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Crítica

Tei Shi

: "La Linda"

Ano: 2019

Selo: Downtown

Gênero: R&B, Pop, Indie Pop

Para quem gosta de: Kali Uchis e Empress Of

Ouça: Matando e Even If It Hurts

7.6
7.6

Tei Shi: “La Linda”

Ano: 2019

Selo: Downtown

Gênero: R&B, Pop, Indie Pop

Para quem gosta de: Kali Uchis e Empress Of

Ouça: Matando e Even If It Hurts

/ Por: Cleber Facchi 26/11/2019

A grande beleza da obra de Valerie Teicher como Tei Shi sempre esteve na capacidade da cantora e compositora argentina em utilizar de elementos da cultura latina como um componente de transformação para o pop/R&B tradicional. Talvez, por isso, quando deu vida ao primeiro álbum de estúdio da carreira, Crawl Space (2017), a artista que reside em Vancouver, no Canadá, foi recebida de forma bastante fria pelo público e crítica. Longe da sonoridade orgânica detalhada em Saudade EP (2013) e Verde EP (2015), Teicher decidiu investir na composição de um repertório marcado pela forte temática eletrônica, como uma propositada fuga dos primeiros registros autorais.

Satisfatório perceber nas canções de La Linda (2019, Downtown), segundo e mais recente álbum de estúdio da cantora, um parcial regresso a esse mesmo território criativo que apresentou o trabalho de Tei Shi. Com produção assinada em parceria com nomes com David Sitek (Yeah Yeah Yeahs, TV On The Radio), Daniel Lynas (A$ap Rocky, Neon Hitch) e Noah Breakfast (Big Sean, Wet), o registro de 11 faixas ganha forma aos poucos, costurando incontáveis camadas instrumentais e melodias que apontam para diferentes campos da música.

Exemplo disso está na curiosa A Kiss Goodbye. Uma das primeiras composições do disco a ser apresentada ao público, a canção de essência minimalista ganha forma em meio a batidas e teclados que flertam de maneira doce com a bossa nova. “Quando eu era jovem / Eu pensei que sabia tudo / Isso foi antes de eu me apaixonar“, confessa enquanto parece apontar para a obra de Astrud Gilberto. Instantes de profunda leveza, estrutura que naturalmente dialoga com o som de Kali Uchis, Empress Of e outras representantes recentes da música pop que tem se especializado na utilização de ritmos latinos.

O mesmo direcionamento criativo acaba se refletindo na melancólica Matando. Com versos cantados em espanhol, a canção alcança um ponto de equilíbrio entre o repertório dançante detalhado em Crawl Space e as composições apresentadas nos primeiros EPs de Tei Shi. “Dime, ¿por qué lo sigo amando? … Mi amor, tu amor me está matando / Me voy, me estoy debilitando / A pesar de que te quiera tanto“, desaba emocionalmente enquanto batidas e sintetizadores convidam o ouvinte a dançar. Instantes de profunda entrega sentimental, proposta que se reflete até a faixa de encerramento do disco, a dolorosa We.

Mesmo dentro desse universo tão intimista, Teicher estabelece pequenas brechas criativas em que se permite dialogar com o trabalho de outros artistas. É o caso de Even If It Hurts, composição em que estreita a relação com o R&B dos anos 1980, fazendo da interferência direta de Blood Orange um natural complemento para a canção. Colaboradores de longa data, os dois artistas transportam para dentro de estúdio a mesma atmosfera detalhada em Hope, uma das principais faixas lançadas em Negro Swan (2018). Instantes de pura nostalgia, estímulo para a também sensível Red Light, canção que parece saída de algum disco do Desitny’s Child ou Aaliyah.

Marcado pela completa leveza dos arranjos, melodias e vozes, proposta evidente em músicas como Alone In The Universe, La Linda mostra Tei Shi e sua melhor fase. Ainda que pareça apontar para diferentes direções criativas, indo do R&B à bossa nova, do pop à música eletrônica, sobrevive na força dos sentimentos compartilhados pela cantora um importante elemento de conexão entre as faixas. Composições geradas a partir de memórias, desilusões e experiências recentes vividas pela própria artista, cuidado que se reflete tão logo o disco tem início, na atmosférica Addict, e segue até o último instante da obra.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.