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Crítica

The New Pornographers

: "In the Morse Code of Brake Lights"

Ano: 2019

Selo: Concord

Gênero: Indie Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Broken Social Scene e The Shins

Ouça: Falling Down the Stairs of Your Smile

7.5
7.5

The New Pornographers: “In the Morse Code of Brake Lights”

Ano: 2019

Selo: Concord

Gênero: Indie Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Broken Social Scene e The Shins

Ouça: Falling Down the Stairs of Your Smile

/ Por: Cleber Facchi 22/10/2019

Não seria uma surpresa se depois de duas décadas de carreira os integrantes do The New Pornographers sufocassem em uma sequência de obras repetitivas ou pouco inspiradas. Entretanto, longe de qualquer sinal de cansaço, sobrevive na constante produção do grupo canadense o estímulo para uma seleção de obras marcadas pelo evidente refinamento lírico e instrumental. Um som cuidadoso que se reflete em toda a sequência de álbuns entregues pelo grupo na última década, como Together (2010), Brill Bruisers (2014) e Whiteout Conditions (2017), mas que alcança novo resultado nas canções de In the Morse Code of Brake Lights (2019, Concorde).

Hoje formado por Kathryn Calder, Neko Case, John Collins, Todd Fancey, Carl Newman, Joe Seiders, Blaine Thurier e Simi Stone, o coletivo que estreou com Mass Romantic (2000), no início da década passada, encontra no rock da década de 1960 o estímulo para cada uma das 11 músicas que recheiam o presente álbum. Do momento em que tem início, em You’ll Need a New Backseat Driver, até alcançar a faixa de encerramento do disco, Leather On the Seat, evidente é o esforço do grupo canadense em reciclar uma série de conceitos há muito consolidados por diferentes nomes da música pop.

Exemplo disso está logo na abertura do álbum, em The Surprise Knock. São vozes em coro, sempre alternadas entre A.C. Newman e Neko Case, guitarras pontuais e sintetizadores destacados, como um complemento direto à poesia ensolarada da canção. “À deriva, como náufragos adequados / Não precisava de uma guerra, mas é aqui que eu diria / Então sorria grande até deixar claro / Podemos estar em algo aqui / E então a surpresa bate na sua porta“, celebra. Pouco mais de três minutos em que o coletivo canadense resgata as melodias de veteranos como The Beatles e The Zombies, prendendo a atenção do ouvinte sem grandes dificuldades.

A mesma relação com o passado acaba se refletindo em outros momentos no decorrer da obra. São faixas como a balada You Won’t Need Those Where You’re Going ou o pop crescente de One Kind of Solomon em que o grupo preserva a essência dos antigos trabalhos, porém, se permite provar de uma série de elementos consolidados há mais de cinco décadas. Um misto de passado e presente que orienta a experiência do ouvinte até a derradeira Leather On The Seat, canção que faz lembrar as orquestrações detalhadas em clássicos como Revolver (1966), efeito direto da interferência de Simi Stone, musicista que assume a posição deixada pelo ex-integrante Dan Bejar (Destroyer).

Dos poucos momentos em que perverte essa estrutura, a banda se permite transitar por entre gêneros e sonoridades conceitualmente distintas, costurando diferentes fórmulas instrumentais. É o caso de Falling Down the Stairs of Your Smile, canção que parte de uma linha de baixo suculenta, íntima do pop dos anos 1980, para mergulhar em uma solução de vozes sobrepostas e guitarras enérgicas, típicas do power pop. Surgem ainda faixas como Need Some Giants e a já citada You’ll Need a New Backseat Driver, canção que parece resgatada dos primeiros trabalhos do grupo, como o clássico Twin Cinema (2005).

Coeso, como tudo aquilo que o The New Pornographers tem produzido desde o início da carreira, In the Morse Code of Brake Lights sutilmente passeia por entre gêneros, sonoridades e diferentes conceitos de forma atrativa, como se cada composição detalhada pelo grupo servisse de passagem para um novo universo criativo. São variações instrumentais e poéticas que refletem o cuidado de cada integrante da banda na composição do trabalho. Um reduzido conjunto de faixas que preserva a identidade criativa do coletivo norte-americano, porém, em nenhum momento tende ao óbvio, cuidado que orienta a experiência do ouvinte até a última nota.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.