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Crítica

Tasha & Tracie

: "Diretoria"

Ano: 2021

Selo: Ceia Ent.

Gênero: Hip-Hop, Rap, Brime

Para quem gosta de: N.I.N.A, Febem e SD9

Ouça: Lui Lui, SUV e Amarrou

8.6
8.6

Tasha & Tracie: “Diretoria”

Ano: 2021

Selo: Ceia Ent.

Gênero: Hip-Hop, Rap, Brime

Para quem gosta de: N.I.N.A, Febem e SD9

Ouça: Lui Lui, SUV e Amarrou

/ Por: Cleber Facchi 03/09/2021

Produto das conquistas, memórias e vivências das gêmeas Tasha e Tracie Okereke, Diretoria (2021, Ceia Ent.) é uma verdadeira celebração. Do momento em que tem início, em meio a fragmentos de programas de TV e citações de nomes como Djonga, passando pela construção dos versos, sempre marcados pelo permanente senso de glória, cada mínimo fragmento do trabalho funciona como um mergulho na mente e nos momentos de triunfo da dupla paulistana. Composições que pervertem o habitual discurso autocentrado, típico de uma obra do gênero, para sustentar no lirismo explícito e livre de possíveis amarras uma interpretação deliciosamente particular sobre o universo feminino.

Quer minha atenção? Me pague / Porque eu não falei, eles pensam que eu não sei / Que nenhum botava fé, agora diz: ‘Eu sempre acreditei’“, dispara logo nos primeiros minutos do trabalho, em Rouff. Enquanto os versos, sempre autobiográficos, resgatam memórias de um passado ainda recente, batidas reducionistas, quebras e ruídos metálico, típicos da produção de CESRV, sintetizam parte dos elementos que serão explorados ao longo do registro. São ideias e atravessamentos rítmicos que vão de retalhos de funks antigos ao brime, proposta que naturalmente dialoga com outros exemplares da cena paulistana, porém, preservando a identidade e permanente entrega das duas artistas.

E isso fica ainda mais evidente na composição seguinte, Amarrou. Com produção dividida entre DJ MF e Pizzol, a faixa completa pela participação do rapper Veigh, cresce na criativa sobreposição das rimas compartilhadas pela dupla. Enquanto Tasha provoca (“Mandraka da Norte / Bonita igual um malote / Eles não aguenta / I’m so bossy“), Tracie ataca (“Peitinho, bumbum pequeno, mas mexe-mexe bem / Quando eu chamo, ele vem / Fodo ele igual atriz“). É como um acumulo natural de tudo aquilo que as gêmeas haviam testado em uma série de outras músicas apresentadas nos últimos meses, caso da ainda recente Salve, lançada no último ano, e Tang, bem-sucedida colaboração com Kyan.

Com a chegada de Cheat Code, o trabalho acelera e cresce sem necessariamente romper com a abordagem econômica do restante da obra. Inaugurada pelas rimas de Vinex, a música que conta com batidas de Devasto Prod mais uma vez reflete a força das rimas lançadas pelas duas irmãs. Nada que se compare ao material entregue na composição seguinte, Lui Lui. Centrada nas conquistas da dupla (“Sempre quis ter uma Lui Lui / Agora com vários Adidas / Eu revezava dois boot / Hoje eu só pago à vista“), a faixa que se completa pela presença de Febem e ONNiKA parece pensada para hipnotizar o ouvinte, direcionamento que vai da produção minuciosa de MU540 ao encaixe dos versos.

Uma vez imerso nesse território, mesmo faixas ja conhecidas ganham novo significado dentro do álbum. É o caso de SUV. Originalmente lançada em julho, a parceria com Yunk Vino amplia parte dos temas exploradas pela dupla desde os minutos iniciais do registro. “Desci a pé pro baile, todo dia era o mesmo tênis / E eu nem lembro mais do mal que você me fez / E pode pá que não me atrasa o progresso de ninguém / Com nós ‘cê não vai na Mercedes SUV“, adverte Tasha, levantando o dedo do meio para todos aqueles que desacreditaram no trabalho da dupla. É como um fechamento temático do ciclo iniciado na introdutória Wanna Be’s, onde parte desses conceitos são apresentados.

Não por acaso, com a autointitulada música de encerramento, Tasha & Tracie seguem uma trilha parcialmente distinta em relação ao restante do trabalho. Da construção das batidas, sutilmente adornadas pela percussão de uma escola de samba, à formação dos versos, cada mínimo fragmento da composição parece pensado de forma a preparar o terreno para os próximos lançamentos da dupla paulistana. “Sempre em movimento, eu sigo … Essa nave só anda pra frente / Independente de você“, reforça. Instantes em que as duas artistas pintam um quadro recente da própria história e celebram conquistas, porém, pavimentando um caminho consistente para o futuro.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.