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Crítica

Tarda

: "Futuro"

Ano: 2020

Selo: Independente

Gênero: Dream Pop, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Sara Não Tem Nome e Jonathan Tadeu

Ouça: Futuro e Ninguém Por Enquanto

7.5
7.5

Tarda: “Futuro”

Ano: 2020

Selo: Independente

Gênero: Dream Pop, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Sara Não Tem Nome e Jonathan Tadeu

Ouça: Futuro e Ninguém Por Enquanto

/ Por: Cleber Facchi 24/11/2020

Vozes tratadas como um sopro, guitarras atmosféricas e batidas sempre calculadas, como um complemento aos temas instrumentais. Em Futuro (2020, Independente), primeiro álbum de estúdio do coletivo formado por Sara Não Tem Nome, Julia Baumfeld, Paola Rodrigues, Victor Galvão e Randolpho Lamonier, cada fragmento do registro parece fluir em uma medida própria de tempo. São canções marcadas pelo uso de texturas acinzentadas e ruídos sobrepostos, como uma interpretação sonora das angústias, medos e conflitos sentimentais que invadem a mente de seus realizadores e orientam a experiência do público até o último segundo da obra.

Ninguém me dirá quem sou / Nem saberá quem fui“, reforça Sara na introdutória Ninguém Por Enquanto. Uma das primeiras composições do disco a serem apresentadas ao público, a faixa não apenas reflete o lirismo existencialista que serve de sustento ao disco, como apresenta parte das regras e ambientações que serão melhor exploradas pelo quinteto até o fechamento do material. Canções de essência labiríntica, sempre misteriosas e incertas, como se pensadas para serem desvendadas pelo ouvinte, alterando o curso à medida em que o grupo avança pelo interior do trabalho.

Exemplo disso acontece em Buraco de Afundar. Faixa mais extensa do disco, a canção parte de uma atmosfera contida, porém, ganha novos contornos a cada novo movimento das guitarras e vozes declamadas, ampliando os limites da obra. São pouco mais de seis minutos em que ambientações reducionistas se entrelaçam de forma a revelar um delirante turbilhão instrumental, como uma criativa colagem de ideias. “Meus olhos se fecham / E se deixar que me levem?“, questiona a letra da canção enquanto arranjos ascendentes esbarram na obra de veteranos como Slint e Mogwai.

O mesmo direcionamento acaba se refletindo em outros momentos ao longo da obra. São músicas como Cane Lugubre e Liturgia das Horas em que o grupo avança lentamente, pervertendo o minimalismo das vozes e formas instrumentais de forma a mergulhar em um agitado oceano de possibilidades. Mesmo composições como a econômica e já conhecida Breath, com seus violões e melodias entristecidas, parece maior e mais complexa a cada nova audição, oscilando em meio a instantes de maior leveza e variações que parecem ampliar a melancolia explícita nos versos.

Entretanto, mesmo regido por essa permanente busca por novas abordagens, não há como ignorar a forte semelhança entre determinadas faixas que surgem ao longo do álbum. É o caso de Hilda e Pantasma. Marcadas pelo uso picotado das vozes e captações extraídas de nomes como Dilma Rousseff, Clarice Lispector e Hilda Hilst, ambas as canções adotam uma linguagem bastante similar, reforçando a sensação de uma obra que dá voltas em torno de si mesma. O próprio tratamento dado às guitarras, sempre sombrias e lentas, contribui para esse desgaste, como se o registro fosse incapaz de ultrapassar um limitado cercado conceitual.

Nesse sentido, mais do que oferecer uma experiência aprazível e imediata, Futuro é um trabalho que joga com a interpretação do público. São canções que se espalham em meio a ambientações carregadas de efeito, delírios sentimentais e pequenas abstrações que se conectam diretamente aos versos. Instantes em que cada realizador transporta para dentro de estúdio parte dos próprios medos e vivências, conceito que talvez custe a se relacionar com o ouvinte mais apressado, mas que invariavelmente convence o ouvinte a se perder nesse território tão particular.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.