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Crítica

Lower Dens

: "The Competition"

Ano: 2019

Selo: Ribbon

Gênero: Indie, Rock Alternativo, Synthpop

Para quem gosta de: Chromatics e Beach House

Ouça: Two Face Love, I Drive e Real Thing

7.0
7.0

“The Competition”, Lower Dens

Ano: 2019

Selo: Ribbon

Gênero: Indie, Rock Alternativo, Synthpop

Para quem gosta de: Chromatics e Beach House

Ouça: Two Face Love, I Drive e Real Thing

/ Por: Cleber Facchi 13/09/2019

Mesmo tenha conquistado notoriedade ao lado de diferentes músicos, desde sua formação, o Lower Dens sempre foi encarado como um projeto solo de Jana Hunter. E não poderia ser diferente. Seja na estreia, com Twin-Hand Movement (2010), ou no amadurecimento criativo de Escape from Evil (2015), o cantor e compositor norte-americano tem feito dos próprios conflitos e experiências particulares a base para cada novo registro autoral. São músicas ancoradas em relacionamentos fracassados, instantes de profunda melancolia e versos existencialistas, proposta que ganha ainda mais destaque nas canções de The Competition (2019, Ribbon).

Primeiro trabalho de inéditas do Lower Dens em quatro anos, o registro que conta com produção assinada pelo próprio artista utiliza de memórias da infância e reflexões sobre a vida em uma família conservadora como principal componente criativo para a formação dos versos. São músicas de essência contemplativa, por vezes intimistas, como um mergulho na mente e principais desilusões do músico, conceito anteriormente testado nas canções de Nootropics (2012), segundo álbum de estúdio do grupo de Baltimore.

Os problemas que moldaram minha vida, para o bem ou para o mal, têm a ver com a vinda de uma família que adotou totalmente essa cultura da mentalidade competitiva. Eu era selvagem e com muita dor quando criança; a vida em casa era sombria, e as canções pop eram uma fuga garantida para um espaço mental onde a beleza, a maravilha e o amor eram possíveis. Eu queria escrever músicas que transmitissem isso“, escreveu no texto de apresentação do trabalho. Não por acaso, The Competition se projeta como um delicado olhar para o passado, proposta que ultrapassa os limites dos versos e se reflete na forma como Hunter explora os arranjos do disco.

Como indicado durante o lançamento de Real Thing, primeiro single do álbum, The Competition é um trabalho que encontra no pop dos anos 1980 o principal alicerce melódico da obra. São camadas de sintetizadores, batidas ecoadas e programações eletrônicas que apontam para diferentes clássicos do gênero. Uma tentativa clara de Hunter em mais uma vez revisitar o passado, conceito que tem sido aprimorada pelo musicista norte-americano desde o lançamento de Escape from Evil, há quatro anos.

Com base nessa estrutura, Hunter entrega desde faixas que sutilmente adaptam parte do material entregue nos últimos discos do Lower Dens, como Two Faced Love e Galapagos, até músicas em que se apropria de diversos elementos nostálgicos de forma caricatural. É o caso de I Drive, música dominada pelo uso de sintetizadores e guitarras deliciosamente dançantes, como uma tentativa clara do artista em emular parte do som produzido há quase quatro décadas. O mesmo resultado acaba se refletindo em músicas como Lucky People e a crescente Simple Life, composição que parece resgatada de algum disco do New Order.

Pensado para além do criativo resgate de tendências e fórmulas instrumentais, The Competition talvez seja o trabalho mais sensível já produzido pelo Lower Dens. Do momento em que tem início, em Galapagos, passando por faixas como Hand of God, Two Faced Love, Simple Life e In Your House, perceba como Hunter utiliza de memórias e experiências particulares como um delicado estímulo para a composição dos versos, se revelando por completo. Canções que vão da memórias infância ao recente processo de transição de gênero vivido pelo artista.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.