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Crítica

Helado Negro

: "This Is How You Smile"

Ano: 2019

Selo: RVNG Intl.

Gênero: Indie, Folk, Música Latina

Para quem gosta de: Devendra Banhart e Sufjan Stevens

Ouça: Running e Pais Nublado

8.5
8.5

“This Is How You Smile”, Helado Negro

Ano: 2019

Selo: RVNG Intl.

Gênero: Indie, Folk, Música Latina

Para quem gosta de: Devendra Banhart e Sufjan Stevens

Ouça: Running e Pais Nublado

/ Por: Cleber Facchi 12/03/2019

Quem há tempos acompanha o trabalho de Roberto Carlos Lange como Helado Negro sabe que o músico norte-americano encontrou na fragmentação da própria identidade a base para um rica seleção de obras. Do experimentalismo que embala as canções do inaugural Awe Owe (2009), passando pelo uso de referências eletrônicas, em Invisible Life (2013), ao refinamento melódico de Private Energy (2016), cada novo registro entregue pelo artista de Miami, Flórida encanta pela completa imprevisibilidade dos elementos e fórmulas instrumentais.

Interessante perceber nas canções de This Is How You Smile (2019, RVNG Intl.), sexto e mais recente álbum de estúdio de Helado Negro, um propositado distanciamento desse mesmo universo criativo. Trabalho mais acessível já produzido pelo músico norte-americano, o registro encontra na leveza dos arranjos, melodias e vozes a passagem para um ambiente de emanações acolhedoras, como se Lange dosasse o próprio delírio, confortando o ouvinte a cada nova composição.

Síntese dessa transformação ecoa com naturalidade logo nos primeiros minutos do disco, em Please Won’t Please. São ambientações eletrônicas, batidas e pequenas variações instrumentais que se revelam ao público em pequenas doses, sem pressa, estrutura que lembra uma versão polida do som produzido por Arthur Russel em World of Echo (1986). Um evidente comprometimento estético que se reflete até o último instante da obra, em My Name Is for My Friends, composição montada a partir de captações de campo e ruídos, conceito também explorado na curtinha Echo for Camperdown Curio.

Entretanto, para além da rica estrutura melódica que embala o trabalho, This Is How You Smile encanta pela forma como Lange transforma os próprios sentimentos em música. Entre versos bilíngues, o artista norte-americano busca inspiração em memórias da infância, conflitos e instantes de profunda celebração e melancolia relacionados ao crescimento em uma família de imigrantes. Tamanha sensibilidade faz do registro um trabalho que não apenas dialoga com uma parcela maior do público, como se faz necessário, projetando uma resposta ao atual cenário político dos Estados Unidos.

Porque eu te sinto / Em minha mente / O tempo todo / Porque eu vi você / Nas minhas mãos / Todos os dias“, canta na nostálgica Running, música em que resgata parte dessas memórias de forma melancólica, direcionamento que muito se assemelha ao trabalho de Sufjan Stevens em Carrie & Lowell (2015). A mesma poesia triste ecoa com naturalidade na minimalista Pais Nublado e, principalmente, em Todo Lo Que Me Falta, composição que parece apontar para o mesmo universo criativo explorado por Lange em Private Energy.

Trabalho mais completo do músico até aqui, This Is How You Smile preserva a essência dos últimos discos produzidos pelo cantor, porém, se permite provar de novas possibilidades, avançando criativamente. Da construção dos versos, sempre sensíveis, passando pela minúcia na composição dos arranjos, difícil não se deixar conduzir pela doce atmosfera que embala o registro. Trata-se de um evidente ponto de maturação na carreira do músico norte-americano, como se do material detalhado durante o lançamento do álbum anterior, Lange fosse capaz de ir além.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.