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Crítica

Beyoncé

: "The Lion King: The Gift"

Ano: 2019

Selo: Columbia / Parkwood

Gênero: R&B, Pop, Hip-Hop

Para quem gosta de: Rihanna, Kendrick Lamar e Solange

Ouça: Brown Skin Girl, Nile e My Power

7.0
7.0

“The Lion King: The Gift”, Beyoncé

Ano: 2019

Selo: Columbia / Parkwood

Gênero: R&B, Pop, Hip-Hop

Para quem gosta de: Rihanna, Kendrick Lamar e Solange

Ouça: Brown Skin Girl, Nile e My Power

/ Por: Cleber Facchi 25/07/2019

Convidada a interpretar o papel de Nala, na refilmagem da Disney para O Rei Leão (2019), Beyoncé poderia facilmente cumprir suas funções como qualquer artista, passar um dia em estúdio para a captação das vozes e, posteriormente, descansar. Entretanto, a cantora e compositora norte-americana decidiu ir além. Depois de contribuir com as dublagens do longa, a artista cercou-se de colaboradores, antigos e recentes, para revelar ao público o complementar The Lion King: The Gift (2019, Columbia / Parkwood), uma coletânea de músicas inéditas que serve de reforço à trilha sonora do filme.

Marcado pela força das batidas e permanente diálogo com elementos da cultura africana, conceito reforçado pela inserção de trechos do próprio filme, o trabalho de 27 faixas, 13 delas vinhetas, segue exatamente de onde Beyoncé parou nos últimos dois álbuns de estúdio em carreira solo, o autointitulado registro de 2013 e Lemonade (2016). São variações instrumentais e poéticas tratadas em uma estrutura crescente, indicativo da força criativa e completa entrega da artista durante toda a execução da obra.

Entretanto, para além de músicas impactantes, como Bigger, Find Your Way Back e Otherside, assumidas individualmente pela própria artista, sobrevive no encontro com colaboradores vindos de diferentes campos da música a real beleza da obra. São faixas como a bem-sucedida Mood 4 Eva, canção que se abre para a chegada do rapper Jay-Z, marido da cantora, e Childish Gambino, responsável por interpretar o papel de Simba, protagonista da obra, na presente refilmagem. Um misto de canto e rima, como uma continuação do material entregue há poucos meses, em Everything Is Love (2018), no paralelo The Carters.

Nada que se compare ao encontro com um time de vozes femininas em My Power. Difícil não lembrar da boa fase de M.I.A., em Arular (2005) e Kala (2007), estímulo para a colisão de batidas e versos rápidos que se abrem para a chegada de Tierra Whack, Busiswa, Moonchild Sanelly e Nija. Em Nile, décima composição do disco, uma fuga de possíveis excessos que ainda revela um dos mais belos encontros entre Beyoncé e Kendrick Lamar. Mesmo Scar, com sua dramaticidade explícita, encanta pela forma como 070 Shake e Jessie Reyez invadem a canção, dando novo direcionamento ao trabalho.

Dentro desse universo marcado pela criativa troca de experiências e ritmos, diferentes representantes do pop africano assumem um papel de destaque. São faixas como Don’t Jealous Me, ponto de partida para a colaboração entre os nigerianos Tekno, Yemi Alade e Mr Eazi. O mesmo cuidado acaba se refletindo na ancestralidade que embala os versos e atmosfera de Brown Skin Girl, canção completa pela presença de Saint Jhn e Wizkid, mas que chama a atenção pela breve interferência de Blue Ivy Carter, filha de Beyoncé, na abertura e fechamento da canção.

Naturalmente maior do que a própria tentativa da Disney em replicar o sucesso da versão original de O Rei Leão, alterando poucos elementos da trama original, The Lion King: The Gift reflete a tentativa de Beyoncé em se reinventar dentro de estúdio, mesmo preservando em uma série de conceitos há muito consolidados pela própria artista. Trata-se de um minucioso exercício de estilo, reflexo da boa fase da cantora, também responsável ótimo Homecoming: The Live Album (2019), entregue ao público há poucos meses.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.