contudo, enquanto Drama se projeta como soco, sempre direto e violento, Piorou assume uma abordagem quase atmosférica. Canções que passeiam em meio a paisagens urbanas do Rio de Janeiro, utilizam de captações de campo, ruídos e elementos do cotidiano como estímulo para a construção das faixas. Exemplo disso acontece em Geradores, música que parte do alarme de um carro para a formação das batidas e temas instrumentais. O mesmo acontece em Cadê Meu Dinheiro, composição montada a partir do som de celulares e a intensa Autorama, com seus sintetizadores acelerados e samples que cheiram a gasolina, aumentando o ritmo frenético da canção.

Feito para ser revisitado, Piorou chama a atenção pelo caráter anárquico das batidas e uso fragmentado das vozes, contudo, oculta um universo de pequenos detalhes que exigem ser desvendados pelo público. São camadas e mais camadas de melodias abstratas, ruídos e retalhos eletrônicos que parecem cobrir a poesia de Tantão, conceito que dialoga diretamente com a imagem de capa do disco, uma pintura de Pedro Barassi. Instantes em que o trio preserva a essência dos antecessores Espectro e Drama, contudo, se permite ir além, utilizando de ambientações granuladas, quebras e rupturas que tornam a experiência de ouvir o trabalho imprevisível.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.