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Crítica

Taylor Swift

: "Folklore"

Ano: 2020

Selo: Republic

Gênero: Pop, Folk, Country Folk

Para quem gosta de: Kacey Musgraves e Selena Gomez

Ouça: Exile, Mad Woman e This Is Me Trying

7.5
7.5

Taylor Swift: “Folklore”

Ano: 2020

Selo: Republic

Gênero: Pop, Folk, Country Folk

Para quem gosta de: Kacey Musgraves e Selena Gomez

Ouça: Exile, Mad Woman e This Is Me Trying

/ Por: Cleber Facchi 30/07/2020

Do ambiente colorido que embala as canções de Lover (2019) para o cenário em branco e preto de Folklore (2020, Republic). Pouco menos de um ano após o lançamento do último trabalho de estúdio, Taylor Swift está de volta com um novo registro de inéditas. Concebido e gravado durante o período de isolamento, o álbum de essência melancólica e arranjos reducionistas nasce como um produto das memórias e experiências vividas pela cantora e compositora norte-americana. “A maioria das coisas que havia planejado para o verão não aconteceram, mas há algo que não planejei que acabou acontecendo“, contou no texto de apresentação do disco. São letras sempre confessionais, sensíveis, como uma extensão natural de tudo aquilo que Swift tem produzido desde o amadurecimento em obras como Speak Now (2010) e Red (2012).

Eu persisto e resisto à tentação de lhe perguntar / Se uma coisa tivesse sido diferente / Tudo seria diferente hoje?“, questiona na introdutória The 1, música em que passeia em meio a conflitos intimistas e momentos de doce vulnerabilidade, conceito que orienta parte expressiva da experiência do ouvinte até a música de encerramento do disco, Hoax. A principal diferença em relação aos antigos trabalhos da cantora, principalmente quando voltamos os ouvidos para os antecessores Reputation e Lover, está na busca por um som menos urgente, como uma fuga do pop tradicional. Instantes em que Swift se despe da produção eletrônica ampliada durante o lançamento de 1989 (2014), casa de músicas como Bad Blood e Shake It Off, para mergulhar em um território de emanações contidas, dialogando com a fotografia bucólica que estampa a imagem de capa.

Parte dessa mudança de direção vem da escolha da cantora em estreitar a relação com o produtor Aaron Dessner. Conhecido pelo trabalho como integrante do The National, o multi-instrumentista transporta para dentro de estúdio parte da melancolia explícita em alguns dos principais registros do grupo de Ohio, como Trouble Will Find Me (2013) e o ainda recente I Am Easy to Find (2019). Mesmo as ambientações eletrônicas que sutilmente correm ao fundo do disco, como em Cardigan e Invisible String, parecem saídas do paralelo Big Red Machine, projeto assumido em parceria com Justin Vernon, do Bon Iver. Vem justamente dessa relação entre Dessner e Vernon o estímulo para uma das principais faixas do álbum, Exile, precioso dueto que concentra o que há de melhor na obra de cada colaborador. “Eu não conseguia mudar as coisas (você nunca mudou as coisas) / Porque você nunca deu um sinal de aviso (eu dei tantos sinais) / Tantos sinais, tantos sinais / Você nem viu os sinais“, cresce a delicada letra da canção.

Se por um lado a presença de Dessner contribui para o surgimento de algumas das composições mais sensíveis já produzidas pela cantora, por outro, a ausência de ritmo, uso econômico da bateria e forte similaridade entre as faixas torna a experiência do ouvinte arrastada em diversos momentos. Longe do baterista do The National, Bryan Devendorf, com quem contribui apenas em Seven, Dessner repete os mesmos erros do Big Red Machine, garantindo ao público uma obra que custa a avançar. É somente quando Jack Antonoff, co-produtor do disco, aparece, que o trabalho ganha novo fôlego. São faixas como a agridoce Mirrorball, com suas guitarras e batidas ritmadas, e, principalmente, a sequência composta por August e This Is Me Trying, canções que se comportam como resquícios do lado mais acessível de Taylor, porém, dentro desse novo universo conceitual.

Outro elemento de desconforto durante a execução do trabalho diz respeito à escolha dos temas incorporados pela artista. Perto de completar duas décadas de carreira, Swift continua ancorada no mesmo eu lírico gracioso dos primeiros registros autorais. São canções que continuamente refletem a imagem de uma jovem inocente e suas desilusões sentimentais, conceito reforçado no triângulo amoroso narrado em faixas como Cardigan e Betty. Cercada de novos colaboradores em estúdio, será que esse não seria esse o momento para provar de diferentes possibilidades na construção dos versos? A própria cantora apresenta um esboço disso na excelente Mad Woman, música que mais se distancia do restante da obra e uma necessária reflexão sobre os conflitos enfrentados contra o empresário Scooter Braun. “Ninguém gosta de uma mulher louca / Você a fez assim / E você cutucará aquele urso até que suas garras saiam“, canta.

Com base nessa estrutura, Folklore se revela ao público como obra repleta de bons momentos, porém, exageradamente cômoda, como se Taylor jogasse de maneira segura durante toda a execução do trabalho. Não há espaço para grandes experimentações ou possíveis riscos, o que seria esperado de um registro como esse. De fato, são poucos os momentos, como no uso instrumental da voz, em My Tears Ricochet, que a cantora se permite avançar criativamente. Assim como em Lover, todos os elementos do trabalho continuam orbitando um universo muito masculino em termos de produção e composição das faixas. Como seria esse mesmo disco se Swift criasse a oportunidade para dialogar outras mulheres da indústria, como Annie Erin Clark (St. Vincent) e Danielle Haim, também produtoras e integrantes do mesmo núcleo escalado para as gravações do álbum? Por ora, um acerto inegável na carreira da cantora, mas que ainda carrega pequenas falhas.



Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.