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Crítica

The Flaming Lips

: "American Head"

Ano: 2020

Selo: Warner / Bella Union

Gênero: Rock Psicodélico, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Mercury Rev e Grandaddy

Ouça: You n Me Sellin’ Weed, Flowers Of Neptune 6 e Mother Please Don't Be Sad

7.8
7.8

The Flaming Lips: “American Head”

Ano: 2020

Selo: Warner / Bella Union

Gênero: Rock Psicodélico, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Mercury Rev e Grandaddy

Ouça: You n Me Sellin’ Weed, Flowers Of Neptune 6 e Mother Please Don't Be Sad

/ Por: Cleber Facchi 18/09/2020

Com o lançamento de The Soft Bulletin (1999), Wayne Coyne e seus parceiros deram início a uma nova fase na carreira do The Flaming Lips. Longe do experimentalismo testado em Transmissions from the Satellite Heart (1993) e Zaireeka (1997), o grupo parecia investir em uma sonoridade cada vez mais acessível, como um avanço em relação ao material entregue em Clouds Taste Metallic (1995), reencontro com o produtor Dave Fridmann, com quem o coletivo havia colaborado anos antes. Um precioso exercício criativo que se reflete não apenas no tratamento dado aos arranjos, mas, principalmente, nos versos explorados em cada fragmento da obra.

É partindo justamente desse mesmo direcionamento estético que a banda de Oklahoma investe na produção do 16º trabalho de estúdio da carreira, American Head (2020, Warner / Bella Union). Concebido em um intervalo de poucas semanas, o álbum finalizado no início deste ano traz de volta o que há de mais delirante e mágico na obra do coletivo norte-americano. São baladas psicodélicas que se espalham em meio a incontáveis camadas de guitarras, sintetizadores e vozes carregadas de efeitos, como um passeio pela mente insana de Coyne, personagem central da própria obra.

Mãe por favor não fique triste / Eu não queria morrer esta noite / Mas aqueles ladrões foram tão rápidos / Suas armas e sua raiva, eu perdi a luta“, canta em Mother Please Don’t Be Sad, música em que resgata memórias de um passado distante, quando foi rendido por um grupo de assaltantes e esteve próximo da morte. São fragmentos reais, produto das memórias e experiências vividas pelo compositor, porém, sempre imersas em ambientações delirantes. É como se sonho e realidade se confundissem a todo momento, tornando a experiência de ouvir o álbum sempre imprevisível.

Exemplo disso acontece logo nos primeiros minutos do disco, em Will You Return / When You Come Down. São pouco mais de cinco minutos em que Coyne e seus parceiros de banda vão da doce lisergia à sobriedade dos temas em uma melancólica reflexão sobre a passagem do tempo, consumo de drogas e amigos que morreram de overdose. Um misto de celebração e dor, dualidade explícita em The Soft Bulletin e outros registros entregues pelo grupo ao longo dos anos, como Yoshimi Battles the Pink Robots (2002) e The Terror (2013), mas que ganha novo enquadramento dentro do presente disco.

Claro que isso não interfere na produção de faixas marcadas por narrativas inexatas e personagens criados pela mente insana de Coyne. É o caso de You N’ Me Sellin’ Weed. Enquanto transforma a própria voz em um instrumento, o músico narra as aventuras psicodélicas de um casal que vende maconha. “Você e eu vendendo maconha / Acho que tenho tudo o que preciso / Com você como minha garota / Parece que estou governando o mundo“, canta. O mesmo direcionamento acaba se refletindo em outros momentos ao longo da obra, vide o material apresentado em Dinosaurs On The Mountain e When We Die When We’re High.

Completo pela participação de Kacey Musgraves, em Flowers Of Neptune 6 e God and the Policeman, American Head cresce como o trabalho mais coeso do grupo de Oklahoma em anos. Mesmo imerso em um cenário de formas inexatas e poemas consumidos pela lisergia dos temas, Coyne e seus parceiros parecem livres da fórmula desequilibrada que pareciam orientar os últimos registros de inéditas, caso do ainda recente King’s Mouth (2019) e Oczy Mlody (2017). Pouco mais de 50 minutos em que somos convidados a embarcar em uma viagem marcada pelo surgimento de personagens e acontecimentos fantásticos, mas que em nenhum momento se entregam aos excessos.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.